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CONTAS PÚBLICAS
Alta dos preços deve facilitar redução de gasto com pessoal a 60% da receita; "solução é ilusória", diz Mailson
Inflação ajuda Estados a seguir Lei Camata
VIVALDO DE SOUSA
da Sucursal de Brasília
A inflação acumulada esperada
para este ano e para o próximo deverá ajudar os Estados a reduzirem
seus gastos anuais com pessoal ao
limite de 60% da receita líquida.
Deverão ser mais beneficiados
aqueles Estados que hoje gastam
entre 61% e 75% da receita com
despesas de pessoal.
A redução dessas despesas será
possível se os servidores estaduais
não tiverem reajuste até dezembro
do ano 2000. Sem o reajuste, a porcentagem de receita destinada ao
pagamento dos gastos com pessoal
ao longo do ano deverá cair porque a arrecadação tende a acompanhar a variação da inflação.
O governo federal anunciou anteontem que espera para este ano
uma inflação abaixo de 15%. Para o
ano 2000, a expectativa é de uma
inflação de 6,5%.
Para o ex-ministro da Fazenda
Mailson da Nóbrega (governo Sarney), o ganho inflacionário dos Estados "é uma solução ilusória".
Significa "varrer o problema para
debaixo do tapete". Para ele, "nada
elimina a necessidade de ajustar as
despesas com pessoal às receitas".
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda,
Amaury Bier, admite que a inflação esperada para os próximos
dois anos pode facilitar o ajuste
dos Estados com pessoal. "Mas isso não resolve o problema. Eles devem analisar se não será melhor reduzir o número de servidores."
Hoje, 19 Estados gastam mais do
que 60% da receita líquida com as
despesas de pessoal. Esse limite está previsto na Lei Camata e deveria
ter sido cumprido até dezembro
do ano passado, mas o prazo será
prorrogado até dezembro do ano
2000 por meio de projeto de lei que
está no Congresso Nacional.
Bier disse que a reforma administrativa aprovada no ano passado criou os novos mecanismos que
os Estados podem usar para reduzir gastos com pessoal: demissão
por excesso de quadros, quando a
despesa superar 60% da receita líquida, e demissão por insuficiência de desempenho. Os dois ainda
não foram regulamentados.
Se não concederem reajustes salariais, os Estados podem fazer um
ajuste mais suave nas despesas
com pessoal. Para isso, eles terão
de cortar benefícios e dispositivos
que aumentam as despesas com
pessoal mesmo quando não há
reajuste, afirmou o economista
Raul Velloso, especialista em contas públicas.
Na maioria dos Estados, os atuais
governadores não terão condições
de conceder reajustes porque renegociaram suas dívidas com a
União e, em troca, se comprometeram a não conceder reajuste salarial diferente do do governo federal. E o governo federal não pretende corrigir salários neste ano.
Para Marcelo Piancastelli, ex-secretário-adjunto do Tesouro Nacional, o ganho que os Estados poderão obter com a inflação dará
aos atuais governadores tempo para adotarem os mecanismo previstos na reforma administrativa. Segundo ele, o ajuste necessário não
será obtido sem novas medidas.
De qualquer forma, disse, alguns
Estados conseguirão se enquadrar
dentro da Lei Camata sem necessidade de fazer demissões imediatas.
Será necessário, porém, o controle da folha de pessoal para evitar
elevação dessas despesas por meio
das gratificações por tempo de serviço e outros benefícios.
Estados que estão com salário
atrasado também vão se beneficiar
porque, quando acertarem essa dívida, o valor já terá sido corroído
pela inflação mais alta dos primeiros meses deste ano. É o caso, por
exemplo, do Espírito Santo, onde
os salários atrasados de três meses
somam R$ 230 milhões.
O Estado gasta 95% da sua receita líquida com pessoal. Segundo o
subsecretário de Finanças do Estado, Jamir Gibraia Bullos Júnior, este ano não haverá reajuste salarial,
"uma palavra proibida".
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