São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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Políticos usam "jeitinho" para entrar na agenda

LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na busca para entrar no pequeno círculo dos mais prestigiados, ganhar confiança e obter aval para projetos, ministros, governadores e parlamentares criam estratégias para driblar a agenda oficial e conseguir "alguns minutinhos" com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Não raras vezes, funcionários se deparam com o ministro da Justiça, Tarso Genro, na garagem do Palácio do Planalto. É para lá que Tarso vai quando precisa despachar algo urgente, mas não tem audiência marcada na "agenda oficial" do presidente. Ele fica na garagem esperando o Ômega australiano de Lula chegar. Geralmente dá certo e o rápido cumprimento termina com um convite para o ministro subir ao gabinete.
Outro adepto dos despachos subterrâneos é o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Jorge Armando Félix. Quase diariamente ele aguarda o presidente na garagem para dar uma "palavrinha" antes de o expediente começar.
O ministro Marcio Fortes, por sua vez, está entre os adeptos do e-mail. Ele com freqüência troca mensagens via internet com o presidente Lula.
Geralmente, tem vantagem no acesso a Lula os ministros com gabinete no Planalto, não só pela proximidade física, mas pelos assuntos sob a responsabilidade deles. De todos, Dilma Rousseff (Casa Civil) é que a mantém o canal mais direto com Lula. Ela é chamada em média três vezes por dia ao gabinete presidencial e acompanha boa parte das audiências.

Situações inusitadas
A disposição para se aproximar do presidente às vezes provoca situações inusitadas. No dia 6 de dezembro, por exemplo, Wellington Dias (PT) integrou a comitiva presidencial que viajou para o município de Breves (PA). Detalhe: ele é governador do Piauí.
O deboche pela situação veio do próprio presidente: "Quero agradecer a presença do nosso governador do Estado do Piauí, que veio aqui tirar uma lasquinha nas conquistas da Ana Júlia [governadora do Pará]. Este bicho é esperto", disse Lula, no discurso. Dias tem um apelido no Planalto: "pidão", tal é o número de vezes que vem a Brasília com uma demanda à mão.
Nas viagens presidenciais, a briga é para ver quem é chamado para o espaço reservado do Aerolula, que tem oito lugares. Governadores e ministros têm a preferência.
Sobre tanta artimanha, explica-se: ter a atenção do presidente e oportunidade de dialogar com ele é quase sinônimo de prestígio político.
Embora parte considerável dos compromissos do presidente não figure na agenda que é divulgada a cada dia, uma pesquisa nestes "dados oficiais" dá o termômetro do prestígio (ou da falta de) dos subordinados do presidente. O secretário da Pesca, Altemir Gregolin, aparece uma única vez na agenda em 2007: dia 28 de agosto. Dilma Rousseff, 54 vezes.


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