São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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Painel

RENATA LO PRETE painel@uol.com.br

O nome do jogo

Obras fantasmas e coincidência de datas entre contatos suspeitos e liberação de verbas à Gautama não assustam tanto os políticos quanto um aspecto pouco explorado dos negócios de Zuleido Veras, centro da Operação Navalha: o financiamento de campanhas.
Uma primeira busca circunscrita a doações legais em eleições resultou numa lista de nomes relativamente limitada em tamanho e expressão. A preocupação, porém, está nos "recursos não-contabilizados", eufemismo cunhado por Delúbio Soares para se referir ao caixa dois. Amigos de Zuleido na política temem, além de anotações do empreiteiro em poder da Polícia Federal, que algum preso passe tempo suficiente nas dependências do órgão para se deixar seduzir por uma eventual proposta de delação premiada.

Sotaque. Definição ouvida em Brasília sobre o dono da Gautama: "Zuleido é o Marcos Valério do Nordeste". Como? "Ele está para Maranhão e Alagoas como o pagador do mensalão para Minas Gerais."

Assunto tabu. Quatro dias depois de deflagrada a Operação Navalha, não há registro de articulações ou planos para a instalação de uma CPI no Congresso sobre os negócios da empresa Gautama. Explica-se: a maioria das siglas tem ao menos um nome envolvido no escândalo.

Pronto-socorro. No hotel Blue Tree, reduto de políticos e lobistas em Brasília, falou-se muito de tranqüilizantes durante todo o fim de semana. A movimentação de advogados por seus corredores também ficou bem acima da média.

Panos quentes. Tão logo soube da prisão de Luiz Carlos Caetano pela Operação Navalha, a direção do PT baiano seguiu em peso para Camaçari a fim de avaliar o estrago na carreira política do prefeito, considerado pelo partido como o sucessor do governador Jaques Wagner.

Mascote errado. Para evitar constrangimentos com Lula, a van que o levou para passeio ontem pelo Parque Nacional do Iguaçu, em Foz, teve parte da lataria coberta com cartolinas. Tudo para esconder o nome e o símbolo da empresa de turismo dona do automóvel, chamada Tucano.

Pró-PT 1. Enquanto os partidos aliados aguardam ansiosos as nomeações de seus indicados, aos poucos o PT começa a fazer acomodações nos escalões inferiores do governo. A ex-deputada Iara Bernardi (SP), que não conseguiu se reeleger, é a nova representante do Ministério da Educação em São Paulo.

Pró-PT 2. Com as mudanças no Meio Ambiente, o ex-presidente da Fundação Perseu Abramo Hamilton Pereira levou a Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental. Já o deputado não-reeleito Luciano Zica (SP) ficou com a Secretaria de Recursos Hídricos da pasta.

Bumbo. A Secretaria de Meio Ambiente do PT chegou a aprovar nota de apoio às alterações promovidas pelo governo no ministério de Marina Silva. O novo modelo foi um dos principais temas tratados na reunião da Executiva da sigla na semana passada.

Porta fechada. Sinal de alerta para Marta Suplicy, que teve suas contas da campanha de 2004 rejeitadas pelo TRE-SP: nos últimos dez recursos sobre contas que já haviam sido apreciadas por tribunais regionais, o TSE nem chegou a abrir processo, sob a alegação de que se trata de matéria administrativa, a respeito da qual não lhe cabe decidir. Nesse caso, restaria à petista recorrer ao Supremo.

Engorda. O PTB de São Paulo lança no próximo dia 31 uma campanha com a meta de conquistar 300 mil novos filiados. No evento organizado pelo presidente regional da sigla, Campos Machado, assinará ficha o ex-jogador Neto, que pretende disputar uma vaga de vereador em 2008.

Tiroteio

Governos e empreiteiros podem conversar, é obvio, desde que não seja para acertar subornos e dirigir concorrências públicas.


Do cientista político RUBENS FIGUEIREDO sobre declaração de Sônia Ráo, responsável pela defesa do dono da Gautama, Zuleido Veras. A advogada afirmou em entrevista que "há certo folclore de que poder público não pode entrar em contato com os empresários".

Contraponto

Só para maiores

Quando governador, Geraldo Alckmin exigia uma profusão de dados dos auxiliares, que não raro se cansavam do apreço do chefe por minúcias. Durante uma reunião em que se discutia a conversão de motores para gás natural, o tucano interpelou o secretário do Meio Ambiente, José Goldemberg, 77 anos, ex-reitor da USP e ex-ministro:
-Professor, quanto vai diminuir a emissão de poluentes se convertermos a frota de ônibus da capital?
-Uma enormidade-, disse simplesmente Goldemberg.
Com seus 30 anos, o secretário-adjunto da Casa Civil, Fábio Lepique, protestou baixinho:
-Se eu falasse assim, seriam cinco minutos de bronca!


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