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EM NINHO TUCANO
Depois de críticas, governador espera ser atendido pelo governo
Após atrito, Aécio condecora Lula e aguarda "concessões"
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Depois de criticar duramente o
governo federal por conta de uma
multa aplicada ao Estado de Minas Gerais e de receber sinais de
que seus pleitos financeiros podem ser atendidos pela União, o
governador mineiro, Aécio Neves
(PSDB), vai condecorar hoje com
a Medalha da Inconfidência, em
Ouro Preto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho.
A multa de R$ 36 milhões que
desencadeou as críticas do tucano
mineiro foi aplicada pelo ministério de Palocci. Minas não cumpriu as metas fiscais de 2001.
O governador mineiro também
se irritou por causa da medida
provisória da estadualização das
estradas, pela qual o Estado recebeu crédito de R$ 780 milhões e
teria que usar R$ 101 milhões para
abater da sua dívida com a União.
Aécio argumentava que o governo estava prejudicando o esforço fiscal que o Estado vem fazendo para eliminar um déficit
previsto de R$ 2,4 bilhões.
As críticas e as ações dele no Senado com PSDB, PMDB e PFL,
que trancaram a pauta da Casa,
levaram a Minas o ministro José
Dirceu (Casa Civil) para negociar.
Anteontem, Aécio disse: "A
questão da multa já é uma coisa
secundária nesse momento. O
que foi fundamental para nós foi
aquele alerta que demos. Me parece que já está sendo encaminhada a supressão da segunda multa
em relação ao exercício de 2002".
"E, mais do que isso, a negociação que nós conduzimos com o
governo no Congresso em relação
à medida provisória atende aos
interesses de Minas", declarou
ele, sem esclarecer o resultado final da negociação política, mas
afirmando que seu discurso hoje
será sobre "unidade".
Aécio, que hoje é um pré-candidato natural no PSDB à sucessão
presidencial em 2006 -posto disputado pelo também tucano Geraldo Alckmin (SP)-, sabe que o
resultado de quatro anos no governo de Minas irá pesar em seu
futuro político. Ao contrário de
Alckmin, que herdou um governo
com gastos mais contidos, o mineiro recebeu de Itamar Franco
dívidas com prazos vencidos.
Protestos
Com o tucano Aécio, a solenidade volta a ter um clima amistoso,
após os quatro anos de oposição
ácida que o ex-governador Itamar
Franco fez ao governo FHC.
Na cerimônia, que celebra os
214 anos da Inconfidência Mineira, Lula será o orador oficial, e pela primeira vez desde a redemocratização do país, os servidores
públicos estaduais, que sempre
usaram Ouro Preto no 21 de abril
como palco para protestos e reivindicações, não estarão lá.
Renato Barros, da Coordenação
Sindical dos Servidores Públicos
de Minas Gerais, negou que a ausência seja pelo fato de o presidente ser do PT, partido ao qual
os líderes das entidades do funcionalismo mineiro sempre foram simpatizantes. Alegou motivos "operacionais e financeiros".
"Estamos envolvidos com outras questões e não tivemos tempo para nos organizar, e também
por problemas financeiros."
O único protesto que Lula e Aécio devem assistir é o de alguns
moradores. Com panos pretos,
eles prometem um protesto silencioso para chamar a atenção para
o risco que corre o patrimônio de
Ouro Preto, que há uma semana
perdeu um casarão do século 18
incendiado na praça Tiradentes.
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