São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2008

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Casa Civil produziu dossiê, afirma ex-secretário na CPI

Depoimento de José Aparecido contradiz defesa da ministra Dilma Rousseff

Ex-funcionário da Casa Civil declara que não alterou planilha que detalhava gastos do governo FHC antes de enviá-la ao Senado


ANDREZA MATAIS
SIMONE IGLESIAS
FERNANDA ODILLA
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

José Aparecido Nunes Pires, ex-secretário de Controle Interno da Casa Civil, contradisse ontem a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ao afirmar, em depoimento na CPI dos Cartões, que o dossiê com gastos do governo tucano foi produzido pela Casa Civil. Ele afirmou que recebeu a planilha de Marcelo Veloso, seu subordinado à época, e que não fez nenhuma alteração no arquivo antes de remetê-lo por e-mail, "por engano", ao gabinete do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Em abril, depois que a Folha obteve uma cópia do dossiê extraída diretamente dos computadores da Casa Civil, a ministra havia dito que ele era diferente do levantamento de despesas que sua equipe realizou em fevereiro. Dilma levantou a hipótese de montagem. Negou a existência da coluna "observações", que destaca os beneficiados por gastos exóticos, um dos sinais de viés político no trabalho de sua equipe.
Aparecido contou ontem à CPI, no entanto, que o documento foi o resultado do trabalho da força-tarefa reunida pela Casa Civil. "Pedi para um funcionário meu [Marcelo Veloso] que me passasse as planilhas. Essa base de dados [em formato Excel] era trabalho inicial, e a Casa Civil, salvo engano, iria migrar para o Suprim [banco de dados do governo]. Abri a planilha, achei que era modelo bom, aperfeiçoado", disse Aparecido. Ele relatou que recebeu o arquivo por meio de um pen drive que foi conectado ao seu computador para que pudesse baixar os dados.
Sobre o conteúdo político do material, Aparecido esquivou-se. "Não vi detalhes, não fiz análise criteriosa", disse.
Indiciado pela Polícia Federal por quebra de sigilo funcional, o ex-secretário afirmou que não tem memória nem consciência de ter mandado o documento. "O e-mail é de minha autoria e minha intenção era encaminhar um arquivo do Word. Esse do Excel foi um erro humano. Não enviei induzido por qualquer motivação. Se tivesse a intenção de passar esses dados, o faria por CD, disquete, papel ou pen drive."
Questionado pela base aliada por que mandou o documento para um senador da oposição, Aparecido disse que não sabia que André Fernandes, para quem o e-mail foi enviado, trabalhava com Álvaro Dias.
Ele evitou citar a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, e envolveu Norberto Temóteo Queiroz, secretário de Administração, no episódio. Disse que, a pedido dele, cedeu dois funcionários para ajudar na elaboração do banco de dados e que foi avisado que o material teria relação com a CPI. "Quando fui chamado à sala do dr. Norberto, ele me disse que provavelmente seria chamada uma CPI e o escopo seriam dados a partir de 1998. Ao que me consta, se organizaria um banco de dados da Casa Civil."
Álvaro Dias perguntou a quem, hierarquicamente, Temóteo é subordinado. Precisou insistir para que Aparecido nominasse Erenice. "A chefe é a secretária-executiva da Casa Civil", disse. "E quem é essa pessoa?", questionou Dias. "Erenice Guerra", respondeu.
O ex-secretário confirmou que esteve no Clube Naval em almoço com André Fernandes e outras duas pessoas após a revista "Veja" ter publicado que a Casa Civil havia montado um dossiê com gastos do governo passado. Ele disse não lembrar o que foi conversado e quem estava presente. Citou apenas Nélio Lacerda Wanderlei. Também estava presente Marco Polo Simões, assessor do TCU cedido ao Senado.
Depois de dizer que não lembrava da conversa mantida, Aparecido disse que André estava "apavorado" e que pressionou para que ele falasse com a imprensa. Aparecido negou que tenha feito comentário sobre participação de Dilma e Erenice e que não deu detalhes sobre o trabalho que estava sendo feito na Casa Civil.


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