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CELSO PINTO
Os juros já podem cair?
A inflação está menor do que se
esperava, a cotação do dólar está
abaixo do projetado no acordo
com o FMI, estão entrando mais
dólares do que supunham as previsões do Banco Central. O que
falta para o BC começar a baixar
os juros?
O diretor de Política Monetária
do BC, Luiz Fernando Figueiredo,
admite que tudo isso está melhor
do que se imaginava. Mas, diz, "é
preciso ver o quanto é firme".
O BC vai considerar o quadro
com calma, até porque seria muito ruim tomar uma decisão e ter
que voltar atrás mais tarde. De
outro lado, no entanto, "jamais
iremos derrubar o nível de atividades além do necessário", observa Figueiredo.
O Copom, conselho que define os
juros, se reúne no dia 14 de abril.
Como foi definido um "viés de
baixa" na última reunião, no dia
3, o BC pode baixar os juros antes
da próxima reunião.
O diretor de Assuntos Internacionais, Daniel Gleizer, lembra
que o mercado futuro passou a sinalizar uma queda dos juros para
os próximos meses, o que é muito
positivo. Tanto no caso dos juros
quanto no do câmbio, observa, "a
velocidade é dada pelo mercado:
nós preparamos a estrada e o mercado faz o resto".
Outro sinal positivo é a decisão
de voltar a vender R$ 500 milhões
de papéis prefixados nesta terça-feira, algo que não acontecia desde junho do ano passado. O BC
parou de vender papéis prefixados porque a desconfiança sobre o
futuro fazia com que o mercado
exigisse juros muito altos. Se o leilão for bem-sucedido, indicará
uma maior confiança do mercado
na queda futura dos juros.
Figueiredo diz que a intenção
do BC é trabalhar de forma simples, com instrumentos e sinais
claros, que possam ser entendidos
e que gerem respostas do mercado. A volta dos papéis prefixados
"é mais um passo para voltar a
uma situação estável".
O BC havia criado um papel "híbrido": era prefixado durante algum tempo, depois virava pós-fixado. A intenção, agora, é vender
os dois tipos de papéis em separado, para atender demandas diferentes.
Nem Figueiredo nem Gleizer comentam, mas outra fonte do BC
confirmou à coluna que o BC
comprou dólares nesta semana no
mercado, algo que voltou a acontecer na sexta-feira. Gleizer passou a sexta-feira falando com
bancos e constatou uma melhora
na entrada de dólares tanto por
linhas de curto prazo quanto por
aplicações externas.
O BC, de todo modo, quer manter a cautela. Abril é um mês pressionado. Figueiredo diz que o
acerto com o FMI de que o BC poderá gastar US$ 2 bilhões para
atenuar a falta de dólares em
abril foi conservador: previa uma
queda adicional de linhas. Se a
tendência atual de recuperação
for mantida, haverá folga.
Há uma certa confusão no mercado sobre quanto, além dos US$
2 bilhões, o BC poderia gastar. Figueiredo é taxativo: tudo o que o
BC captar a mais, via emissão de
bônus externo, entrada de dinheiro do BID ou Bird, ou mesmo compra de dólares no mercado interno, é um dinheiro a mais que poderá ser gasto em qualquer mês e
não apenas no mês em que a entrada ocorre.
Com isso, o potencial de gasto
do BC em março pode ser bem
maior do que os US$ 2 bilhões. As
regras de gasto também não são
rígidas. O Brasil tem previsto um
pagamento próximo de US$ 1,4
bilhão em títulos da dívida. Poderá pagar tudo, mesmo que, com isso, supere o limite de gasto semanal escrito na regra do acordo, diz
Figueiredo. "Sempre prevalecerá
a regra do bom senso", define.
Desde que o acordo geral esteja
sendo cumprido, haverá flexibilidade. "Nenhum preso vai para a
solitária por bom comportamento", compara.
A emissão de bônus internacional deve sair em abril, conforme
as condições de mercado. Gleizer
já tem mais de 20 propostas de
bancos na mão. Sua prioridade
não é emitir um volume tão grande, porque não precisa tanto, e
sim cuidar da qualidade da emissão.
Ele quer explicitar uma estratégia de médio e longo prazo que faça sentido. Quer definir uma curva de juros melhor, onde haja indicação de custos para o Brasil
para vários prazos futuros, em várias moedas, e que isso sirva como
base indicativa para emissões privadas. Quer, também, melhorar a
comunicação com o mercado externo, algo apenas iniciado no giro das últimas duas semanas.
Encerrada a votação da CPMF,
a tarefa, agora, é provar que o governo pode implementar o programa fiscal. Ainda falta muito
para ganhar a guerra.
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