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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ O PRESIDENTE
Pedido encaminhado ao STF mira em "agentes públicos" avisados por Jefferson da mesada
PF analisa ouvir Lula sobre a existência do mensalão
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal quer ouvir todos os "agentes públicos" que teriam sido informados pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) "da existência de repasse de
recursos para a base aliada". Segundo a Folha apurou, entre os
possíveis "agentes públicos" que
podem ser ouvidos está o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O pedido, encaminhado ao STF
(Supremo Tribunal Federal) no
dia 8 de março, não cita o nome
do presidente, mas diz ser conveniente, para continuar a investigação, ouvir os "agentes públicos
que teriam sido comunicados"
por Jefferson "da existência de repasse de recursos para a base aliada", o mensalão.
Em entrevista à Folha em junho
do ano passado, quando revelou a
existência do mensalão, Jefferson
disse ter contado ao presidente
sobre o mensalão em janeiro de
2005. O encontro entre Jefferson e
Lula, disse o ex-deputado, também foi presenciado pelo ministro Walfrido Mares Guia (Turismo). As informações foram confirmadas por Jefferson em depoimento à CPI dos Correios.
"Quando eu contei [...] a reação
do presidente foi de facada nas
costas: "Que é isso?". Eu contei, as
lágrimas desceram dos olhos dele.
Ele levantou, me deu um abraço e
me mandou embora", afirmou o
deputado cassado na época. Lula
negou ter chorado.
Ainda segundo o depoimento
de Jefferson à CPI, o assunto foi
retomado com o presidente dois
meses depois. Desse encontro
também participaram, de acordo
com o petebista, o presidente da
Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), o líder do governo na Casa,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), além
do deputado José Múcio (PE),
presidente do PTB.
Ouvidos pelo Conselho de Ética
da Câmara, Múcio e Rebelo confirmaram o ocorrido.
Outros avisados
Outros interlocutores a quem
Roberto Jefferson afirma ter contado sobre a mesada paga aos parlamentares da base aliada são o
chefe-de-gabinete do presidente
Lula, Gilberto Carvalho, os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil),
Antonio Palocci Filho (Fazenda),
Miro Teixeira (Comunicações) e
Ciro Gomes (Integração Nacional), além do ex-presidente do PT
José Genoino.
Para ser submetida à decisão do
ministro Joaquim Barbosa, presidente do inquérito que investiga o
mensalão no STF, a realização dos
depoimentos pedidos pela PF terá
sua conveniência avaliada antes
pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza.
O interrogatório dos "agentes
públicos" consta do subitem "D"
do item "II" do despacho em que
a PF pediu, em 8 de março, mais
prazo para dar continuidade às
investigações sobre o mensalão.
Os 40
Segundo sua assessoria de imprensa, o procurador-geral ainda
não analisou os pedidos encaminhados pela PF.
Essa avaliação foi preterida, naquele momento, porque Antonio
Fernando optou por apresentar
ao STF, 22 dias depois que a PF
mandou o inquérito para o Supremo, a denúncia em que acusa
40 pessoas, entre deputados, ex-deputados e assessores da Câmara, empresários e banqueiros, por
prática de crimes como formação
de quadrilha, falsidade ideológica,
corrupção passiva e ativa, peculato, lavagem de dinheiro e crime
contra o sistema financeiro.
Apresentada a denúncia, o ministro Barbosa suspendeu o sigilo
de Justiça do caso. Os advogados
dos acusados podem ter acesso
aos documentos que compõem a
investigação, iniciada em junho
do ano passado.
Na denúncia assinada pelo procurador-geral, não há nenhuma
referência a eventual conhecimento ou omissão do presidente
Lula no que diz respeito ao mensalão. Em seu relatório final, a CPI
dos Correios abriu um capítulo
específico sobre o assunto.
"Ciência do presidente"
Ao analisar "A Ciência do Presidente", o documento afirma que
Lula não teria dificuldade, pelo
cargo que ocupa, de perceber como "a maioria parlamentar se forjava". Ressalva, no entanto, "não
ter qualquer fato que evidencie
haver [o presidente] se omitido".
Ao tornar pública a denúncia do
mensalão, o procurador-geral
disse que os 40 denunciados constituem uma primeira fase da investigação, que irá prosseguir em
relação aos demais personagens
envolvidos na captação e repasse
de recursos ilegais para políticos.
Segundo reportagem da Folha
do dia 13, dessa segunda fase sairão novas denúncias. Um dos alvos da investigação da Procuradoria é o presidente Lula.
Nesse último despacho encaminhado ao STF em março, a PF sugere sete diligências. Além dos interlocutores de Jefferson, pede-se:
quebra de sigilo telefônico de 12 linhas que seriam utilizadas pelo
publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, quebra do sigilo
contábil e bancário do PT nos últimos cinco anos e o depoimento
do governador de Goiás, Marconi
Perillo (PSDB).
Em ofício encaminhado ao
Conselho de Ética da Câmara, o
governador tucano afirma ter relatado "ao senhor presidente que
ouvira rumores sobre a existência
de mesada a parlamentares em
conversas informais em Brasília,
porém sem provas concretas. [...]
O senhor presidente disse que
não tinha conhecimento e que ia
tomar as providências que o assunto requeria".
A conversa, ainda conforme o
ofício, ocorreu no trajeto entre
uma unidade da Perdigão e o aeroporto, durante visita de Lula ao
município de Rio Verde (GO), em
5 de maio de 2005.
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