São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Campanha tentará mudar imagem de paralisia no governo após caso Waldomiro

"Trabalho sério" será slogan de publicidade para abafar crise

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal lança nesta semana uma campanha publicitária com o slogan "O trabalho sério já começa a dar resultados". O objetivo é responder à acusação de que o caso Waldomiro Diniz provocou a paralisia administrativa da gestão petista.
A campanha foi idealizada pelo publicitário Duda Mendonça, o mesmo que fez a campanha vitoriosa de Lula na eleição de 2002. A tarefa foi confiada a Duda pelo ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera a campanha vital para tentar reverter a crise política desencadeada pelo caso Waldomiro. As peças produzidas por Duda Mendonça vão vender as "realizações" do primeiro ano da gestão Lula.
Como subproduto, o governo acredita que o material servirá também para municiar candidatos petistas e dos partidos aliados nas eleições municipais de outubro deste ano.
A veiculação das peças publicitárias estava prevista antes do surgimento do Caso Waldomiro. Mas a crise gerada pelo episódio influenciou de modo decisivo a criação da campanha.
Será o primeiro esforço publicitário do governo em 2004. Os dados que se pretende divulgar referem-se ao ano de 2003. Deverá haver também menções a ações pontuais do governo neste ano.
Ex-homem de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil) Waldomiro Diniz virou personagem da maior crise dos quase 15 meses de governo Lula ao aparecer em vídeo gravado em 2002 pedindo propina e contribuição de campanha a um empresário do ramo de loterias eletrônicas.
Em 2002, Waldomiro presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), no governo Benedita da Silva. Com a revelação do vídeo pela revista "Época", foi demitido "a pedido" da subchefia de Assuntos Parlamentares do Palácio do Planalto, posto ao qual chegou por nomeação de Dirceu.
O slogan da campanha, criado por Duda, busca mostrar resultados administrativos que combatam a imagem de morosidade e paralisia do governo pós-caso Waldomiro. E a palavra "sério" no slogan não é de graça. Procura sugerir que, apesar do escândalo, o PT mantém seu perfil ético.

Formato da campanha
A emoção, marca das campanhas de Duda, deverá ter menor peso nas peças que começam a ser veiculadas nesta semana. Optou-se por usar apresentadores. Imagina-se que emprestam aos comerciais um ar mais informativo.
O governo deseja ainda realçar o que considera realizações sociais. Haverá ênfase, por exemplo, nos "investimentos" feitos em saneamento básico. Uma das peças de publicidade, recheada com números, dirá que o governo repassou no ano passado a Estados e municípios cerca de R$ 2 bilhões para gastos em saneamento.
A campanha deve mencionar também a decisão de dar continuidade em 2004 a esse tipo de investimento. Dirá que foi feito um acerto com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para destinar R$ 2,9 bilhões à área.
Entre os ministérios que merecerão destaque na campanha está o da Saúde. Um dos programas que serão mencionados é o "Brasil Sorridente", lançado por Lula nesta semana em Sobral (CE).
O Bolsa-Família, iniciativa que fundiu diversos programas sociais no ano passado, será apresentado como uma "evolução" e um "sucesso" do governo. A campanha dirá que 3,6 milhões de famílias foram atendidas no ano passado e que Lula deseja terminar 2004 com 5,9 milhões de famílias contempladas.
A campanha será nacional, com mídia eletrônica (TVs e rádios) e mídia impressa (jornais e revistas). A chamada mídia regional também será contemplada. O custo ainda não está fechado, porque o governo está em processo de negociação com os veículos de comunicação.
Simultaneamente à campanha, Lula pretende empreender um esforço para retomar a normalidade administrativa do governo. Nesta semana, reúne-se com Dirceu para tratar de uma "agenda de emergência" do governo. O presidente quer resolver pendências dos ministérios que, com a crise, avolumaram-se na Casa Civil.


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