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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Petista diz que pretende "assumir os compromissos assumidos por este país" e nega "ruptura" com o Fundo
Lula aceita fazer novo acordo com o FMI
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A BLUMENAU
Adotando um tom conciliador
que contradiz recentes declarações partidárias, o presidenciável
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez
uma defesa ontem da renegociação do acordo com o FMI e do
respeito aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
"Obviamente vai caber à atual
equipe econômica até 31 de dezembro [último dia do governo
Fernando Henrique Cardoso" fazer o acordo necessário [com o
Fundo". Se não fizer, vamos ter de
fazer, porque nós pretendemos
assumir os compromissos assumidos por este país", declarou Lula durante visita a Blumenau (SC).
A renegociação do acordo com
o FMI (Fundo Monetário Internacional) deverá ser uma das primeiras tarefas do novo governo,
já que o atual vence em dezembro.
O discurso moderado de Lula
contrasta com declarações sobre
o tema dadas recentemente. No
documento de diretrizes para o
programa de governo petista,
aprovado em dezembro, o PT fala
claramente em "denunciar do
ponto de vista político e jurídico o
acordo atual com o FMI".
Petistas também defenderam
uma "ruptura" com o atual modelo. Em entrevista à Folha no último dia 3, o principal assessor
econômico de Lula, Guido Mantega, afirmou que "não há razão
para prorrogar o acordo. O Brasil
não deve nada ao Fundo é já é
crescidinho para ter um tutor".
Lula, no entanto, fez questão de
demonstrar ontem que não pretende adotar medidas tão radicais. "É preciso honrar os compromissos, porque não estamos
jogando sozinhos, estamos jogando com parceiros. E precisamos
saber que esses parceiros também
têm seus interesses", declarou.
Sua nova atitude surge algumas
semanas depois de alguns bancos
estrangeiros terem manifestado
preocupação com as intenções de
um eventual governo petista na
manutenção dos compromissos
de contratos assumidos pelo Brasil. Alguns deles chegaram a rebaixar a recomendação para compra de títulos da dívida brasileira.
Segundo o presidenciável, a negociação com o Fundo tem de "fazer com que o acordo seja mais favorável ao Brasil do que é hoje".
Chute na barriga
Lula previu uma onda de ataques a sua pré-candidatura. Mas
disse que vai se manter "sereno"
com relação a eles. "Vão bater
muito em nós. Vão tentar colocar
dúvida na cabeça do eleitor. Vão
querer saber se na barriga da minha mãe eu chutava e, portanto,
era agitador", afirmou Lula, durante jantar na Associação dos
Funcionários da Artex -empresa que faz parte do conglomerado
têxtil comandado pelo senador
José Alencar (PL-MG), cotado para ser vice na chapa de Lula.
"Grande negociador"
Pela manhã, em entrevista à rádio CBN em São Paulo, Lula também rechaçou a idéia de "ruptura". "Nossa ruptura será radical
contra o modelo excludente, com
a fome e a miséria, não com a estabilidade econômica", afirmou.
Na entrevista, que durou uma
hora e meia, repetiu várias vezes
que, caso eleito, será um "grande
negociador de um novo pacto nacional". "Farei um governo dos
grandes acordos políticos sobre
os conflitos existentes neste país.
Passei minha vida fazendo acordos políticos como metalúrgico.
Quem neste país negociou mais
do que eu?", perguntou.
Lula foi questionado sobre os
ternos que tem usado. "Não sei
por que as pessoas se incomodam
com gravata. As pessoas se incomodam com a evolução da espécie humana. Isso é preconceito:
não é porque fui metalúrgico que
tenho de passar a vida de macacão, de unha suja de graxa e sandália. Agora não estou usando
terno [do estilista italiano Giorgio" Armani, mas quero usar um
dia. Meu preconceito é contra a
fome e a prostituição infantil."
Sobre reforma política, o petista
se disse contrário ao voto obrigatório -frisando ser uma opinião
sua e não do partido- e à reeleição de prefeitos e governadores.
Lula também respondeu sobre
uma declaração sua sobre a possibilidade de criar uma alíquota de
50% do Imposto de Renda da Pessoa Física. "Não é justo quem ganha R$ 3.000 ser descontado em
27,5%. A taxa máxima pode chegar a 30% e 40%, mas não para salários baixos. Isso não é do programa do PT, é minha opinião."
Colaborou LIEGE ALBUQUERQUE, da
Reportagem Local
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