São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Campanha "Natal sem Fome" acaba após 13 anos

ONG quer fazer conscientização sobre programas de transferência de renda

Coordenador-geral da Ação da Cidadania afirma querer combater supostas fraudes nas políticas públicas para que alcancem miseráveis

CRISTINA FIBE
DA REDAÇÃO

Treze anos e 15 milhões de beneficiados depois, a campanha "Natal sem Fome" chega ao fim. A ONG Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, criada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, anuncia nova meta: "conscientização", para que os programas de transferência de renda alcancem de fato a população na miséria.
"Pela primeira vez na história temos volume de benefícios em número suficiente [para atender a população que passa fome]. Está nas mãos da sociedade civil", afirma Maurício Andrade, coordenador-geral da Ação da Cidadania.
Segundo pesquisa do IBGE divulgada na semana passada, quase 14 milhões de brasileiros viviam em domicílios nos quais a fome esteve presente ao menos um dia em 2004.
O governo estima que o Bolsa-Família atingirá 11,1 milhões de domicílios até o fim do ano. Hoje, 9,1 milhões de famílias recebem o benefício. Em 2004, eram 6,7 milhões os atendidos.
Se em parte a entidade reconhece vantagens nas políticas públicas, por outro lado quer denunciar supostas irregularidades nos cadastramentos.
Andrade exemplifica: "Temos informações de que prefeitos chamam vereadores e distribuem por cotas o dinheiro do Bolsa-Família, para que eles escolham os beneficiados. Esse tipo de manipulação é que estamos denunciando. Não tem sentido a gente ser mais um benefício para as pessoas".
"Cada um quer deter a paternidade de uma cédula de pobreza. Há uma manipulação que não é ética", diz. Andrade propõe a unificação do cadastramento dos programas municipais, estatais e federais para facilitar a fiscalização.
E se o governo petista não for reeleito? "Independe do governo. Acho que é uma política que não retroage. Se aplicada com eficiência, pode garantir o básico a toda população. Com um cadastro eficiente, em dois anos ninguém mais morrerá de desnutrição."

Educação
"Isso é real, mas não pode se transformar numa aposentadoria precoce e miserável. Tem que ir para a escola", completa. Por isso a mudança de foco da campanha. Andrade diz ser esse o momento para "um novo processo -educação e cultura para geração de emprego e transformação social". Entre os planos, a arrecadação de material escolar, no ano que vem.
A professora do departamento de Planejamento Alimentar e Nutrição da Unicamp Elisabete Salay concorda. "Considerando o foco "levar comida à população" acredito que esta campanha poderia ser suspensa. Ela poderia ser reformulada para um sentido mais amplo e/ou de maior pertinência social, como campanhas para a educação, por exemplo."
Para ela, "os programas de transferência podem reverter o quadro de insegurança alimentar, desde que bem focados na população mais necessitada e implementados em conjunto com outras ações".


Texto Anterior: Presidente da Alerj contesta "esquema"
Próximo Texto: CPI dos Bingos: Senado fará pesquisa para definir futuro do jogo no país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.