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São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 2003

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Esquerda francesa vê modelo em Lula

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

A vitória de Lula está sendo encarada por políticos na França como uma inspiração ou um modelo para o sucesso da esquerda no país. A discussão, que vinha sendo ventilada nos jornais franceses indiretamente, antes mesmo de confirmada a vitória de Lula, eclodiu ontem no jornal "Le Monde".
"A esquerda [francesa] pode tirar lições do modelo brasileiro?", pergunta a manchete da reportagem de página inteira do mais conceituado jornal do país. O deputado socialista Jean-Christophe Cambadélis, amigo de Luís Favre, é o entrevistado mais convicto da pertinência do "modelo" brasileiro. "O caso Lula traz uma interrogação para toda a esquerda e sobretudo a extrema-esquerda", diz ele, que considera que "há matéria de reflexão no Brasil" para os partidos desta tendência.
Uma das causas da derrota do ex-primeiro-ministro Lionel Jospin (PS) à Presidência do país foi a divisão da esquerda e da extrema-esquerda francesas em variados partidos, deixando sem apoio o candidato socialista, explica o cientista político Jean-Michel Blanquer, diretor do Instituto de Altos Estudos sobre a América Latina. "O PT tem uma liderança sobre a esquerda muito maior que o PS francês", diz ele.
A maneira como o PT conseguiu agremiar as principais tendências de esquerda em torno de Lula é o que mais interessa aos socialistas, que agora se debatem para formar uma força única de esquerdas. Foi o que conseguiu, à direita, o presidente Jacques Chirac, logo após sua reeleição, através da UMP (União pela Maioria Presidencial, atual União por um Movimento Popular), que tem maioria no Parlamento.
O primeiro-secretário do Partido Socialista, François Hollande, prefere não utilizar o termo "modelo brasileiro", diz ele ao "Monde". "Por outro lado, o processo que permitiu a vitória de Lula é interessante. A esquerda brasileira era dispersa, sem cultura de coalizão, mas com uma cultura de competição. E foram as eleições presidenciais que provocaram a reunião da esquerda no Brasil, como [François] Mitterrand fez em 1981", disse o socialista.
Para Hollande, "foi a postura muito à esquerda [de Lula" que o impediu de ganhar nas suas várias tentativas anteriores". Membros do PS agora se esforçam para que o PT entre para a Internacional Socialista (IS), agremiação de partidos dessa tendência política.
Em outros partidos de esquerda, a comparação com o Brasil gera cautela e suscita nos entrevistados do "Le Monde" a chance de cutucar o PS. "Lula, diferentemente dos sociais-democratas europeus, é sensível à pressão popular", diz Olivier Besancenot, da Liga Comunista Revolucionária.


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