|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOMBRA NO PLANALTO
Ralf Barquete, auxiliar da presidência do banco, é amigo do empresário, acusado de envolvimento na intermediação de contrato da Caixa
Assessor da Caixa tem ligação com Buratti
RICARDO BRANDT
DA REPORTAGEM LOCAL
A presidência da CEF (Caixa
Econômica Federal) tem como
um de seus assessores especiais o
economista Ralf Barquete Santos,
que manteve no passado relações
com Rogério Tadeu Buratti, acusado de ser o beneficiário num esquema para a renovação de um
contrato da GTech do Brasil com
a CEF para a operação de loterias.
Uma empresa de Buratti deveria ser contratada por um valor
que variava de R$ 15 milhões a R$
20 milhões como condição para
que o contrato da GTech com a
CEF fosse renovado. O esquema
foi intermediado por Waldomiro
Diniz, ex-subchefe de Assuntos
Parlamentares da Presidência, entre março e abril do ano passado,
segundo depoimentos de dirigentes da GTech à Polícia Federal.
Barquete, segundo a assessoria
de imprensa da CEF, é assessor
para assuntos de recursos humanos. Ele trabalha no banco desde
fevereiro de 2003. Barquete está licenciado por motivos de saúde
desde julho do ano passado.
Waldomiro, acusado de ter indicado Buratti à GTech, foi exonerado do cargo que ocupava em fevereiro passado depois da divulgação de uma fita de vídeo em que
ele aparece cobrando propina de
um empresário de jogos, em 2002,
quando trabalhava no governo de
Benedita da Silva (PT-RJ).
Buratti e Barquete tiveram em
comum a passagem pela Prefeitura de Matão (SP) na gestão do PT
entre 1996 e 2000. Buratti foi assessor especial do prefeito Adauto
Scardoelli (PT) de janeiro de 1997
a abril de 1998. Depois, continuou
atuando politicamente na cidade,
mas sem cargo, segundo relatos
de políticos locais feitos à Folha.
Barquete assumiu cargo na prefeitura em dezembro de 1998. Foi
secretário de Fazenda e de Administração até o fim do governo.
Em 2000, a Assessorarte, que
pertenceu a Buratti e hoje é da irmã Rosângela Buratti e de Luiz
Antonio Prado Garcia, foi contratada pela Prefeitura de Matão para realizar concurso público. Não
há contestação legal do contrato.
Os caminhos de Buratti e Barquete também se cruzam indiretamente em outros dois momentos. Ambos foram secretários da
Prefeitura de Ribeirão Preto (SP)
quando o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, era prefeito da
cidade (1993-1996 e 2001-2002).
Buratti foi secretário de Governo
na primeira gestão Palocci. Ele foi
demitido do cargo em outubro de
1994, após ser flagrado negociando benefícios numa licitação.
Barquete foi secretário da Fazenda na segunda gestão Palocci.
Ele assumiu em 2001 e só saiu para trabalhar na CEF em Brasília.
Os dois ex-assessores de Palocci
também têm em comum as relações com o grupo Leão Leão, uma
holding composta por empresas
de construção, gestão ambiental e
serviços de limpeza pública. O
grupo foi o maior doador da campanha de Palocci na eleição para a
Prefeitura de Ribeirão em 2000.
A Leão Leão também obteve entre 1997 e 2000, na administração
do PT em Matão, quatro contratos que foram julgados irregulares
pelo TCE (Tribunal de Contas do
Estado). Um deles foi julgado ilegal na Justiça em primeira instância e está em fase de recurso.
Buratti é hoje vice-presidente da
Leão Leão. Ontem, ele pediu afastamento da empresa. Barquete
prestou serviço de consultoria para o grupo em 1990 e 1991, segundo a assessoria da holding.
O ex-prefeito de Matão Adauto
Scardoelli disse que Barquete não
foi indicado por Buratti. "Ele
[Barquete] veio por intermédio
de uma empresa de informática."
Buratti afirmou ontem, por
meio de assessoria, que é amigo
de Barquete desde 2000 e que o visitou em 2003. Quanto a Waldomiro, alega que não o conhece.
A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda não quis comentar as relações do ministro
com Barquete. Segundo a Folha
apurou, Palocci não indicou, mas
deu aval para sua contratação.
Colaboraram MARCELO TOLEDO e
ROGÉRIO PAGNAN, da Folha Ribeirão
Texto Anterior: Palocci não foi investigado no caso de 94 Próximo Texto: Outro lado: Banco afirma que Ralf Barquete não atua em decisões Índice
|