São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

O troco

Em resposta à decisão do STF que abortou o aumento de 91% autoconcedido pelos parlamentares, líderes do Congresso dizem que as "reformas moralizadoras" para economizar R$ 157 milhões, anunciadas na semana passada, vão virar pó caso a equiparação salarial com os ministros do Supremo não vingue. O próprio presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), tem sugerido que a disposição para cortar diárias, viagens e horas extras diminuirá se o salário subir para "apenas" R$ 16.500. Outra vítima será o enquadramento dos congressistas que, por acúmulo de outras remunerações, ganham acima do teto constitucional de R$ 24.500. "Sem a equiparação, tudo se perde", lamenta Ciro Nogueira (PP-PI), da Mesa Diretora.

No aguardo. A compra de 11 carros para a direção da Câmara, a um custo de R$ 919 mil, não foi cancelada, mas apenas adiada, segundo o "Diário Oficial" de ontem. A licitação ocorrerá "em data a ser posteriormente fixada".

Escalonado. Aldo Rebelo recebeu de alguns deputados, na semana passada, a sugestão de parcelar os 91% ao longo dos quatro anos da nova legislatura. Preferiu arriscar tudo de uma vez, supondo que o desgaste seria menor.

Outras palavras. O líder da bancada do PTB na Câmara, José Múcio (PE), afirma ter previsto a "fuga dos sérios" -e não "de cérebros"- do Congresso caso seja mantido o atual patamar salarial.

Eu também. Renato Casagrande (PSB) procurou a imprensa para "lembrar" que assinou o mandado de segurança contra o superaumento. Não foi pessoalmente ao STF, mas mandou procuração.

Guilhotina. De Gustavo Fruet (PSDB-PR), sobre a frustrada tentativa dos parlamentares de dobrar o próprio salário: "Foi assim que começou a Revolução Francesa".

Na mão. Decidido a passar por um protesto contra os 91% em frente ao teatro Guaíra, onde os eleitos do Paraná estavam sendo diplomados, o deputado Reinhold Stephanes (PMDB) foi às vias de fato com os manifestantes.

Contágio. Ao chegar à cerimônia de diplomação em Minas, Júlio Delgado (PSB) foi direto ao cerimonial do TRE para perguntar se os lugares no auditório haviam sido distribuídos por ordem alfabética. Diante da resposta positiva, o deputado trocou de cadeira para não ficar ao lado do enrolado Juvenil Alves (PT).

Há vaga. Rolf Hackbart não deve continuar na presidência do Incra. O cargo é uma espécie de reserva de mercado da esquerda petista.

Férias frustradas. Márcio Thomaz Bastos, que começará 2007 ainda como ministro da Justiça a pedido de Lula, planejava viajar no dia 2 de janeiro para sua casa no Guarujá (SP). "Não vejo a hora de parar", chegou a dizer a um amigo na semana passada.

Largada. No minipacote econômico a ser anunciado amanhã, Lula vai listar cerca de 15 obras para eliminar gargalos de infra-estrutura. O setor energético será "prioridade das prioridades". O item "novas usinas nucleares", porém, ainda está em debate.

Vermelho. O PT não conseguirá cumprir a meta de zerar as dívidas da campanha de Lula até o dia 31. Empresários que haviam se disposto a cobrir o rombo de R$ 10 milhões têm alegado gastos extras de fim de ano para empurrar as contribuições para 2007.

Em caixa. Sem dinheiro para investir a partir de janeiro, o governador reeleito Luiz Henrique (PMDB) concluiu ontem às pressas o leilão das contas do funcionalismo de Santa Catarina, que passarão do Besc para o Bradesco. A transação, marcada por uma série de contestações judiciais, rendeu R$ 210 milhões.

Tiroteio

"A revolta contra o aumento é justa. Mas, se queremos uma República de verdade, é hora de questionar também os salários do Judiciário".
Do deputado CARLITO MERSS (PT-SC) sobre a reação da opinião pública à equiparação do salário dos deputados ao dos ministros do Supremo, que na prática dobraria a remuneração dos parlamentares.

Contraponto

Chance perdida

No domingo, o deputado estadual Ítalo Cardoso resolveu comprar mangas em uma feira no Jardim Míriam, zona sul paulistana. Ao parar na barraca de frutas, o petista foi imediatamente reconhecido pela feirante, sua eleitora.
-Que pena, seu "Ito", que o senhor não conseguiu se eleger deputado federal...
Cardoso ainda tentava entender o sentido do comentário quando a feirante completou seu raciocínio:
-Olha só o salarião que o senhor perdeu!
Antes que o público em volta manifestasse opinião sobre o superaumento autoconcedido pelos parlamentares, o petista achou melhor pagar as mangas e ir para casa.


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