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Oposição embola votações e dificulta acordão pró-Renan
Tucano, relator de processo contra peemedebista na CCJ, decide atrasar tramitação
Objetivo da manobra é fazer com que votações de CPMF e cassação de Renan sejam simultâneas, o que mina o pacto velado de PMDB e PT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para tentar embolar a votação da prorrogação da CPMF (o
imposto do cheque) com o pedido de cassação do senador
Renan Calheiros (PMDB-AL)
no plenário, a oposição retardou a apresentação do parecer
sobre o caso na CCJ (Comissão
de Constituição e Justiça), o
que deverá adiar o desfecho do
processo contra o peemedebista para a próxima semana.
A manobra foi costurada pelo
presidente da CCJ, Marco Maciel (DEM-PE), e pelo líder do
PSDB, Arthur Virgílio (AM),
que acabou nomeado para relatar o caso na comissão. A expectativa era que o tucano apresentasse seu relatório amanhã.
O caso sob análise da CCJ é o
referente à suposta sociedade
entre Renan e o usineiro João
Lyra para a aquisição de rádios
e um jornal em Alagoas. Na semana passada, o Conselho de
Ética aprovou o pedido de cassação por 11 votos a 3.
O prazo regimental para que
o tucano leia seu relatório é de
dez dias. Mas, pela tradição na
Casa, quando um processo é
aprovado com folga no conselho o papel da CCJ é protocolar,
enviando o caso para o plenário
rapidamente. Se Virgílio seguisse o "script", o processo seria votado no plenário na quinta. "Inocentemente, a gente pôs
água nesse chope", diz Virgílio.
O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC),
marcou uma reunião de líderes
hoje para tentar pressionar
Virgílio a rever sua posição. A
saída possível é se algum líder
apresentar um requerimento
de urgência para que o calendário anterior seja cumprido.
A licença de Renan da presidência expira no domingo.
Com a manobra da oposição,
ele tem duas escolhas: ou renova sua licença até sexta-feira ou
renuncia ao cargo.
Nos bastidores, a estratégia
da oposição visa implodir um
suposto acordo costurado entre PMDB e PT para salvar o
mandato de Renan em troca de
votos para aprovar a emenda
que prorroga a CPMF até 2011.
Pelo trato, a tendência é que
a bancada do PT optaria por se
abster na votação secreta, o que
beneficiaria o peemeebista. A
líder do PT, Ideli Salvatti (SC),
negou o acordo. "Não tem acordão nem acordinho, não tem
cabimento essa história", disse.
Com o adiamento do desfecho do caso na CCJ, o caso Renan acabará colidindo com a
tramitação da CPMF no plenário. A previsão é que a emenda
seja votada em primeiro turno
no plenário na primeira semana de dezembro. "A intenção da
oposição é aproximar os dois
problemas, e é intenção do governo separá-los", disse Ideli.
Antes de saber da manobra,
Renan havia comunicado os
aliados da base governista de
que anunciaria sua renúncia ao
posto em discurso na sessão de
quinta, como um gesto para angariar votos de última hora.
Além disso, ele trabalha nos
bastidores para tentar emplacar Edison Lobão (PMDB-MA)
como seu sucessor, numa articulação com a chancela de José
Sarney (PMDB-AP). Ele também avisou na semana passada
à bancada do PMDB e ao Planalto que não pretende voltar à
presidência. Ao saber da decisão de Virgílio, porém, fez circular a informação de que poderia rever sua decisão.
A oposição ameaça lançar
candidato à presidência ou
apoiar um peemedebista não-alinhado ao governo. "Arranjem um concorrente que a gente não tenha o que falar dele, senão haverá disputa", disse Virgílio.
(SILVIO NAVARRO, ANDREZA MATAIS E MARIA LUIZA RABELLO)
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