São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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"Matilde teve apenas falhas administrativas", diz Lula

Presidente afirma que ministra seria "massacrada e triturada" se ficasse no cargo

Na posse de Edson Santos, Lula faz defesa de Matilde, afastada do posto após ter usado o cartão corporativo para compras num free shop

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em evento no Planalto para a troca de comando da Secretaria da Igualdade Racial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma defesa enfática da ex-ministra Matilde Ribeiro, que pediu demissão do cargo no início do mês após ter usado o cartão corporativo do governo para compras num free shop e alugado carros de forma sistemática sem licitação.
Para o presidente, Matilde deixou o governo sem ter cometido nenhum "crime" ou "delito", e sim por conta de "falhas administrativas".
Lula defendeu Matilde após ter pedido unidade do movimento negro em torno do Estatuto da Igualdade Racial, parado no Congresso.
"Faço esse apelo [da unidade] em nome da companheira Matilde, que sai do governo sem ter cometido nenhum crime. Não cometeu nenhum delito, teve apenas falhas administrativas", afirmou. "Eu disse a ela que não compensava ficar em um cargo para ser massacrada e triturada, como ela foi durante dez dias consecutivos", disse Lula, que se referiu a ela como a mesma "companheira intocável" dos tempos de militância no PT de Santo André.
Matilde pediu demissão do governo pelo uso do cartão corporativo em seu período de férias (R$ 2.969,01), num free shop (R$ 461,16) e no aluguel sistemático de carros (mais de R$ 110 mil, sem licitação). No total, Matilde gastou R$ 171 mil com o cartão em 2007, a líder do ranking entre os ministros.
Ontem, ao fazer a defesa da ex-ministra, que não compareceu ao evento, Lula foi aplaudido pelas cerca de mil pessoas que lotaram o salão nobre do Planalto para a posse do deputado petista Edson Santos (RJ) como titular da Secretaria Especial da Igualdade Racial da Presidência. Ele assume na vaga de Martvs Chagas, interino desde a demissão de Matilde.

Defesa do cartão
Em entrevista após a solenidade, Santos defendeu o uso dos cartões corporativos. "Pretendo seguir as normas do governo quanto ao uso do cartão, que tem um caráter emergencial e que garante também a transparência nas ações com os gastos públicos." Ele afirmou que, como ministro, "terá a necessidade de conhecer a realidade do Brasil".
Santos também se disse a favor das cotas sociais e raciais. "Temos que dar mais para quem tem menos."
Lula falou por 25 minutos, diante de integrantes do movimento negro, do governador Sérgio Cabral (PMDB), de deputados e prefeitos do Rio de Janeiro, base política de Santos. No discurso, de forma sutil, pediu a permanência de Martvs. "Obviamente que não posso impor, porque não faz parte do meu estilo, ao companheiro Edson que aproveite o Martvs, mas seria uma boa atitude." Martvs, do PT mineiro, era secretário-adjunto do órgão até a saída de Matilde.
Sobre a missão da secretaria, o presidente afirmou que a política de identificação, reconhecimento e titulação de áreas de remanescentes de quilombolas será mantida pelo governo.
"Precisamos legalizar quantos quilombos forem necessários legalizar neste país. É um processo difícil, porque depois que a gente detecta o indício de que aquele povo é remanescente de quilombo, você entra no Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e o processo vai parar na Justiça e demora anos. Não é uma coisa que a gente pode fazer por decreto", afirmou.
No discurso improvisado, Lula trocou Jane por "Diana", numa referência à mulher pela qual o personagem Tarzan se apaixona. "Tarzan não atravessa a corda com a Diana, uma pinguela de corda?", disse, ao se referir à necessidade da construção de uma ponte numa comunidade quilombola no interior do Estado de São Paulo.
A Secretaria da Igualdade Racial tem, na prática, apenas um papel de articulação no governo, ou seja, não pode tocar seus próprios programas. Com um orçamento enxuto, depende de acordos com outras pastas, como Educação, Saúde e Desenvolvimento Agrário. Lula admitiu isso no discurso de ontem: "A secretaria é pequena, o orçamento é sempre pequeno, como o de todo mundo aqui".


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