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LEGISLATIVO
Presidente da Câmara desautoriza acordo do chefe da Casa Civil com líderes e atrasa a votação de projeto
João Paulo frustra plano de Dirceu para agilizar convocação
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A estratégia do governo de tentar acelerar os trabalhos da Câmara na convocação extraordinária
foi minada ontem, em parte, pelo
presidente da Casa, deputado
João Paulo Cunha (PT-SP). Ele
desautorizou no plenário acordo
feito pelo ministro José Dirceu
(Casa Civil) com os líderes aliados
horas antes, surpreendendo deputados presentes no encontro.
Dirceu e os líderes partidários
haviam definido, em almoço na
Casa Civil, que uma das prioridades da convocação seria o projeto
da PPP (Parceria Público-Privada) e acertaram que tentariam votá-lo hoje no plenário da Câmara.
No início da noite, João Paulo
anunciou a instalação amanhã de
uma comissão especial para analisar o projeto. Nesse caso, se forem
cumpridos os prazos exigidos pelo regimento da Casa, não deve
haver tempo hábil para votá-lo no
plenário durante a convocação.
Para contornar o impasse, os líderes se reuniram com João Paulo
à noite e decidiram votar hoje um
requerimento de urgência para a
tramitação do PPP. Nesse caso, se
as discussões complicarem na comissão, a presidência da Casa pode interromper os trabalhos e puxar o projeto direto para o plenário, onde deve ser votado na próxima semana, segundo os líderes.
À falta de articulação do governo, que não havia consultado o
presidente da Câmara sobre o calendário de votações, juntou-se a
má vontade de João Paulo com a
convocação. Contrário à medida,
ele chegou, no final do ano passado, a classificá-la de "escândalo" e
disse que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva estava "errado".
Ontem, no segundo dia da convocação extraordinária, a Câmara
aprovou a medida provisória que
cria o Programa Especial de Habitação Popular, que havia retornado do Senado e estava trancando
a pauta. Dos 513 deputados, 481
estavam na Casa ontem. No primeiro dia, compareceram 173.
"O João Paulo está fazendo um
esforço enorme para provar que a
convocação não é necessária, mas
ela já existe", disse um dos vice-líderes do governo, deputado Beto
Albuquerque (PSB-RS), logo após
o presidente da Câmara anunciar
que instalaria a comissão do PPP.
Além desse projeto, foram definidas como prioridades na reunião com Dirceu as medidas provisórias do setor elétrico e a lei de
Biossegurança. A "PEC paralela",
que altera pontos da reforma da
Previdência, principal motivo da
convocação, ficou fora da lista.
A estratégia do governo é colocar para votar primeiro projetos
considerados importantes e que
não devem trancar a pauta. No caso da "PEC paralela", a própria
base aliada insiste em fazer alterações no texto que veio do Senado,
o que deve alongar as discussões.
Preocupados com a repercussão negativa do esvaziamento da
pauta do Senado na convocação,
líderes partidários receberam aval
do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), para discutirem
a complementação da pauta fixada pelo Executivo. Entre os itens
que podem entrar, os líderes examinarão a possibilidade de dar sequência a um projeto do ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA),
que reduz o período de recesso
parlamentar de 90 para 45 dias.
Apesar de ser bandeira histórica
do PT, a bancada na Câmara decidiu não pedir a inclusão na pauta
da convocação do projeto que reduz o recesso para 45 dias. A decisão foi tomada por 38 votos contra 23. A justificativa foi de que
precisa haver mais discussão.
Colaborou Raquel Ulhôa, da Sucursal de
Brasília
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