São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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RETÓRICA OFICIAL

Presidente afirma que é preciso coragem para "fazer as coisas direito"

Na TV, Lula se diz disposto a pagar preço da incompreensão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO

No seu terceiro pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, às 20h10 de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, ao fazer as coisas "bem feitas", corre o risco de ser mal compreendido pela população. "Mas, se esse for o preço, eu pago esse preço. Fui eleito para mudar o Brasil. Essa é a minha missão, e dela não abro mão."
Lula falou sobre as "medidas duras" que teve de tomar. "Deus sabe como foi difícil para mim não dar já agora um aumento maior para o salário mínimo. Mas eu não podia fazer isso neste momento. O orçamento da Previdência não suportaria, e isso poderia comprometer todo o esforço já feito até agora", afirmou.
O governo fixou em abril o salário mínimo em R$ 260, aumento de R$ 20 (1,2% de reajuste real).
Segundo Lula, as medidas do governo começam a dar frutos. Depois de exibir páginas de diversos jornais, inclusive da Folha, com indícios de reaquecimento da economia, ele afirmou que "os sinais da retomada da atividade industrial são inequívocos".
Um dos argumentos utilizados foi o crescimento, em todas as 14 regiões pesquisadas, da produção industrial no mês de março divulgado na última segunda-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Citou também o aumento do número de postos de trabalho.
No entanto, pesquisa divulgada ontem pela Fundação Seade e pelo Dieese mostrou que a taxa de desemprego na região metropolitana de São Paulo atingiu o recorde histórico de 20,7% da população economicamente ativa. Apesar de a criação de vagas de trabalho também ter sido recorde (124 mil), mais pessoas (168 mil) estão em busca de uma oportunidade.
O pronunciamento marca os 500 dias do governo, completados no último dia 14, e tem como mote a viagem para a China -sua 23ª viagem internacional.
A abertura da gravação de sete minutos foi justamente com a viagem, que consumiu dois minutos e meio do vídeo. Lula classificou a ida à China como uma "missão de maior importância para o país".
O tema também foi assunto de inserções do PT feitas ontem na TV. As mensagens afirmam que a China é a economia que mais cresce no mundo e que o presidente está "atento a essa grande oportunidade". As inserções terminam com a frase: "Vai lá, Lula, e ajuda o Brasil".
Após falar sobre as oportunidades de comércio com a China, aparece no vídeo do pronunciamento de Lula a vinheta "Colocando o Brasil nos trilhos". Segundo ele, colocar o Brasil nos trilhos não era uma tarefa fácil. Sem citar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, voltou a reclamar da herança.
"Herdamos muitos problemas e um enorme desemprego. Todos nós assistimos no final de 2002 à subida da inflação e à redução que ela provocou na renda dos nossos trabalhadores. Por isso, a nossa prioridade era reduzir a inflação para estancar a queda do salário real e garantir o ajuste das contas públicas, viabilizando a queda dos juros e a retomada do desenvolvimento."
Lula comparou a taxa de juros do final de 2002, que estava em 25% ao ano, com a atual de 16% ao ano. A menção aos juros foi feita um dia depois que o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu manter a taxa Selic inalterada.
"Felizmente, as medidas duras que fomos obrigados a tomar durante todo o ano de 2003 estão surtindo os efeitos desejados. Não foi fácil, mas nada é fácil. Afinal, se queremos mudar o Brasil de verdade temos que traçar metas claras e regras firmes." Ele disse que, em alguns momentos, é preciso "fazer até alguns sacrifícios".
Sobre o risco de ser incompreendido, afirmou: "Mudar o Brasil, meus amigos, significa ter a coragem de fazer as coisas direito, bem feitas e para valer, como estou procurando fazer. Mesmo sabendo que durante um certo tempo corro o risco de ser mal compreendido pelo meu povo".
O vídeo foi gravado ontem à tarde, no gabinete presidencial, e foi supervisionado pelo marqueteiro Duda Mendonça. Segundo a Secretaria de Comunicação de Governo, o custo de produção foi R$ 35 mil, pagos à produtora Fábrica, que foi subcontratada pela agência Duda Mendonça, uma das três empresas responsáveis pela publicidade do governo. Foi gravado em película de 16 mm, em vez de betacam, usado na TV. No governo anterior, os pronunciamentos eram gravados pela Radiobrás.


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