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Ex-secretário muda versão e diz que Palocci é inocente
Rogério Buratti, que trabalhou com ex-ministro em Ribeirão, retira acusações
Ao Ministério Público, à polícia e à CPI dos Bingos ele disse que Palocci recebia propina mensal de empresa na sua gestão como prefeito
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Ex-secretário de Governo de
Antonio Palocci Filho (PT) na
Prefeitura de Ribeirão Preto,
Rogério Tadeu Buratti decidiu
retirar todas as acusações que
fez em 2005 contra o então ministro, entre elas a de que Palocci teria recebido da empreiteira Leão Leão propina mensal no valor de R$ 50 mil em sua
segunda gestão como prefeito,
entre 2000 e 2002.
O recuo do ex-secretário de
Palocci está registrado no 14º
Tabelião de Notas de São Paulo,
onde ele prestou declarações
extrajudiciais, conforme noticiou "O Estado de S. Paulo".
No documento, de 28 de junho de 2007, ele afirma ser
mentira também a declaração
que fez à Polícia Civil e à Promotoria de que o "mensalinho"
pago pela Leão Leão serviu para financiar o Diretório Nacional do PT. Promotores, o delegado seccional que cuidou do
caso, Benedito Antonio Valencise, e Palocci, por meio de seu
advogado, disseram que desconheciam o documento.
O depoimento de Buratti
aconteceu em 19 de agosto de
2005, na delegacia seccional de
Ribeirão Preto. Na época, a polícia e o Ministério Público Estadual investigavam um suposto esquema de desvio e lavagem
de dinheiro público envolvendo fraudes no serviço de varrição e coleta de lixo em Ribeirão
Preto. No mesmo mês, Buratti
compareceu à CPI dos Bingos
no Senado e ratificou as declarações sobre o "mensalinho"
pago a Palocci.
Agora, no documento que registrou no tabelião, Buratti diz
que, na ocasião do depoimento,
as autoridades o submeteram a
um "ritual de execração pública" e fizeram com que ele se
sentisse "moralmente destruído, desmoralizado perante seus
filhos e familiares". A pressão,
segundo ele, o fez mentir.
"Uma coisa é ele falar que se
sentiu pressionado, a outra coisa é o conteúdo daquilo que ele
falou na ocasião", disse o promotor de Justiça Tiago Cintra
Essado, um dos que participaram das investigações que culminaram na denúncia de Palocci à Justiça -as investigações correm no STF (Supremo
Tribunal Federal) porque o ex-ministro, hoje deputado federal, tem foro privilegiado.
Para Valencise, a atitude de
Buratti foi "uma piada de mau
gosto". "Ele foi um caminho para as investigações, mas a chave
de tudo foram as provas que
nós encontramos. Havia notas
falsas na empresa [Leão Ambiental], ordens de serviço falsas na prefeitura que eram usadas no esquema. Se você me
conta que tem um carro roubado em um local, eu vou lá e encontro o carro e depois você me
diz que estava mentindo, isso
não pode ser verdade."
A reportagem não conseguiu
ontem contatar Buratti nem
seu advogado, Roberto Telhada. O advogado de Palocci, José
Roberto Batochio, disse que
desconhecia as novas declarações de Buratti. Ele afirmou
que conversou por telefone
com Palocci na manhã de ontem sobre o caso. "A reação dele
foi de muita surpresa", disse.
Dois dias antes de prestar o
depoimento no qual fez acusações contra Palocci, Buratti havia sido interrogado e indiciado
em inquérito policial. Teve sua
prisão temporária decretada
foi levado ao CDP (Centro de
Detenção Provisória). No dia
seguinte, em 18 de agosto, Buratti foi visitado por promotores e concordou em contribuir
com as investigações, sob a
perspectiva de ser beneficiado
com a delação premiada.
Naquela ocasião, Buratti foi
conduzido do CDP à delegacia
seccional de Ribeirão algemado, vestindo roupa alaranjada
de presidiário, na presença da
imprensa, situação considerada por ele humilhante. O promotor Sebastião Sérgio da Silveira, também responsável pelas investigações, diz que Buratti nunca sofreu pressão.
"O fato de ele ficar vestido de
presidiário só tinha importância porque ele era uma pessoa
influente na sociedade. A gravidade do fato está no objetivo de
todos aqueles atos, que era
realmente constranger o cidadão, o que é lamentável, porque
a busca por provas tem que
obedecer a Constituição", criticou Jorge Marcos Souza, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Ribeirão.
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