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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ ALÉM DA CASSAÇÃO
Ex-ministro mantém rede de contatos no partido e no primeiro escalão do governo
Cassado, Dirceu trabalha para reeleger Lula com o aval do PT
MALU DELGADO
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cinco meses após ter o mandato
de deputado federal cassado e
perder os direitos políticos até
2015, o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu continua atuando na
vida política do país. Ao contrário
do prognóstico feito por ele, o deputado cassado não abandonou o
cargo de ministro todo-poderoso
do governo Lula para se tornar
apenas um cidadão brasileiro.
Relatos de petistas, de ministros
e de parlamentares dão conta
de que, nos bastidores, Dirceu
executa ações políticas nos Estados para favorecer o projeto de
reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conversa com
parlamentares, orienta petistas,
traça estratégias sobre a ofensiva
petista nas CPIs, participa de almoços e jantares com políticos e
empresários.
Antes de anunciar que Tarso
Genro assumiria a Secretaria de
Relações Institucionais, Lula conversou com Dirceu sobre a decisão. O deputado estadual Fausto
Figueira (PT-SP), amigo de Dirceu, contou à Folha que o ex-ministro reagiu com satisfação à
"deferência" do presidente.
Enquanto exercia a presidência
do PT interinamente, no ano passado, Tarso afirmou que só assumiria a função e disputaria a eleição interna se Dirceu não fizesse
parte da mesma chapa. O episódio gerou mal-estar no PT e aumentou as rivalidades.
Logo depois da posse, Tarso e
Dirceu almoçaram juntos num
restaurante italiano, em Brasília,
para selar a reaproximação e convivência pacífica. Analisaram o
cenário político e discutiram o futuro do PT. A Folha apurou que o
ex-ministro mantém conversas
com integrantes do primeiro escalão, incluindo Tarso e Lula.
Dirceu ainda manda recados.
Há aproximadamente dez dias,
disse ao ex-deputado Marcelo
Barbieri (PMDB-SP) que Lula telefonaria para o ex-governador
Orestes Quércia. Ele não recebeu
a ligação, mas incentivou Itamar
Franco a lançar-se pré-candidato
à Presidência, decisão que o ex-presidente anunciou depois de
conversa com Dirceu. Ambos disseram que tudo não passou de
coincidência.
CPI
O ex-ministro orientou integrantes petistas sobre como proceder no encerramento da CPI
dos Correios. Segundo o líder do
PT na Câmara, Henrique Fontana
(RS), com quem Dirceu conversou, "na política e na vida, todo
mundo conversa com todo mundo". Dirceu, diz Fontana, é consultado por petistas por ser um
quadro respeitado por todos.
"Quanto mais ficar demonstrado e caracterizado para a sociedade que Dirceu faz essas articulações com o conhecimento do presidente, isso poderá contaminar a
campanha do Lula", disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo de cassação de
Dirceu no Conselho de Ética.
Procurado pela Folha, por intermédio de sua assessoria de imprensa, Dirceu não quis se manifestar. Segundo a assessoria, o ministro é procurado por vários políticos, o que gera especulações
sobre a atuação dele.
O ex-ministro reage com irritação sempre que é questionado
sobre suas ações políticas. Afirma
que atua como militante do PT,
direito que não lhe foi cassado.
Diz também que não tem obrigação de prestar contas de suas
atividades privadas como consultor e advogado.
O poder de Dirceu é motivo de
dúvidas no próprio PT. Um grupo de petistas que conversou com
o ex-ministro recentemente relatou à Folha que ele se sente magoado por não estar recebendo
missões do partido nem do governo federal. O encontro com Itamar teria sido uma resposta dele
ao PT, para provar que ainda tem
poder político.
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