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STF derruba liminares que suspendiam transposição
Ministério da Integração Nacional pretende iniciar obras no São Francisco em janeiro
Foram derrubadas pelo Supremo mais de dez ações que alegavam riscos sociais e ambientais, escassez de água e falhas no projeto
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Suspensa há mais de um ano,
a transposição do rio São Francisco -megaobra de mais de
R$ 4 bilhões- ganhou ontem
sinal verde do STF (Supremo
Tribunal Federal) para seguir
adiante. Defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
como uma das marcas de sua
gestão, o projeto foi alvo de
ações movidas na Justiça por
entidades da sociedade civil,
procuradores federais e pelos
Estados da Bahia e de Sergipe.
O despacho assinado pelo
ministro Sepúlveda Pertence
derrubou mais de dez ações
contrárias ao projeto e liberou
o Ibama (Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis) para conceder a licença de instalação,
último pré-requisito para o início das obras.
O ministro Pedro Brito (Integração Nacional) prevê para janeiro o lançamento do edital
para a construção de 700 quilômetros de canais de concreto
que levarão uma parcela das
águas do São Francisco para
quatro Estados -Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte
e Paraíba. O projeto será dividido em 14 lotes de obras, que poderão ser ganhos por uma única empreiteira. A licitação de
R$ 3,3 bilhões é uma dos maiores negócios do governo Lula.
"Com a decisão do Supremo,
vamos poder iniciar as obras na
primeira quinzena de janeiro",
afirmou o ministro. A primeira
etapa do projeto, de captação
das águas do São Francisco nas
barragens de Cabrobó e Itaparica, será executada pelo Batalhão de Engenharia do Exército, independentemente da conclusão do processo de licitação.
O despacho do ministro Sepúlveda Pertence derrubou, de
uma vez, liminares que alegavam sobretudo riscos ambientais e sociais da obra, a falta de
disponibilidade de água e falhas
no projeto de transposição.
A principal oposição à obra
partia da Bahia. Na tentativa de
suspender o projeto, o bispo de
Barra (BA), Luiz Flávio Cappio,
fez greve de fome de dez dias
em setembro de 2005. Logo depois, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual da Bahia obtiveram liminares para paralisar o projeto.
Sem dinheiro
Para seguir adiante, a transposição do São Francisco dependerá também de uma autorização extra de gastos em
2007. O projeto de lei do Orçamento do ano que vem chegou
ao Congresso com uma dotação
"simbólica" de pouco mais de
R$ 100 milhões para a obra.
Esse valor ainda foi reduzido
no debate parlamentar. "Vamos ter tempo [para obter o
crédito extraordinário]. A licitação deve demorar de três a
quatro meses", avaliou o ministro Pedro Brito.
Já contando com a liberação
da obra pelo STF depois das
eleições, o governo preparou o
lançamento imediato de edital
para contratar o detalhamento
do projeto básico da transposição. O edital de cerca de R$ 90
milhões deverá ser lançado na
próxima semana.
Nos dois últimos anos, a
transposição custou aos cofres
públicos cerca de R$ 500 milhões. A maior parte do dinheiro foi pago ao consórcio contratado para gerenciar o projeto, a
começar pela negociação das licenças ambientais. Antes de a
obra ser suspensa pela Justiça,
o governo chegou a pagar indenizações a uma pequena parcela das famílias que terão terras
desapropriadas para a passagem dos canais de concreto.
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