São Paulo, Quarta-feira, 21 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Ministério Público investiga lista de telefonemas recebidos por Francisco Lopes no Banco Central
Juíza autoriza quebra de sigilo judicial

ELVIRA LOBATO
CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio


A juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Federal, autorizou ontem a quebra do sigilo judicial de toda a documentação apreendida nas casas do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes e do banqueiro Alberto Cacciola e nas dependências dos bancos Marka e FonteCindam e da empresa Macrométrica.
A quebra do segredo de justiça tornará disponível apenas parte da documentação. As que envolvem sigilo de correspondência, bancário e fiscal continuam protegidas.
O Ministério Público Federal está investigando uma lista de quatro folhas apreendidas na casa de Lopes com ligações telefônicas que ele recebeu em janeiro, no Banco Central.
No período, Lopes passou de diretor de Política Monetária a presidente do Banco Central e comandou a operação de socorro aos bancos FonteCindam e Marka que está sendo investigada pelo Senado, Polícia Federal e Procuradoria da República.
A lista estava entre os 152 itens apreendidos pela Polícia Federal na casa de Francisco Lopes e entregues pelo Ministério Público à Justiça Federal. Foram recolhidos também artigos inúteis, como caixas vazias de canetas e óculos.
Ontem, a juíza autorizou apenas a divulgação da lista dos itens apreendidos, com a descrição parcial de alguns deles. Os documentos serão submetidos a perícia antes de se tornarem públicos.
O auto de apreensão dos documentos encontrados na casa de Francisco Lopes confirma o bilhete escrito em agosto de 1996 por Sérgio Bragança -ex-sócio de Lopes na Macrométrica Consultoria Econômica- no qual declara a existência de US$ 1,675 milhão sob sua custódia no exterior pertencente ao ex-presidente do BC.
O teor do bilhete é o seguinte: ""Eu, Sérgio Luiz Bragança, venho declarar que Francisco Lopes tem sob minha custódia US$ 1.675.000,00 (hum milhão e seiscentos e setenta e cinco mil dólares) depositados em minhas contas no exterior. Esse crédito pode ser exigido a qualquer momento e, no caso de meu impedimento, por qualquer motivo, deve ser honrado por quem venha a me representar. Essa manifestação anula as outras declarações de mesma natureza feitas anteriormente. Sem mais, subscrevo-me abaixo".
O bilhete foi encontrado dentro de um envelope pardo, onde estava escrito: ""Para Ciça (abrir se eu faltar)". Ciça é o apelido de Araci Pugliese, mulher de Lopes.
Outros dois bilhetes foram listados pela Procuradoria, mas seus teores estão riscados nas cópias distribuídas ontem pela Justiça. No primeiro só é possível ler as palavras ""fundos derivativos".
Também está presente no material distribuído ontem o teor do bilhete enviado por Cacciola a Lopes reclamando do rigor do ex-diretor de Fiscalização do BC Claudio Mauch na liberação do socorro pedido para o banco Marka.
O bilhete foi a justificativa dada pela juíza da 6ª Vara Federal para autorizar a busca na casa de Lopes.
No carro de Lopes, um Tempra, foi encontrada cópia de um extrato bancário de uma conta de poupança do ex-presidente do BC. O extrato, do mês de março, foi endereçado à Macrométrica, empresa da qual Lopes estava formalmente afastado desde o começo de 95, quando foi para o BC.
Foi o encontro desse extrato que levou a Procuradoria da República a pedir e obter da Justiça autorização para fazer uma busca na sede da Macrométrica, no centro do Rio.


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