São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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Publicitários ainda ignoram o impacto eleitoral da internet

Duda Mendonça avalia que ela não atinge "o povão"; Sergio Amado alerta que ataques alcançam toda a rede num só dia

Para Antônio Lavareda, a internet alcança o público que dissemina opiniões na sociedade, influenciando os enfoques da grande mídia

NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Em uma coisa o publicitário Duda Mendonça, que fez a campanha de Lula, e o jornalista Luiz Gonzalez, que pode fazer a de Geraldo Alckmin, concordam: a internet ainda é para poucos no Brasil, para causar maior impacto neste ano eleitoral. "O povão não tem acesso a computador", diz o primeiro.
O publicitário Fernando Barros, presidente da agência baiana Propeg e que fez campanhas para FHC, José Agripino Maia e outros, até concorda com a premissa, mas avisa: "Os marqueteiros não caíram na real ainda. A internet vai ser fundamental. Eu estou assustado com a importância do veículo".
Ricardo Berzoini, presidente do PT e futuro coordenador da campanha de Lula, entrega logo que o que mais assusta no novo veículo: "Seria importante que a Justiça Eleitoral estabelecesse limites para o marketing viral. A preocupação nem é só eleitoral. O anonimato na internet é preocupante para a sociedade como um todo".
O publicitário Sergio Amado, presidente do grupo Ogilvy no Brasil, conhece bem a ferramenta e se alarma: "É cruel, cruel. É de uma violência e uma velocidade incontroláveis. Uma informação passada através de marketing viral contamina toda a rede em um dia. Nós fazemos várias ações virais para produtos aqui e sabemos qual é o resultado, do ponto de vista de imagem de marca".
O marketing viral é uma "ação específica" que, em política, trabalha quase sempre informação negativa com "características de propaganda, mas sem cara de propaganda".
Dois exemplos são os vídeos em que Lula faz piada grosseira com Pelotas e José Serra diz que não vai deixar a Prefeitura de São Paulo, disseminados a partir de spams de e-mail, comunidades no Orkut, blogs e agora sites como You Tube.
Barros, da Propeg, comenta: "A internet pode ser letal para quem não souber responder aos ataques. Talvez a diferença de muitas vitórias e derrotas se dê aí. É terreno onde não há legislação. Um canhão na mão de um menino. Já está acontecendo incidentalmente".

Bélgica
O sociólogo Antônio Lavareda, também cotado para a campanha de Alckmin, vai na mesma linha e é o mais empolgado com o novo meio: "A internet alcança uma Bélgica que constitui o motor de disseminação de opiniões na sociedade brasileira -e que se dá através da capacidade desse segmento de influenciar a agenda e os enfoques que a grande mídia, sobretudo a TV, imprimem na base. A batalha da Bélgica na internet vai definir a eleição deste ano".
Para Lavareda, que critica "o farisaísmo ou a ignorância" dos marqueteiros que espalham preceitos como quem-ataca-perde, "o negativo também é importante para a democracia, e a internet tem um papel especialíssimo nisso".
Sergio Amado, que se dedica à propaganda comercial, concorda quanto ao impacto no jornalismo e avisa que "a internet já chegou". Para este ano, sem horário gratuito e sem regulamentação, o efeito maior sobre a campanha vai se dar no âmbito da "informação instantânea", cabendo "à inteligência do marketing gerar notícias".
Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, afirma que a repercussão on-line pode realmente ser a novidade com potencial para afetar a campanha deste ano. Mas sempre "junto a um público restrito", cuja capacidade de influência está em xeque: "O formador de opinião tem tido uma influência cada vez menor junto aos demais segmentos. A própria intenção de voto em Lula, hoje, é prova disso. Lula tem esse percentual que não tem variado muito e é baseado principalmente no segmento com nível de escolaridade e nível de renda mais baixos. Mesmo esse tem definido o seu voto baseado mais nas próprias convicções".

Mídia segmentada
Para Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope, a internet deve ser trabalhada "como mídia segmentada": "Quer dizer, é um canal válido, mas para uma parcela ainda pequena da população. É um canal específico para atingir determinado público com mais eficiência". E ela avisa que, ao contrário da TV, a internet "precisa da predisposição do cidadão de entrar em determinados sites, para ter acesso às mensagens".
Carlos Bottesi, professor de Comunicação Virtual e Novos Espaços Políticos da ECA-USP, diz que nesse fragmentado ambiente on-line "o marketing é de relacionamento", ou seja: "Quanto mais de pessoa para pessoa, melhor. As conexões são feitas de ponto para ponto, por identidade, por confiança. Se você confia em determinada fonte, forma a conexão -e aquilo começa a crescer em uma rede bastante horizontalizada. Os atores políticos ainda não perceberam que o grande impacto da internet é potencializar a ação em rede".


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