São Paulo, terça, 21 de abril de 1998

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PERSONALIDADE
Jereissati, Serra, Covas e Pimenta podem suceder parcialmente a Motta na disputa do PSDB com o PFL
Morte compromete plano tucano para 99


KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

A morte do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, compromete o projeto de independência do presidente Fernando Henrique Cardoso no seu eventual segundo mandato. O PSDB pretende assumir uma parcela maior de poder em 99, diminuindo a influência dos outros partidos aliados, especialmente a do PFL.
Motta personificava esse plano. Ele assumiria a linha de frente do confronto com os aliados, servindo de anteparo para FHC.
Radicalizaria, por exemplo, o contraponto que fazia a Antonio Carlos Magalhães, principal líder do PFL, partido que já anunciou que terá candidato próprio à sucessão de Fernando Henrique Cardoso em 2002.
A cúpula tucana avalia que não tem ninguém que reúna todas as características de Motta: 1) intimidade antiga e cumplicidade com o presidente; 2) articulador político com audácia para brigar com os aliados e adversários; 3) um trator nas negociações com o Congresso e nos afazeres de governo; e 4) um comandante de campanhas com vasta experiência logística (arrecadação de recursos e montagem de infra-estrutura eleitoral).
Nesse quadro, emergem dois nomes no tucanato que podem, no curto prazo, substituir Motta parcialmente: o governador do Ceará, Tasso Jereissati, e o ministro da Saúde, José Serra.
Jereissati não deverá ser candidato à reeleição. Está finalizando uma aliança informal no Ceará com Ciro Gomes, ex-tucano e presidenciável do PPS. Os dois devem apoiar o mesmo candidato ao governo do Estado: o presidente da Assembléia, Luís Pontes, do PSDB.
Com isso, Jereissati ficaria livre para ser uma espécie de ministro sem pasta durante a campanha eleitoral e se credenciaria para assumir um posto importante num eventual segundo governo. Problema: não tem o estilo trator de "Serjão", é um conciliador.
Pela proximidade com FHC e pelo fato de agora passar a ser o principal ministro do PSDB, Serra deve ser chamado a desempenhar um papel mais ativo no projeto tucano de independência.
Entretanto, o ministro da Saúde, visto pelo PFL como presidenciável em 2002, já se tornou o principal alvo dos pefelistas. Serra ainda tem dificuldade de trânsito em setores do Congresso, o que tornaria sua interlocução menos eficiente do que a de Jereissati.
No médio e longo prazos, há mais dois tucanos que podem se somar a Jereissati e a Serra na tentativa de suprir a ausência política de Motta: Mário Covas, governador de São Paulo, e Pimenta da Veiga, ex-presidente do PSDB e candidato a deputado federal por Minas Gerais.
Jereissati e Serra atuariam mais como porta-vozes oficiosos do presidente Fernando Henrique Cardoso, enquanto Covas e Pimenta podem se credenciar para tratar mais dos objetivos do PSDB.
Para assumir essa função, Covas precisará ter um bom desempenho na eleição paulista. Deverá ainda diminuir o nível de divergências políticas e administrativas que tem tido com FHC. Exemplos: não engole a boa relação do Planalto com Paulo Maluf (PPB), seu adversário em São Paulo, e se atritou com o Planalto devido à Lei Kandir (isenção de ICMS, um imposto arrecadado pelo Estado, sobre as exportações).
Pimenta da Veiga precisa recuperar seu cacife com uma boa votação em Minas Gerais e ser reconhecido como uma das principais lideranças do partido no Congresso e na articulação política. Ele tem sido um interlocutor frequente do presidente e estava se reaproximando de Motta, com quem brigou em 95.
O sonho tucano
A estratégia de independência tucana, traçada por FHC e Motta, divide-se em três pontos: reeleger FHC no primeiro turno, formar uma bancada forte no Congresso (o PSDB seria o núcleo majoritário, mas haveria parlamentares "fernandistas" de outros partidos) e limitar o espaço de PFL, PMDB, PPB e PTB na formação do novo ministério.
A reeleição de FHC no primeiro turno fortaleceria o presidente na negociação com os aliados. Essa vitória seria vista como uma aprovação incontestável do primeiro mandato e deixaria claro para os aliados que eles dependem mais do presidente do que o contrário.
Nesse cenário, o governo planeja uma investida congressual no final deste ano, tentando aprovar mudanças constitucionais que tornem realidade as reformas política e tributária.
Assim, o governo começaria o ano de 99 livre do que Sérgio Motta chamava de "relação incestuosa" com o Congresso. O governo poderia enfatizar o lado administrativo, especialmente nas pastas sociais.
O atual mandato foi marcado pela dependência de três quintos dos votos dos parlamentares para aprovar as reformas.
Se a disputa pela reeleição for para o segundo turno, significará uma vitória eleitoral de FHC, mas uma derrota política diante das forças que o apóiam, que cobrariam mais espaço na montagem do ministério.
Para compor uma bancada "fernandista" de 150 deputados federais, Motta estimava eleger de 100 a 110 deputados tucanos. O resto viria de outros partidos -uma parcela poderia se filiar ao PSDB após as eleições.
A morte de Motta põe em xeque o estilo conciliador demais de Fernando Henrique Cardoso. Agora, se quiser levar a cabo o plano de independência desenhado junto com o melhor amigo, o presidente também terá que ser um dos tucanos a assumir parte do papel de Motta. Do contrário, arrisca-se a continuar refém do PFL e dos demais aliados no novo mandato que tem que conquistar nas eleições de outubro.



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