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Notas fiscais expõem gastos miúdos e erros com cartão
Documentos mostram compra de carga para caneta Montblanc para ministro
Pagamentos de contas para terceiro e de despesas com produtos alimentícios podem, depois de análise, ser considerados irregulares
ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Notas fiscais com detalhes
das compras feitas com cartões
corporativos e contas tipo B
(pagamento em dinheiro) mostram gastos do primeiro escalão do governo que vão de compra de cargas para caneta
Montblanc de ministro até lupas, guarda-chuva, isqueiros e
diversas revistas.
As despesas, desde que não
sejam para uso pessoal, não são
irregulares. A norma que regulamenta o uso do cartão, porém, não define o que é gasto
pessoal. Segundo a CGU (Controladoria Geral da União), cada caso tem análise separada.
Entre as compras detalhadas
nas notas está um guarda-chuva para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e revistas "Caras", "Nova" e "Claudia" para a
primeira-dama Marisa Letícia
ler em uma viagem oficial.
A ministra Nilcéa Freire (Secretaria das Mulheres) pagou
com cartão corporativo para
ela e para uma assessora um
jantar em São Paulo, no restaurante Blue Tree Convention
Ibirapuera, em 22 de agosto de
2006, que incluiu uma taça de
vinho, uma caipirinha, duas sugestões do chefe, dois cafés expresso e uma água sem gás no
valor de R$ 83,60. A CCU considera irregulares pagamentos de
gastos a terceiros.
A secretaria informou que foi
a assessora da ministra quem
consumiu as bebidas alcoólicas
e que a parte dela na conta seria
devolvida. Depois a secretaria
informou que não se fez necessário devolver a diferença porque ela tinha restituição a receber de gastos que fez com seu
dinheiro.
Troco
Outra conta paga pela ministra, no restaurante Temperança, em São Paulo, no dia 24 de
março de 2007, com cartão corporativo, revela que houve troco. A conta somou R$ 122,17, a
nota informa que foi passado
no cartão R$ 140,00 e registra
troco de R$ 17,83. A assessoria
informou que a nota foi emitida
de forma errada.
Para o ministro Walfrido dos
Mares Guia, que ocupou o Ministério das Relações Institucionais de março até novembro
de 2007, segundo uma solicitação de compra que Folha teve
acesso, foram adquiridas por
meio de contas tipo B, em duas
ocasiões, cargas para caneta
Montblanc. Um dos pedidos
pede "urgência".
Em abril foram compradas
duas cargas, em maio, outras
quatro. Todas na Poin Canetas,
uma barraca localizada na Feira dos Importados, em Brasília,
que vende produtos em sua
maioria trazidos do Paraguai.
"Tal recarga só se encontra disponível para venda na feira",
justificou o requisitante informando que são para atender
"ao senhor ministro".
As compras, de R$ 140,00 e
R$ 70,00, foram pagas com dinheiro de suprimento de fundos. O ex-ministro diz que não
se lembra das compras.
As notas revelaram o gosto
da primeira-dama Marisa Letícia pelas revistas "Caras",
"Claudia" e "Nova". Memorando da assessora administrativa
da Secretaria de Imprensa e
Divulgação, Lizeth Dourado,
solicita a compra das publicações "para abastecimentos das
aeronaves em viagens em que
contarem com a participação
da primeira-dama".
Numa viagem para Argentina e Bolívia, entre 2 e 7 de julho
de 2004, foram comprados seis
isqueiros e 44 cartelas de lenço
de papel de bolso para atender
"à solicitação da ajudância-de-ordens do senhor presidente
da República".
A ministra Dilma pediu para
sua assessoria comprar um
guia de Brasília logo ao chegar à
cidade. Para ela também foram
comprados um guarda-chuva,
no pedido observa-se que deve
ser preto, grande e automático,
e uma lupa para "uso pessoal"
da ministra. As compras também foram feitas na Feira dos
Importados.
O ex-ministro José Dirceu
(Casa Civil) tinha à disposição,
semanalmente, leite desnatado, banana-prata ou banana-maçã, mamão, queijo frescal,
manteiga, laranja e pão de forma. A justificativa para o gasto
incluiu e-mail no qual a servidora Maria Aparecida Braz de
Barros diz que esta é a "relação
de alimentos que o ministro
José Dirceu aprecia". O pagamento dos lanches com dinheiro do suprimento de fundos
não é permitido. A CGU tem
recomendado, nesses casos, a
devolução do dinheiro.
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