São Paulo, Quarta-feira, 21 de Abril de 1999
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PF investiga participação de militares

da Sucursal de Brasília

A Polícia Federal e o Ministério da Aeronáutica investigam há seis meses a suposta participação de militares no tráfico internacional de cocaína e o eventual envolvimento dos grandes cartéis do narcotráfico no crime.
Segundo apurou a Agência Folha, na operação, batizada de ""Mar aberto, conexão Rio", os policiais investigam ainda a utilização de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) como meio de transporte da droga para outros países.
O uso dos aparelhos foi sinalizado anteontem, com a apreensão de 32,96 quilos de cocaína em um cargueiro Hercules C-130 da FAB. O avião, de prefixo 2466, foi retido na base aérea de Recife, durante escala técnica.
O cargueiro, que pertence ao 1º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação do Rio de Janeiro, especializado no transporte de tropas, seguiria para Palma de Mallorca, na Espanha, de onde retornaria carregado com peças de reposição para a FAB.
A droga estava guardada em duas malas comuns, de cor azul marinho. Os 30 pacotes estavam cobertos com uma espécie de algodão sintético e embrulhados em papéis decorados com desenhos de personagens como o Mickey.
No caso da cocaína apreendida, a suspeita é de que os sinais indiquem que foi fornecida pelo cartel de Cali, na Colômbia. Testes feitos pela PF revelaram que o grau de pureza da droga é de 98,96%.
Para confirmar que haveria tráfico internacional, os policiais aguardaram que o avião se posicionasse na pista para decolagem. Só após o comandante do cargueiro pedir autorização para a partida, o vôo foi abortado.
Os cinco tripulantes do avião foram detidos e começaram a ser interrogados ontem. O Ministério da Aeronáutica determinou a instauração de Inquérito Policial Militar para apurar o caso.
Em nota oficial, o órgão, por meio de seu Centro de Comunicação Social, considerou o fato ""um caso isolado" e informou que ""novas medidas de controle estão sendo adotadas" para impedir a ocorrência de ""fatos semelhantes".
Na nota, o ministério afirma ainda que os tripulantes do cargueiro supostamente dois oficiais e três sargentos não foram presos.
Segundo o documento, eles permanecem na Base Aérea de Recife apenas para ""prestar informações" que possam ""contribuir para os trabalhos de investigação".
O Ministério da Aeronáutica classificou de "caso isolado" a apreensão. A nota afirma que a operação "foi planejada e conduzida pela Aeronáutica, com o apoio da Polícia Federal".
"As investigações, que vinham sendo realizadas pelo Centro de Inteligência da Aeronáutica, cercadas do grau de sigilo que a atuação requeria, atingiram o objetivo de colher provas materiais", diz a nota da Aeronáutica.
Ainda segundo a Aeronáutica, a ação "neutralizou a tentativa de utilização de aeronaves militares para fins de tráfico".
A Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) não foi informada previamente da operação. O subsecretário de Coordenação de Repressão da Senad, Newton Mousinho, disse que necessita de cópia do inquérito policial-militar para acionar os órgãos de repressão na Europa, uma vez que a cocaína tinha como destino o continente.


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