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Publicitários ainda ignoram o impacto eleitoral da internet
Duda Mendonça avalia que ela não atinge "o povão"; Sergio Amado alerta que ataques alcançam toda a rede num só dia
Para Antônio Lavareda, a
internet alcança o público
que dissemina opiniões na
sociedade, influenciando os
enfoques da grande mídia
NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Em uma coisa o publicitário
Duda Mendonça, que fez a
campanha de Lula, e o jornalista Luiz Gonzalez, que pode fazer a de Geraldo Alckmin, concordam: a internet ainda é para
poucos no Brasil, para causar
maior impacto neste ano eleitoral. "O povão não tem acesso
a computador", diz o primeiro.
O publicitário Fernando Barros, presidente da agência baiana Propeg e que fez campanhas
para FHC, José Agripino Maia
e outros, até concorda com a
premissa, mas avisa: "Os marqueteiros não caíram na real
ainda. A internet vai ser fundamental. Eu estou assustado
com a importância do veículo".
Ricardo Berzoini, presidente
do PT e futuro coordenador da
campanha de Lula, entrega logo que o que mais assusta no
novo veículo: "Seria importante que a Justiça Eleitoral estabelecesse limites para o marketing viral. A preocupação nem é
só eleitoral. O anonimato na internet é preocupante para a sociedade como um todo".
O publicitário Sergio Amado,
presidente do grupo Ogilvy no
Brasil, conhece bem a ferramenta e se alarma: "É cruel,
cruel. É de uma violência e uma
velocidade incontroláveis.
Uma informação passada através de marketing viral contamina toda a rede em um dia.
Nós fazemos várias ações virais
para produtos aqui e sabemos
qual é o resultado, do ponto de
vista de imagem de marca".
O marketing viral é uma
"ação específica" que, em política, trabalha quase sempre informação negativa com "características de propaganda, mas
sem cara de propaganda".
Dois exemplos são os vídeos
em que Lula faz piada grosseira
com Pelotas e José Serra diz
que não vai deixar a Prefeitura
de São Paulo, disseminados a
partir de spams de e-mail, comunidades no Orkut, blogs e
agora sites como You Tube.
Barros, da Propeg, comenta:
"A internet pode ser letal para
quem não souber responder
aos ataques. Talvez a diferença
de muitas vitórias e derrotas se
dê aí. É terreno onde não há legislação. Um canhão na mão de
um menino. Já está acontecendo incidentalmente".
Bélgica
O sociólogo Antônio Lavareda, também cotado para a campanha de Alckmin, vai na mesma linha e é o mais empolgado
com o novo meio: "A internet
alcança uma Bélgica que constitui o motor de disseminação
de opiniões na sociedade brasileira -e que se dá através da capacidade desse segmento de influenciar a agenda e os enfoques que a grande mídia, sobretudo a TV, imprimem na base.
A batalha da Bélgica na internet
vai definir a eleição deste ano".
Para Lavareda, que critica "o
farisaísmo ou a ignorância" dos
marqueteiros que espalham
preceitos como quem-ataca-perde, "o negativo também é
importante para a democracia,
e a internet tem um papel especialíssimo nisso".
Sergio Amado, que se dedica
à propaganda comercial, concorda quanto ao impacto no
jornalismo e avisa que "a internet já chegou". Para este ano,
sem horário gratuito e sem regulamentação, o efeito maior
sobre a campanha vai se dar no
âmbito da "informação instantânea", cabendo "à inteligência
do marketing gerar notícias".
Mauro Paulino, diretor-geral
do Datafolha, afirma que a repercussão on-line pode realmente ser a novidade com potencial para afetar a campanha
deste ano. Mas sempre "junto a
um público restrito", cuja capacidade de influência está em
xeque: "O formador de opinião
tem tido uma influência cada
vez menor junto aos demais
segmentos. A própria intenção
de voto em Lula, hoje, é prova
disso. Lula tem esse percentual
que não tem variado muito e é
baseado principalmente no
segmento com nível de escolaridade e nível de renda mais
baixos. Mesmo esse tem definido o seu voto baseado mais nas
próprias convicções".
Mídia segmentada
Para Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope, a internet deve ser trabalhada "como mídia segmentada": "Quer
dizer, é um canal válido, mas
para uma parcela ainda pequena da população. É um canal específico para atingir determinado público com mais eficiência". E ela avisa que, ao contrário da TV, a internet "precisa da
predisposição do cidadão de
entrar em determinados sites,
para ter acesso às mensagens".
Carlos Bottesi, professor de
Comunicação Virtual e Novos
Espaços Políticos da ECA-USP,
diz que nesse fragmentado ambiente on-line "o marketing é
de relacionamento", ou seja:
"Quanto mais de pessoa para
pessoa, melhor. As conexões
são feitas de ponto para ponto,
por identidade, por confiança.
Se você confia em determinada
fonte, forma a conexão -e
aquilo começa a crescer em
uma rede bastante horizontalizada. Os atores políticos ainda
não perceberam que o grande
impacto da internet é potencializar a ação em rede".
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