São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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Presidente critica quem aposta "nas desgraças"

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No dia em que viu um compadre e o ministro da Justiça enfrentarem duros depoimentos no Senado e na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que no Brasil ninguém se interessa pelos "bons acontecimentos", mas somente por "desgraças" e "miséria". E disse: "No Brasil é assim, o cara não te dá o direito de ser feliz".
As declarações de Lula ocorreram no início da tarde no Palácio do Itamaraty, numa fala improvisada durante a cerimônia de formatura de turmas de mestrado em diplomacia e do curso de Formação do Instituto Rio Branco.
Em nenhum momento o presidente citou as crises políticas de seu governo. Os ataques aos pessimistas ocorreram ao tratar das ações de sua política externa.
"Tem gente que fala: "Nossa, mas esse pessoal vai investir na embaixada. Isso é gastar dinheiro. Vai mandar um diplomata para tal lugar. Vai gastar dinheiro". É sempre assim que funcionam as coisas no Brasil. Estamos sempre nivelando por baixo, estamos sempre apostando na desgraça, estamos sempre apostando na miséria", afirmou o presidente, sob aplausos dos presentes.

"O carro vai quebrar"
Empolgado, o presidente prosseguiu arrancando gargalhadas de ministros e diplomatas: "É como se você preparasse toda a família para sair no domingo, ir para um lugar bonito, passar um domingo numa cachoeira, e chegasse um vizinho: "O carro vai quebrar". No Brasil é assim, o cara não te dá o direito de ser feliz".
Lula discursou no Itamaraty no momento em que seu amigo, o advogado Roberto Teixeira, falava à CPI dos Bingos, e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, prestava depoimento na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados.
Antes, atacou os "saudosistas", ao defender as ações de sua política externa e suas viagens ao exterior, alvo de críticas da oposição. "Eu acho que o momento que estamos vivendo, de política externa, é glorioso. Alguns saudosistas não gostam. "Ah, porque tem gente que acha que nós precisamos pedir licença aos outros todo dia, nós não podemos fazer nada sozinhos, porque a nossa balança comercial está crescendo, porque a economia mundial está crescendo'", declarou.
O presidente prosseguiu, citando o investimento que considera positivo numa feira organizada no início do governo pelo Brasil no Oriente Médio: "Como nós fomos ao Oriente Médio e fizemos uma feira que custou US$ 500 mil, não faltaram críticas, neste país, de que estávamos gastando US$ 500 mil para fazer uma feira. Ninguém perguntou quanto nós ganhamos depois daquela feira, porque não interessam os bons acontecimentos".
Ao final, o presidente voltou a provocar risos entre os presentes, ao chamar de "coisa" as eleições de outubro. "Eu não ia fazer mais nenhuma viagem internacional até o final do ano. Não ia, eu ia ficar por aqui, porque tem coisa que vai acontecer por aqui, eu queria ficar por aqui."


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