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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Invasões ocorreram em Alagoas e Mato Grosso; em Pernambuco, houve confronto entre sem-terra e seguranças

MST invade banco e prefeitura e faz 2 reféns

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TRACUNHAÉM (PE)
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

No dia em que uma de suas principais lideranças demonstrou publicamente sua impaciência com o governo federal, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu uma agência bancária em Maceió (AL), a Prefeitura de Pedra Branca (MT) e manteve dois seguranças reféns em Tracunhaém (PE).
"Paciência e fé têm limites", disse ontem João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST (leia texto nesta página).
No interior de Pernambuco, sem-terra entraram em confronto com seguranças da usina Santa Teresa, que controla o engenho Prado, invadido, depredado e incendiado anteontem pelos lavradores. Também anteontem, sem-terra ligados ao MST invadiram a Prefeitura de Salto do Céu (MT).
Em Tracunhaém, no acampamento dos sem-terra, cinco tiros foram disparados, e uma motocicleta foi incendiada durante o conflito, ocorrido durante a visita do ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho.
Silva Filho ouvia a versão dos trabalhadores rurais sobre o ataque ao engenho quando um grupo com cerca de 20 acampados, em uma camionete, saiu em perseguição a dois seguranças que se posicionaram com motocicletas a 500 metros do acampamento.
A Agência Folha acompanhou a perseguição, iniciada em uma estrada vicinal e encerrada no meio de um canavial. Na estrada, dois tiros foram disparados quando os lavradores, portando foices, facões e pedaços de pau, desceram da camionete e tentaram cercar os funcionários da usina.
Os seguranças conseguiram fugir com as motos e entraram no meio de um canavial. Os lavradores mantiveram a perseguição a pé até conseguir cercá-los na lavoura. Mais três tiros foram disparados, mas ninguém se feriu.
Os dois funcionários da empresa ergueram as mãos e se renderam. Os sem-terra seguraram em seus braços e os levaram até a entrada do acampamento. Uma das motos foi incendiada no local.
Com coldres e munição na cintura, eles confirmaram que estavam armados com revólveres calibre 38. Entretanto, negaram ter atirado contra os lavradores. Disseram que não ouviram tiros durante a perseguição e que jogaram suas armas no mato. Os lavradores, ligados ao MST e à CPT (Comissão Pastoral da Terra), também negaram estar armados.
Silva Filho disse ter se surpreendido com o confronto. "Confesso que não imaginava que a situação estivesse tão acirrada."
Os funcionários da usina foram entregues a quatro PMs. O comandante do grupo, que se identificou como sargento Ivan, não informou por que eles não agiram. No início da noite, representantes do Ministério Público Federal, da Promotoria Estadual, do governo de PE, do Incra e dos sem-terra se reuniram em Recife para iniciar a discussão sobre como agilizar o processo de desapropriação da área.
Ontem, o Ministério do Desenvolvimento Agrário não quis comentar os incidentes no campo.
Em Maceió, por volta das 11h, cerca de 250 integrantes do MST invadiram uma agência do BNB (Banco do Nordeste), no centro da cidade. Segundo a PM, um policial foi ferido sem gravidade. Segundo o MST, "policiais mal preparados causaram o tumulto".
Os sem-terra deixaram o local às 13h30, segundo a PM. "Estamos cansados com a burocracia do governo", disse José Cícero Santino, coordenador do MST.


Colaboraram JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha, em Londrina, e HUDSON CORRÊA, da Agência Folha, em Campo Grande


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