São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Petista diz que pretende "assumir os compromissos assumidos por este país" e nega "ruptura" com o Fundo

Lula aceita fazer novo acordo com o FMI

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A BLUMENAU

Adotando um tom conciliador que contradiz recentes declarações partidárias, o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma defesa ontem da renegociação do acordo com o FMI e do respeito aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
"Obviamente vai caber à atual equipe econômica até 31 de dezembro [último dia do governo Fernando Henrique Cardoso" fazer o acordo necessário [com o Fundo". Se não fizer, vamos ter de fazer, porque nós pretendemos assumir os compromissos assumidos por este país", declarou Lula durante visita a Blumenau (SC).
A renegociação do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) deverá ser uma das primeiras tarefas do novo governo, já que o atual vence em dezembro.
O discurso moderado de Lula contrasta com declarações sobre o tema dadas recentemente. No documento de diretrizes para o programa de governo petista, aprovado em dezembro, o PT fala claramente em "denunciar do ponto de vista político e jurídico o acordo atual com o FMI".
Petistas também defenderam uma "ruptura" com o atual modelo. Em entrevista à Folha no último dia 3, o principal assessor econômico de Lula, Guido Mantega, afirmou que "não há razão para prorrogar o acordo. O Brasil não deve nada ao Fundo é já é crescidinho para ter um tutor".
Lula, no entanto, fez questão de demonstrar ontem que não pretende adotar medidas tão radicais. "É preciso honrar os compromissos, porque não estamos jogando sozinhos, estamos jogando com parceiros. E precisamos saber que esses parceiros também têm seus interesses", declarou.
Sua nova atitude surge algumas semanas depois de alguns bancos estrangeiros terem manifestado preocupação com as intenções de um eventual governo petista na manutenção dos compromissos de contratos assumidos pelo Brasil. Alguns deles chegaram a rebaixar a recomendação para compra de títulos da dívida brasileira.
Segundo o presidenciável, a negociação com o Fundo tem de "fazer com que o acordo seja mais favorável ao Brasil do que é hoje".

Chute na barriga
Lula previu uma onda de ataques a sua pré-candidatura. Mas disse que vai se manter "sereno" com relação a eles. "Vão bater muito em nós. Vão tentar colocar dúvida na cabeça do eleitor. Vão querer saber se na barriga da minha mãe eu chutava e, portanto, era agitador", afirmou Lula, durante jantar na Associação dos Funcionários da Artex -empresa que faz parte do conglomerado têxtil comandado pelo senador José Alencar (PL-MG), cotado para ser vice na chapa de Lula.

"Grande negociador"
Pela manhã, em entrevista à rádio CBN em São Paulo, Lula também rechaçou a idéia de "ruptura". "Nossa ruptura será radical contra o modelo excludente, com a fome e a miséria, não com a estabilidade econômica", afirmou.
Na entrevista, que durou uma hora e meia, repetiu várias vezes que, caso eleito, será um "grande negociador de um novo pacto nacional". "Farei um governo dos grandes acordos políticos sobre os conflitos existentes neste país. Passei minha vida fazendo acordos políticos como metalúrgico. Quem neste país negociou mais do que eu?", perguntou.
Lula foi questionado sobre os ternos que tem usado. "Não sei por que as pessoas se incomodam com gravata. As pessoas se incomodam com a evolução da espécie humana. Isso é preconceito: não é porque fui metalúrgico que tenho de passar a vida de macacão, de unha suja de graxa e sandália. Agora não estou usando terno [do estilista italiano Giorgio" Armani, mas quero usar um dia. Meu preconceito é contra a fome e a prostituição infantil."
Sobre reforma política, o petista se disse contrário ao voto obrigatório -frisando ser uma opinião sua e não do partido- e à reeleição de prefeitos e governadores.
Lula também respondeu sobre uma declaração sua sobre a possibilidade de criar uma alíquota de 50% do Imposto de Renda da Pessoa Física. "Não é justo quem ganha R$ 3.000 ser descontado em 27,5%. A taxa máxima pode chegar a 30% e 40%, mas não para salários baixos. Isso não é do programa do PT, é minha opinião."


Colaborou LIEGE ALBUQUERQUE, da Reportagem Local



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