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"Matilde teve apenas falhas administrativas", diz Lula
Presidente afirma que ministra seria "massacrada e triturada" se ficasse no cargo
Na posse de Edson Santos,
Lula faz defesa de Matilde,
afastada do posto após ter
usado o cartão corporativo
para compras num free shop
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em evento no Planalto para a
troca de comando da Secretaria
da Igualdade Racial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
fez ontem uma defesa enfática
da ex-ministra Matilde Ribeiro,
que pediu demissão do cargo
no início do mês após ter usado
o cartão corporativo do governo para compras num free shop
e alugado carros de forma sistemática sem licitação.
Para o presidente, Matilde
deixou o governo sem ter cometido nenhum "crime" ou
"delito", e sim por conta de "falhas administrativas".
Lula defendeu Matilde após
ter pedido unidade do movimento negro em torno do Estatuto da Igualdade Racial, parado no Congresso.
"Faço esse apelo [da unidade] em nome da companheira
Matilde, que sai do governo
sem ter cometido nenhum crime. Não cometeu nenhum delito, teve apenas falhas administrativas", afirmou. "Eu disse a
ela que não compensava ficar
em um cargo para ser massacrada e triturada, como ela foi
durante dez dias consecutivos",
disse Lula, que se referiu a ela
como a mesma "companheira
intocável" dos tempos de militância no PT de Santo André.
Matilde pediu demissão do
governo pelo uso do cartão corporativo em seu período de férias (R$ 2.969,01), num free
shop (R$ 461,16) e no aluguel
sistemático de carros (mais de
R$ 110 mil, sem licitação). No
total, Matilde gastou R$ 171 mil
com o cartão em 2007, a líder
do ranking entre os ministros.
Ontem, ao fazer a defesa da
ex-ministra, que não compareceu ao evento, Lula foi aplaudido pelas cerca de mil pessoas
que lotaram o salão nobre do
Planalto para a posse do deputado petista Edson Santos (RJ)
como titular da Secretaria Especial da Igualdade Racial da
Presidência. Ele assume na vaga de Martvs Chagas, interino
desde a demissão de Matilde.
Defesa do cartão
Em entrevista após a solenidade, Santos defendeu o uso
dos cartões corporativos. "Pretendo seguir as normas do governo quanto ao uso do cartão,
que tem um caráter emergencial e que garante também a
transparência nas ações com os
gastos públicos." Ele afirmou
que, como ministro, "terá a necessidade de conhecer a realidade do Brasil".
Santos também se disse a favor das cotas sociais e raciais.
"Temos que dar mais para
quem tem menos."
Lula falou por 25 minutos,
diante de integrantes do movimento negro, do governador
Sérgio Cabral (PMDB), de deputados e prefeitos do Rio de
Janeiro, base política de Santos. No discurso, de forma sutil,
pediu a permanência de
Martvs. "Obviamente que não
posso impor, porque não faz
parte do meu estilo, ao companheiro Edson que aproveite o
Martvs, mas seria uma boa atitude." Martvs, do PT mineiro,
era secretário-adjunto do órgão até a saída de Matilde.
Sobre a missão da secretaria,
o presidente afirmou que a política de identificação, reconhecimento e titulação de áreas de
remanescentes de quilombolas
será mantida pelo governo.
"Precisamos legalizar quantos quilombos forem necessários legalizar neste país. É um
processo difícil, porque depois
que a gente detecta o indício de
que aquele povo é remanescente de quilombo, você entra no
Incra [Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária] e o processo vai parar na
Justiça e demora anos. Não é
uma coisa que a gente pode fazer por decreto", afirmou.
No discurso improvisado,
Lula trocou Jane por "Diana",
numa referência à mulher pela
qual o personagem Tarzan se
apaixona. "Tarzan não atravessa a corda com a Diana, uma
pinguela de corda?", disse, ao se
referir à necessidade da construção de uma ponte numa comunidade quilombola no interior do Estado de São Paulo.
A Secretaria da Igualdade
Racial tem, na prática, apenas
um papel de articulação no governo, ou seja, não pode tocar
seus próprios programas. Com
um orçamento enxuto, depende de acordos com outras pastas, como Educação, Saúde e
Desenvolvimento Agrário. Lula
admitiu isso no discurso de ontem: "A secretaria é pequena, o
orçamento é sempre pequeno,
como o de todo mundo aqui".
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