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Campanha "Natal sem Fome" acaba após 13 anos
ONG quer fazer conscientização sobre programas de transferência de renda
Coordenador-geral da Ação da Cidadania afirma querer
combater supostas fraudes
nas políticas públicas para
que alcancem miseráveis
CRISTINA FIBE
DA REDAÇÃO
Treze anos e 15 milhões de
beneficiados depois, a campanha "Natal sem Fome" chega ao
fim. A ONG Ação da Cidadania
contra a Fome, a Miséria e pela
Vida, criada pelo sociólogo
Herbert de Souza, o Betinho,
anuncia nova meta: "conscientização", para que os programas de transferência de renda
alcancem de fato a população
na miséria.
"Pela primeira vez na história temos volume de benefícios
em número suficiente [para
atender a população que passa
fome]. Está nas mãos da sociedade civil", afirma Maurício
Andrade, coordenador-geral da
Ação da Cidadania.
Segundo pesquisa do IBGE
divulgada na semana passada,
quase 14 milhões de brasileiros
viviam em domicílios nos quais
a fome esteve presente ao menos um dia em 2004.
O governo estima que o Bolsa-Família atingirá 11,1 milhões
de domicílios até o fim do ano.
Hoje, 9,1 milhões de famílias
recebem o benefício. Em 2004,
eram 6,7 milhões os atendidos.
Se em parte a entidade reconhece vantagens nas políticas
públicas, por outro lado quer
denunciar supostas irregularidades nos cadastramentos.
Andrade exemplifica: "Temos informações de que prefeitos chamam vereadores e distribuem por cotas o dinheiro do
Bolsa-Família, para que eles escolham os beneficiados. Esse
tipo de manipulação é que estamos denunciando. Não tem
sentido a gente ser mais um benefício para as pessoas".
"Cada um quer deter a paternidade de uma cédula de pobreza. Há uma manipulação
que não é ética", diz. Andrade
propõe a unificação do cadastramento dos programas municipais, estatais e federais para
facilitar a fiscalização.
E se o governo petista não for
reeleito? "Independe do governo. Acho que é uma política que
não retroage. Se aplicada com
eficiência, pode garantir o básico a toda população. Com um
cadastro eficiente, em dois
anos ninguém mais morrerá de
desnutrição."
Educação
"Isso é real, mas não pode se
transformar numa aposentadoria precoce e miserável. Tem
que ir para a escola", completa.
Por isso a mudança de foco da
campanha. Andrade diz ser esse o momento para "um novo
processo -educação e cultura
para geração de emprego e
transformação social". Entre os
planos, a arrecadação de material escolar, no ano que vem.
A professora do departamento de Planejamento Alimentar
e Nutrição da Unicamp Elisabete Salay concorda. "Considerando o foco "levar comida à população" acredito que esta campanha poderia ser suspensa.
Ela poderia ser reformulada
para um sentido mais amplo
e/ou de maior pertinência social, como campanhas para a
educação, por exemplo."
Para ela, "os programas de
transferência podem reverter o
quadro de insegurança alimentar, desde que bem focados na
população mais necessitada e
implementados em conjunto
com outras ações".
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