São Paulo, terça, 21 de abril de 1998

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Venceslau destaca "pragmatismo' de Motta

LUIZ MAKLOUF CARVALHO
da Reportagem Local

"Extremamente pragmático." É assim que o economista Paulo de Tarso Venceslau, 54, ex-integrante do PT, define Sérgio Mota.
O ministro havia sido recentemente acusado por Luis Inácio Lula da Silva e outros dirigentes do PT de estar por trás da entrevista em que o economista denunciou suposto tráfico de influência entre parte a direção do partido e a empresa de consultoria CPEM.
Expulso do partido, Venceslau está sendo processado por Lula e José Dirceu, entre outros dirigentes. E está processando Lula em relação às declarações de que o governo FHC e Sérgio Motta tiveram a ver com as denúncias que fez.
Ex-dirigente da ALN (Ação Libertadora Nacional, que praticava a luta armada), ex-guerrilheiro (participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em setembro de 69), ex-preso político torturado, Venceslau foi estagiário da empresa de Sérgio Mota, a Hidrobrasileira, no período imediatamente posterior à sua saída da Casa de Detenção (em 74), cinco anos e dois meses depois de ser preso.
"Eu precisava provar à Justiça Militar que tinha um emprego regular - e foi o "Serjão' que viabilizou isso, depois de um contato com meu advogado, Luiz Eduardo Greenhalg", lembrou Venceslau.
"Não fui o único dos militantes que ele ajudou. A Clara Scharf (viúva de Carlos Marighela) e o Duarte Pereira também trabalharam lá", disse.
Venceslau define a relação daquela época com Mota como "cordial". Lembra-se que no dia de seu casamento com a dramaturga Consuelo de Castro, em junho de 75, os dois foram comemorá-lo em uma festa na casa de Motta. "Ele também mexia com produção teatral", lembra o economista, para quem Motta "era um homem que decidia, o que gerava conflitos e controvérsias".
A relação regular entre os dois durou até o final dos anos 70, quando Venceslau era diretor do jornal "Versus" e Motta, uma espécie de mecenas do jornal "Movimento". "Ele levou o pragmatismo às últimas consequências no governo FHC", diz o economista. "Minhas divergências eram à política que vinha desenvolvendo -e não pessoais".
Na avaliação do economista, a morte de Motta "vai facilitar que FHC se torne um refém dos "ACMs da vida'". "O Serjão era uma barreira ao cerco tático e estratégico feito peo PFL", acredita. "O PSDB ficou enfraquecido".



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