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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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ELIO GASPARI

FFHH roga uma praga para Lula

Uma das características de FFHH que mais caro custaram ao tucanato foi o toque de deboche com que às vezes enfeitava sua retórica. Coisas como "neobobos" ou "vida de rico, em geral, é muito chata". Custou tanto quanto a ligeireza com que se referia ao desastroso desempenho de sua política econômica. Em março de 2000, por exemplo, saiu-se com essa: "Chegou a hora de colher os frutos. Daqui por diante, é desenvolvimento, bem-estar e prosperidade". Produziu estagnação, desemprego e ruína.
Deve ter sido uma mistura de deboche com ligeireza que o levou a desejar o seguinte a Lula: "Que ele seja fiel a ele mesmo, aos seus impulsos e à esperança do povo que o elegeu e continue levando o Brasil por esse caminho".
Há mais veneno nessas 26 palavras do que em todo o estoque do Instituto Butantan.
A desgraça brasileira se chama estagnação, desemprego e aviltamento do trabalho. Isso tem sido imposto à patuléia por estetas do fracasso que se apresentam como detentores de uma forma superior de conhecimento. Eles destruíram o compromisso da sociedade brasileira com o desenvolvimento econômico.
Pela primeira vez desde 1930 um grupo de administradores do futuro nacional anatemizou o desenvolvimento. Durante quase 70 anos o Brasil teve todo tipo de gente na política, liberais, comunistas, larápios, integralistas, guerrilheiros, trabalhistas, assassinos e até um suicida. Todos tinham compromisso com o crescimento econômico.
Desde 1995 o brasileiro vem sendo ludibriado. A cada janeiro prometem-lhe crescimento econômico, mais empregos e menos impostos. A cada dezembro entregam-lhe estagnação, desemprego e impostos. FFHH recebeu o país com uma carga tributária de 28,6% do PIB e entregou-o com 35,86. Se ninguém fizer nada, Lula encosta nos 40%.
Um trabalho da Secretaria de Desenvolvimento da Prefeitura de São Paulo mostra o que vem a ser o caminho de impostos, juros altos e promessas de progresso.
Entre 1940 e 1980, de cada dez postos de trabalho que se abriam, oito eram assalariados, sete dos quais com carteira assinada. A partir de 1990, de cada dez postos de trabalho, só três eram assalariados, um com carteira assinada e dois informais (ilegais, explica o trabalho). Entre 1989 e 2001, o número de desempregados passou de 1,9 milhão para 7,8 milhões de almas.
Destruíram-se 7,5 milhões de ocupações com salários acima de dois salários mínimos, criando-se 19,5 milhões de postos de trabalho abaixo dessa linha. (O que não significa que os pobres se empregaram, apenas que os empregados ficaram pobres.)
Pode-se dizer que isso são estatísticas e que é mais fácil manipular um número do que descascar uma banana. Para os tucanos, importante mesmo é a estatura internacional de FFHH. Pelos petistas, fala o senador Tião Viana. Menciona, num só artigo, Norberto Bobbio, Rosa Luxemburgo, Lênin, Bossuet, Trostsky, Habermas e Umberto Cerroni, pede passagem e informa que Lula já é "a maior liderança da América Latina".
Para os demais, uma informação útil: em 2001, ano em que a economia cresceu 1,5%, o setor de segurança privada avançou 26,8%, faturando R$ 6 bilhões e empregando perto de 340 mil pessoas. No Rio a expansão foi de 56%, e, em São Paulo, de 52%.


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