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SOMBRA NO PLANALTO
Fortalecidos por caso Waldomiro, aliados querem neutralidade eleitoral de Lula e menos MPs
Dirceu se refugia em ACM e Sarney, que cobram fatura
FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Além de cargos e verbas federais, a exigência de neutralidade
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva nas eleições municipais de
outubro e a diminuição da edição
de MPs (medidas provisórias) fazem parte da fatura política que
José Sarney e Antonio Carlos Magalhães cobram para abafar a crise do caso Waldomiro Diniz.
Essas demandas foram apresentadas ao ministro José Dirceu
(Casa Civil) por Sarney, presidente do Senado e principal aliado do
governo no PMDB, e por ACM,
cacique do PFL que controla uma
espécie de porção governista da
legenda. Na quinta-feira à noite,
Sarney patrocinou um discreto
coquetel com Dirceu e poucos senadores na sua casa particular no
Lago Sul, próxima à residência
oficial do Senado.
"O que pode melhorar na relação do governo com o Congresso?", indagou Dirceu. De imediato, Sarney reclamou das nove medidas provisórias que fazem pesar
a pauta do Senado. O peemedebista, que nomeará um apadrinhado para a Eletrobras, reclamou que estava ficando muito
ruim para a sua imagem resolver
tantos problemas do governo. Sugeriu que menos MPs tornariam
sua vida mais fácil, apesar de serem um método eficaz e poderoso
do poder presidencial. Com menos MPs, Lula perde força.
Presentes, os senadores ACM,
Rodolpho Tourinho (PFL-BA),
Roseana Sarney (PFL-MA) e
Eduardo Siqueira Campos
(PSDB-TO) apoiaram Sarney.
Dirceu mostrou concordância
com o pleito e prometeu falar com
o presidente. "Um assunto importante foi a necessidade de o
presidente se comportar com
neutralidade, como um magistrado, na eleição, para não aumentar
a instabilidade política", relata Siqueira Campos, segundo vice-presidente do Senado.
Recusando-se a dar detalhes,
Campos afirma que o encontro
foi "muito bom" e um sinal de
que o governo terá "uma visão
mais pluripartidária de sua ação
no Congresso". ACM não comentou a reunião. A assessoria de Dirceu diz que Sarney quis dar um
abraço no ministro, que completou 58 anos na terça, dia 17.
Mas a Folha apurou que foi o
senador baiano quem falou claramente com Dirceu sobre a "neutralidade" do governo nas eleições municipais. Diretamente interessado em manter seu esquema político como o maior da Bahia, ACM delimitou território.
A cobrança por um Lula "magistrado" é um pedido para que o
governo federal não ajude a candidatura do petista Nelson Pellegrino a prefeito de Salvador. Pela
dependência de aliados fisiológicos para a governabilidade de Lula pós-caso Waldomiro, o pefelista terá sucesso na empreitada, que
interessa a Sarney, cujo clã domina o Maranhão há três décadas.
Guinada à direita
Desde o começo da crise do caso
Waldomiro, Dirceu correu para
os braços de Sarney e ACM para
ficar no cargo e evitar a criação de
uma CPI no Senado. O "Waldogate" estourou no dia 13 de fevereiro, data dos 24 anos de fundação do PT. Nesse dia, a revista
"Época" revelou vídeo gravado
que mostra Waldomiro pedindo
propina e contribuição de campanha a um empresário do ramo de
loterias eletrônicas. Na época,
Waldomiro presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro),
no governo Benedita da Silva
(PT). Em 2003, Dirceu o nomeou
subchefe de Assuntos Parlamentares do Planalto, cargo do qual
foi demitido "a pedido".
Atingido diretamente pelo caso
Waldomiro, Dirceu buscou socorro em Sarney e ACM. No dia 15
de fevereiro, um domingo, foi de
manhã à casa do presidente do
Senado no bairro Lago Sul. No
mesmo dia, conversava com
ACM por intermédio do advogado Antonio Carlos de Almeida
Castro, espécie de primeiro-amigo de Dirceu em Brasília e antigo
conselheiro e advogado do pefelista baiano.
Na segunda, dia 16, Dirceu colocou o cargo à disposição do presidente, numa reunião da cúpula
do governo no Planalto. No início
da noite do mesmo dia, foi à residência de ACM, também no Lago
Sul, ouvir conselhos e armar a estratégia para tentar barrar a CPI.
Sem as assinaturas de senadores
do PMDB e de parte da bancada
do PFL, a investigação congressual não teria como prosperar.
Desde a primeira semana do
"Waldogate", Sarney e ACM jogam papéis centrais. Na última segunda, dia 16, véspera do aniversário de 58 anos, o ministro da Casa Civil recebeu uma discreta visita. Já passava das 21h quando
ACM voltou a pisar no quarto andar do Palácio do Planalto, bem
em cima do gabinete de Lula, onde fica a poderosa Casa Civil. Simbolicamente, a visita de ACM
marca a ressurreição de um político que o PT e o próprio Dirceu
combateram ferozmente e que estava apagado desde que renunciou ao mandato de Senado em
2001 no conhecido escândalo da
violação do sigilo do painel eletrônico de votação da Casa.
Apesar de não ter sido abordada
no encontro de quinta, uma ida
de Dirceu ao Senado para falar do
caso Waldomiro Diniz está sendo
estudada pelo ministro, por Sarney e por ACM.
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