|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETÓRICA OFICIAL
Presidente afirma que é preciso coragem para "fazer as coisas direito"
Na TV, Lula se diz disposto a
pagar preço da incompreensão
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
No seu terceiro pronunciamento em cadeia nacional de rádio e
TV, às 20h10 de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
disse que, ao fazer as coisas "bem
feitas", corre o risco de ser mal
compreendido pela população.
"Mas, se esse for o preço, eu pago
esse preço. Fui eleito para mudar
o Brasil. Essa é a minha missão, e
dela não abro mão."
Lula falou sobre as "medidas
duras" que teve de tomar. "Deus
sabe como foi difícil para mim
não dar já agora um aumento
maior para o salário mínimo. Mas
eu não podia fazer isso neste momento. O orçamento da Previdência não suportaria, e isso poderia comprometer todo o esforço já feito até agora", afirmou.
O governo fixou em abril o salário mínimo em R$ 260, aumento
de R$ 20 (1,2% de reajuste real).
Segundo Lula, as medidas do
governo começam a dar frutos.
Depois de exibir páginas de diversos jornais, inclusive da Folha,
com indícios de reaquecimento
da economia, ele afirmou que "os
sinais da retomada da atividade
industrial são inequívocos".
Um dos argumentos utilizados
foi o crescimento, em todas as 14
regiões pesquisadas, da produção
industrial no mês de março divulgado na última segunda-feira pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Citou também o aumento do número de
postos de trabalho.
No entanto, pesquisa divulgada
ontem pela Fundação Seade e pelo Dieese mostrou que a taxa de
desemprego na região metropolitana de São Paulo atingiu o recorde histórico de 20,7% da população economicamente ativa. Apesar de a criação de vagas de trabalho também ter sido recorde (124
mil), mais pessoas (168 mil) estão
em busca de uma oportunidade.
O pronunciamento marca os
500 dias do governo, completados
no último dia 14, e tem como mote a viagem para a China -sua
23ª viagem internacional.
A abertura da gravação de sete
minutos foi justamente com a viagem, que consumiu dois minutos
e meio do vídeo. Lula classificou a
ida à China como uma "missão de
maior importância para o país".
O tema também foi assunto de
inserções do PT feitas ontem na
TV. As mensagens afirmam que a
China é a economia que mais
cresce no mundo e que o presidente está "atento a essa grande
oportunidade". As inserções terminam com a frase: "Vai lá, Lula,
e ajuda o Brasil".
Após falar sobre as oportunidades de comércio com a China,
aparece no vídeo do pronunciamento de Lula a vinheta "Colocando o Brasil nos trilhos". Segundo ele, colocar o Brasil nos trilhos não era uma tarefa fácil. Sem
citar o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, voltou a reclamar da herança.
"Herdamos muitos problemas e
um enorme desemprego. Todos
nós assistimos no final de 2002 à
subida da inflação e à redução que
ela provocou na renda dos nossos
trabalhadores. Por isso, a nossa
prioridade era reduzir a inflação
para estancar a queda do salário
real e garantir o ajuste das contas
públicas, viabilizando a queda
dos juros e a retomada do desenvolvimento."
Lula comparou a taxa de juros
do final de 2002, que estava em
25% ao ano, com a atual de 16%
ao ano. A menção aos juros foi feita um dia depois que o Comitê de
Política Monetária do Banco Central decidiu manter a taxa Selic
inalterada.
"Felizmente, as medidas duras
que fomos obrigados a tomar durante todo o ano de 2003 estão
surtindo os efeitos desejados. Não
foi fácil, mas nada é fácil. Afinal, se
queremos mudar o Brasil de verdade temos que traçar metas claras e regras firmes." Ele disse que,
em alguns momentos, é preciso
"fazer até alguns sacrifícios".
Sobre o risco de ser incompreendido, afirmou: "Mudar o
Brasil, meus amigos, significa ter
a coragem de fazer as coisas direito, bem feitas e para valer, como
estou procurando fazer. Mesmo
sabendo que durante um certo
tempo corro o risco de ser mal
compreendido pelo meu povo".
O vídeo foi gravado ontem à tarde, no gabinete presidencial, e foi
supervisionado pelo marqueteiro
Duda Mendonça. Segundo a Secretaria de Comunicação de Governo, o custo de produção foi R$
35 mil, pagos à produtora Fábrica,
que foi subcontratada pela agência Duda Mendonça, uma das três
empresas responsáveis pela publicidade do governo. Foi gravado
em película de 16 mm, em vez de
betacam, usado na TV. No governo anterior, os pronunciamentos
eram gravados pela Radiobrás.
Texto Anterior: Toda mídia: Atritos na China Próximo Texto: Caso Santo André: Deputado diz não ter álibi, mas ser inocente Índice
|