|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Esquerda francesa vê modelo em Lula
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
A vitória de Lula está sendo encarada por políticos na França como uma inspiração ou um modelo para o sucesso da esquerda no
país. A discussão, que vinha sendo ventilada nos jornais franceses
indiretamente, antes mesmo de
confirmada a vitória de Lula, eclodiu ontem no jornal "Le Monde".
"A esquerda [francesa] pode tirar lições do modelo brasileiro?",
pergunta a manchete da reportagem de página inteira do mais
conceituado jornal do país. O deputado socialista Jean-Christophe
Cambadélis, amigo de Luís Favre,
é o entrevistado mais convicto da
pertinência do "modelo" brasileiro. "O caso Lula traz uma interrogação para toda a esquerda e sobretudo a extrema-esquerda", diz
ele, que considera que "há matéria de reflexão no Brasil" para os
partidos desta tendência.
Uma das causas da derrota do
ex-primeiro-ministro Lionel Jospin (PS) à Presidência do país foi a
divisão da esquerda e da extrema-esquerda francesas em variados
partidos, deixando sem apoio o
candidato socialista, explica o
cientista político Jean-Michel
Blanquer, diretor do Instituto de
Altos Estudos sobre a América
Latina. "O PT tem uma liderança
sobre a esquerda muito maior
que o PS francês", diz ele.
A maneira como o PT conseguiu agremiar as principais tendências de esquerda em torno de
Lula é o que mais interessa aos socialistas, que agora se debatem
para formar uma força única de
esquerdas. Foi o que conseguiu, à
direita, o presidente Jacques Chirac, logo após sua reeleição, através da UMP (União pela Maioria
Presidencial, atual União por um
Movimento Popular), que tem
maioria no Parlamento.
O primeiro-secretário do Partido Socialista, François Hollande,
prefere não utilizar o termo "modelo brasileiro", diz ele ao "Monde". "Por outro lado, o processo
que permitiu a vitória de Lula é
interessante. A esquerda brasileira era dispersa, sem cultura de
coalizão, mas com uma cultura de
competição. E foram as eleições
presidenciais que provocaram a
reunião da esquerda no Brasil, como [François] Mitterrand fez em
1981", disse o socialista.
Para Hollande, "foi a postura
muito à esquerda [de Lula" que o
impediu de ganhar nas suas várias
tentativas anteriores". Membros
do PS agora se esforçam para que
o PT entre para a Internacional
Socialista (IS), agremiação de partidos dessa tendência política.
Em outros partidos de esquerda, a comparação com o Brasil gera cautela e suscita nos entrevistados do "Le Monde" a chance de
cutucar o PS. "Lula, diferentemente dos sociais-democratas europeus, é sensível à pressão popular", diz Olivier Besancenot, da Liga Comunista Revolucionária.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Dirigentes têm passado comum no trotskismo Índice
|