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São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 2003

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Dirigentes têm passado comum no trotskismo

DE PARIS

As relações entre personalidades de esquerda na França e os novos dirigentes brasileiros desperta curiosidade no meio político e jornalístico francês. Não são poucas nem muito claras essas relações, em geral travadas no passado trotskista de cada um deles e em torno da OCI (Organização Comunista Internacionalista), que está na origem de outro PT, o Parti des Travailleurs francês.
"Dirceu era o inimigo de Luís Favre, chamado "Felipe'", conta ao "Monde" o deputado Jean-Christophe Cambadélis. Ligado à corrente trotskista "lambertismo" (do líder Pierre Lambert), Cambadélis rompeu com a tendência ao mesmo tempo que Favre, seu amigo.
Favre, encarregado de promover a revolução na América Latina, era um dos homens de confiança de Lambert. "Dirceu se opunha aos contatos de Lula com os social-democratas. E, por seu lado, Pierre Lambert combatia uma proposição de "Felipe", que desejava entrar na aliança majoritária que Lula tecia", lembra Cambadélis.
Do novo presidente brasileiro, o hoje socialista e ex-trotskista da OCI Jean-Luc Mélenchon recorda: "A última vez que Lula esteve em Paris (abril de 2002), ele veio me ver no Ministério do Ensino Profissional. Ele passou a mão em todos os meus charutos. E me ofereceu um cuco com um pássaro da Amazônia que canta para marcar as horas. Toda noite, quando o cuco dispara, penso nele".
A escolha do trotskista Miguel Rossetto para o Ministério da Reforma Agrária é outro assunto que está gerando interesse nos militantes dessa tendência marxista na Europa. A participação de Rossetto no governo Lula será discutida no congresso da Quarta Internacional, em abril, na Bélgica.
O braço francês da Quarta Internacional é a Liga Comunista Revolucionária. O porta-voz do LCR, Alain Krivine, diz que Rossetto é o "verdadeiro chefe político da Democracia e Socialismo", corrente brasileira da Quarta Internacional. À OCI pertenceu na juventude o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin, cujo nome de militância era "Michel". Tendo escondido seu passado trotskista durante sua carreira, Jospin enfrentou um escândalo político quando ele veio à luz na França.


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