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JANIO DE FREITAS
Entre mudar e fracassar
O desempenho do governo
no ano passado, em comparação com o prometido por
Lula, foi no mínimo péssimo.
Pois olhe, talvez não seja o pior
ano do governo Lula. Talvez. É
cada vez mais evidente que o
governo escorrega para a situação dramática em que, ou dá
uma parada e repensa, ou vai
em frente e dificilmente se livrará do fracasso, até por exigüidade de tempo.
No terceiro mês do ano, o Ipea,
instituto sério e oficial, revê para baixo sua previsão, já baixa,
de crescimento anual. Revisão
pequena, mas significativa, porque induzida pela realidade
captada nas pesquisas mais
atualizadas. Mesmo que não se
repita o resultado vergonhoso
de 2003, quando a economia
nacional ficou menor e o país
mais pobre, é muito consistente
a perspectiva de um ano medíocre (salvo para banqueiros e outros beneficiários dos juros). Assim sendo no segundo ano de
governo, o terceiro já estará bastante comprometido, servindo,
no máximo, para fazer em benefício do quarto ano o que era
esperado desde o primeiro. Mas
o quarto ano será eleitoral, e nada mais perturbador da administração federal do que eleição,
ou reeleição, de presidente.
Neste ano em que seria fundamental, para o governo, recuperar-se de 2003, o primeiro passo
precisava ser a melhoria de padrão no ministério. Lula fez
uma mexida ditada apenas pelo
fisiologismo de seu enlaçamento
com o pior PMDB e, de quebra,
fazer mais cupinchices, como a
permanência de Ricardo Berzoini. Além da ineficácia administrativa, a mexida acarretou
um problema político: o governo
entregou-se ao PMDB. E isso
quer dizer muita coisa, porque o
PMDB no governo age, como se
fora dele, em benefício do
PMDB, e o resto é o resto. A base
política do governo não se fortaleceu, como se vê no Senado, e ficou menor o poder de negociação do governo.
Comentaristas atribuem ao
caso Waldomiro Diniz a evidente perda de prestígio do governo,
e do próprio Lula, nas últimas
semanas. Ninguém no alto nível
do governo fora até então ligado
às vigarices de um funcionário
de terceiro nível. O fato Waldomiro Diniz é, a rigor, uma insignificância, considerado todo um
conjunto de governo. E como tal
seria tratado, não fosse a paralisia administrativa, que deixa
espaços a serem preenchidos pelo que der e vier para oposição e
mídia. A dimensão e os efeitos
do caso Waldomiro Diniz devem-se, sobretudo, ao mau estado do governo.
No âmbito presidencial e ministerial da administração, a
desordem impera sem restrições. Lula quer viajar e fazer
eventos que o ponham na TV e
nas primeira páginas. A cada
viagem no Brasil, ainda que seja
só para lançar uma campanha
pelo tratamento dentário - por
si só, motivo injustificável para
uma viagem presidencial-, é
um dia inteiro sem trabalho.
E no dia seguinte é a visita a
uma fábrica de carros, com outro dia sem trabalho de governante. E assim se vão as semanas. Raros são os despachos com
ministros, individualmente. Se
José Dirceu suprisse a omissão
de Lula, vá lá. Mas a omissão é
tão grande e o cumularam de
tantas atribuições, que a solução não funcionou.
Nenhum ministro recebe
orientação presidencial sobre
coisa alguma. O próprio governo não tem diretrizes. É um bater de cabeças sem fim.
Ainda ontem, Jorge Bastos
Moreno narrava, no "Globo",
que o ministro da Agricultura,
Roberto Rodrigues, falando a 30
parlamentares, referiu-se ao ministro Guido Mantega, do Planejamento, como vagabundo e
mandou-o a uma parte maternalmente muito degradante,
pobres mães.
A área econômica, referência
obrigatória para todos os ministérios, é um esconderijo inacessível a outros ministros. O desentrosamento é total.
Desse estado da administração superior não sai governo.
Logo, não sai recuperação do
mau desempenho até aqui,
nem, muito menos, o crescimento econômico consistente e a administração profícua que as
emergências brasileiras imploram.
É impossível saber de quanto
tempo Lula disporia para reconsiderar o seu governo, supondo-se que desejasse fazê-lo. Por certo, não é muito tempo. Mas a dificuldade principal não está no
tempo: ao que parece, está no
próprio Lula, a quem o tempo
corrente não faz menos inebriado e mais próximo do chão onde
seu governo caminha mal.
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