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PERSONALIDADE
Jereissati, Serra, Covas e Pimenta podem suceder parcialmente a Motta na disputa do PSDB com o PFL
Morte compromete plano tucano para 99
KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
A morte do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, compromete o projeto de independência
do presidente Fernando Henrique
Cardoso no seu eventual segundo
mandato. O PSDB pretende assumir uma parcela maior de poder
em 99, diminuindo a influência
dos outros partidos aliados, especialmente a do PFL.
Motta personificava esse plano.
Ele assumiria a linha de frente do
confronto com os aliados, servindo de anteparo para FHC.
Radicalizaria, por exemplo, o
contraponto que fazia a Antonio
Carlos Magalhães, principal líder
do PFL, partido que já anunciou
que terá candidato próprio à sucessão de Fernando Henrique
Cardoso em 2002.
A cúpula tucana avalia que não
tem ninguém que reúna todas as
características de Motta: 1) intimidade antiga e cumplicidade com o
presidente; 2) articulador político
com audácia para brigar com os
aliados e adversários; 3) um trator
nas negociações com o Congresso
e nos afazeres de governo; e 4) um
comandante de campanhas com
vasta experiência logística (arrecadação de recursos e montagem de
infra-estrutura eleitoral).
Nesse quadro, emergem dois
nomes no tucanato que podem,
no curto prazo, substituir Motta
parcialmente: o governador do
Ceará, Tasso Jereissati, e o ministro da Saúde, José Serra.
Jereissati não deverá ser candidato à reeleição. Está finalizando
uma aliança informal no Ceará
com Ciro Gomes, ex-tucano e presidenciável do PPS. Os dois devem
apoiar o mesmo candidato ao governo do Estado: o presidente da
Assembléia, Luís Pontes, do
PSDB.
Com isso, Jereissati ficaria livre
para ser uma espécie de ministro
sem pasta durante a campanha
eleitoral e se credenciaria para assumir um posto importante num
eventual segundo governo. Problema: não tem o estilo trator de
"Serjão", é um conciliador.
Pela proximidade com FHC e
pelo fato de agora passar a ser o
principal ministro do PSDB, Serra
deve ser chamado a desempenhar
um papel mais ativo no projeto tucano de independência.
Entretanto, o ministro da Saúde,
visto pelo PFL como presidenciável em 2002, já se tornou o principal alvo dos pefelistas. Serra ainda
tem dificuldade de trânsito em setores do Congresso, o que tornaria
sua interlocução menos eficiente
do que a de Jereissati.
No médio e longo prazos, há
mais dois tucanos que podem se
somar a Jereissati e a Serra na tentativa de suprir a ausência política
de Motta: Mário Covas, governador de São Paulo, e Pimenta da
Veiga, ex-presidente do PSDB e
candidato a deputado federal por
Minas Gerais.
Jereissati e Serra atuariam mais
como porta-vozes oficiosos do
presidente Fernando Henrique
Cardoso, enquanto Covas e Pimenta podem se credenciar para
tratar mais dos objetivos do PSDB.
Para assumir essa função, Covas
precisará ter um bom desempenho na eleição paulista. Deverá
ainda diminuir o nível de divergências políticas e administrativas
que tem tido com FHC. Exemplos:
não engole a boa relação do Planalto com Paulo Maluf (PPB), seu
adversário em São Paulo, e se atritou com o Planalto devido à Lei
Kandir (isenção de ICMS, um imposto arrecadado pelo Estado, sobre as exportações).
Pimenta da Veiga precisa recuperar seu cacife com uma boa votação em Minas Gerais e ser reconhecido como uma das principais
lideranças do partido no Congresso e na articulação política. Ele
tem sido um interlocutor frequente do presidente e estava se reaproximando de Motta, com quem brigou em 95.
O sonho tucano
A estratégia de independência
tucana, traçada por FHC e Motta,
divide-se em três pontos: reeleger
FHC no primeiro turno, formar
uma bancada forte no Congresso
(o PSDB seria o núcleo majoritário, mas haveria parlamentares
"fernandistas" de outros partidos) e limitar o espaço de PFL,
PMDB, PPB e PTB na formação do
novo ministério.
A reeleição de FHC no primeiro
turno fortaleceria o presidente na
negociação com os aliados. Essa
vitória seria vista como uma aprovação incontestável do primeiro
mandato e deixaria claro para os
aliados que eles dependem mais
do presidente do que o contrário.
Nesse cenário, o governo planeja
uma investida congressual no final deste ano, tentando aprovar
mudanças constitucionais que
tornem realidade as reformas política e tributária.
Assim, o governo começaria o
ano de 99 livre do que Sérgio Motta chamava de "relação incestuosa" com o Congresso. O governo poderia enfatizar o lado administrativo, especialmente nas pastas sociais.
O atual mandato foi marcado
pela dependência de três quintos
dos votos dos parlamentares para
aprovar as reformas.
Se a disputa pela reeleição for
para o segundo turno, significará
uma vitória eleitoral de FHC, mas
uma derrota política diante das
forças que o apóiam, que cobrariam mais espaço na montagem
do ministério.
Para compor uma bancada
"fernandista" de 150 deputados
federais, Motta estimava eleger de
100 a 110 deputados tucanos. O
resto viria de outros partidos
-uma parcela poderia se filiar ao
PSDB após as eleições.
A morte de Motta põe em xeque
o estilo conciliador demais de Fernando Henrique Cardoso. Agora,
se quiser levar a cabo o plano de
independência desenhado junto
com o melhor amigo, o presidente
também terá que ser um dos tucanos a assumir parte do papel de
Motta. Do contrário, arrisca-se a
continuar refém do PFL e dos demais aliados no novo mandato
que tem que conquistar nas eleições de outubro.
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