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SISTEMA FINANCEIRO
CPI investiga se houve favorecimento pré-mudança cambial
Bilhete atribuído a Lopes
ordena operação bancária
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Um bilhete cuja autoria foi
atribuída pelo
Ministério Público ao ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes contendo orientações sobre operações
financeiras da empresa de consultoria Macrométrica, encontrado
no apartamento de Lopes, é apontada como uma das peças mais importante das investigações por um
detalhe: a data.
O bilhete foi escrito em 21 de dezembro do ano passado, quando
Lopes já elaborava a nova política
cambial sob encomenda do presidente Fernando Henrique Cardoso. A tarefa foi dada por FHC ao
então diretor de Política Econômica do BC em outubro. O calendário
secreto do governo previa a desvalorização do real em fevereiro.
O documento será submetido a
exame grafotécnico pelos procuradores, para que seja comprovado
se ele foi redigido por Lopes.
O ex-presidente do BC, que não
depôs anteontem na CPI dos Bancos sob a alegação de que precisava
permanecer no Rio, passou os últimos dois dias em Brasília.
Lopes chegou à cidade no início
da tarde de anteontem e se hospedou no hotel Kubitschek Plaza.
Não quis falar com a reportagem.
Nas instruções para operações
da Macrométrica, aparece o nome
de Ciça, apelido de Araci Pugliese,
mulher de Lopes. Ela também é sócia da empresa, que presta consultoria e informações nas áreas econômica e de mercados financeiros.
O apelido aparece no bilhete junto com o de outros três personagens, Bruno, Fábio e sr. Ivo. O primeiro seria Bruno Pugliese, filho
de Ciça. Os outros dois ainda não
haviam sido identificados pelo Ministério Público nem pela CPI dos
Bancos. O texto é assinado por Fábio, Ciça e Bruno, embora a letra
seria de Lopes segundo o Ministério Público.
No bilhete, fica acertado que Fábio encerrará conta no Banco Itaú
e em qualquer outro banco, não
podendo abrir nova conta corrente durante 36 meses. E que Fábio
iria transferir sua participação na
Macrométrica Sistemas para Ciça.
A existência do documento e seu
conteúdo foram relatados anteontem à noite aos senadores da CPI
pelo procurador da República do
Rio Arthur Gueiros.
O bilhete é apontado como uma
eventual prova de que Lopes continuava operando a empresa de consultoria no momento em que era
detentor de um dos mais importantes segredos do governo.
Esse fato seria tão ou mais difícil
de Lopes explicar quanto a existência de um depósito de US$ 1,675
milhão no exterior, indicada em
outro bilhete encontrado no apartamento do ex-presidente do BC.
A suspeita investigada é de que as
informações com que Lopes lidava
teriam sido usadas para benefício
próprio, em operações do mercado futuro de câmbio, já que havia
orientações detalhadas sobre como movimentar o dinheiro da empresa.
Serão cobradas explicações de
Lopes no depoimento à CPI, adiado para a próxima segunda-feira.
A Macrométrica é administrada
pelos irmãos Sérgio e Luiz Augusto
Bragança, apontados pela revista
""Época" como personagens do vazamento de informações privilegiadas aos bancos Marka e FonteCindam, socorridos com dinheiro
público durante a curta passagem
de Lopes pela presidência do BC.
O diretor de sistemas da Macrométrica, Fábio Lyrio, disse ontem
que a empresa de consultoria não
se manifestará sobre as investigações a respeito do caso Marka.
"A Macrométrica não tem nada a
ver com essa questão", afirmou
Lyrio. No final da tarde, a empresa
divulgou nota reafirmando "o
compromisso de seriedade e respeito aos seus clientes com que
tem se pautado durante os seus 14
anos de existência no mercado".
Sérgio Bragança não foi localizado. Lopes fundou a empresa com
Bragança, mas desligou-se quando
assumiu a diretoria de Política
Econômica do BC, em 95.
Sua mulher, Ciça, com quem não
é casado oficialmente, seguiu sócia
na empresa.
Colaboraram da Sucursal de Brasília
e a Sucursal do Rio
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