São Paulo, sábado, 21 de março de 2009

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Relatório da PF descreve esquema de Nahas

Documento afirma que empresário usa 13 empresas "que servem de fachada" para lavagem de dinheiro

Joel Silva-27.ago.2008/Folha Imagem
Empresário Naji Nahas, que é investigado pela Polícia Federal

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma "complexa instituição financeira sem autorização do Banco Central" que pratica supostos crimes contra o sistema financeiro ao gerenciar contas bancárias, conceder empréstimos, fazer operações no mercado paralelo do dólar e usar contas não declaradas no exterior.
Essa é a descrição que o delegado da Polícia Federal Carlos Alberto Dias Torres fez, em relatório parcial entregue ao juiz federal Fausto De Sanctis, das empresas administradas pelo investidor Naji Nahas, preso em julho e libertado por habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal.
Torres e a delegada Erika Marena são os responsáveis pelo inquérito que investiga Nahas, o ex-prefeito paulistano Celso Pitta e outras 27 pessoas, tudo derivado da Operação Satiagraha -outros dois inquéritos têm como alvo o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.
O relatório de 84 páginas, ao qual a Folha teve acesso, acompanhado de 50 páginas de anexos, descreve que Nahas movimenta pelo menos 13 empresas "que servem de fachada" para as operações de "lavagem de dinheiro". "Normalmente Nahas não aparece nos quadros societários, mas sim parentes seus e pessoas de sua confiança", afirma o documento.

Investigação
A linha central da investigação é demonstrar que as empresas não têm bens ou serviços para comercializar, mas estão relacionadas a inúmeras ordens de pagamento para contas no exterior.
Um indício citado pelo delegado é uma carta, assinada por um advogado do Rio e encontrada na casa de Nahas, na qual cobra o pagamento de honorários e afirma que duas pessoas ligadas ao investidor, ambas investigadas na Satiagraha, são testas-de-ferro do investidor.
Na casa de Pitta, a PF encontrou, guardado num cofre, um papel manuscrito que cita conta em "banco em Liechtenstein", paraíso fiscal da Europa Central. No mesmo cofre havia uma fita cassete com gravações de conversas telefônicas. "Aparentemente, tratam-se de conversas gravadas na época de sua candidatura à Prefeitura de São Paulo [1996] a partir dos terminais telefônicos no que se supõe ser seu comitê de campanha", anotou o relatório, que deixou de descrever o conteúdo das conversas.
As investigações confirmaram que Pitta "telefona quase diariamente" para pessoas ligadas a Nahas ou ao próprio investidor para "pedir dinheiro, quando normalmente falam em códigos". Segundo a PF, Pitta "costuma receber montantes expressivos com regularidade, em torno de R$ 40 mil ou R$ 50 mil em média, cuja origem evidencia-se altamente suspeita".
"Constam dos autos inúmeros elementos comprobatórios das atividades criminosas desenvolvidas pela organização criminosa capitaneada por Naji Robert Nahas", diz o relatório parcial. Depois do relatório final, que deve ser redigido "nas próximas semanas", o inquérito será enviado ao Ministério Público Federal, que pode ou não propor uma denúncia ao juiz federal Fausto De Sanctis.
Os policiais também pediram a extensão da ordem da quebra de sigilo bancário, originalmente decretado para o período de janeiro de 2007 a junho de 2008.
A investigação traz ainda o depoimento do jornalista Roberto D"Ávila, no qual reconhece ter recebido R$ 58 mil de Naji Nahas no final de 2008. D'Ávila apresenta um programa na TV Brasil, da estatal federal EBC (Empresa Brasil de Comunicação). Segundo ele, Nahas contratou sua empresa, a CDN, para "realizar uma pesquisa relacionada à sua imagem no mercado financeiro e na imprensa em geral". A PF não apontou ilícito nesse pagamento, limitando-se a descrevê-lo.


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