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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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Lula pede a Bush, durante reunião na Casa Branca, que o país assuma vaga no Conselho de Segurança da ONU

Brasil aceita 2005 como data inicial da Alca

DE WASHINGTON

No encontro de cúpula entre Brasil e EUA ontem em Washington, o governo brasileiro se comprometeu a ""cooperar para a conclusão exitosa" da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) dentro do prazo previsto pelos Estados Unidos, em janeiro de 2005.
Na mesma reunião, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu diretamente ao seu colega George W. Bush que o Brasil assuma uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.
O compromisso com a finalização da Alca, onde os dois países são co-presidentes, foi assumido formalmente em um comunicado conjunto que deu as linhas gerais de uma série de parcerias que Brasil e EUA pretendem adotar.
Concretamente, o acordo mais importante foi a criação do Comitê Consultivo Agrícola (CCA), que deve se debruçar sobre comércio e a questão do acesso ao mercado agrícola. Esse é o tema que emperra, na prática, a Alca.
Em fevereiro, os EUA fizeram uma proposta ao Brasil de acesso ao mercado americano na área agrícola considerada inaceitável. Dificilmente o país concordará em assinar a Alca se os EUA não reavaliarem os termos oferecidos.
Após o encontro com Bush, Lula afirmou que EUA e Brasil ""poderão quebrar as barreiras se tiverem perseverança".
Depois, afirmou: ""Disse ao Bush que o boxeador que nocauteia o seu adversário tem que ter a humildade de abraçá-lo depois. Na relação econômica e política é preciso generosidade".
Lula já fez declarações duras sobre a Alca. Na campanha, ele chegou a dizer que o acordo era "anexação" da América Latina pelos Estados Unidos.
Os EUA ainda podem antecipar o acesso do Brasil ao mercado americano e negociar barreiras não-tarifárias que hoje limitam as exportações brasileiras.
Lula afirmou que a ""nova relação entre os dois países" poderá favorecer essas negociações e aproveitou para demandar de Bush espaço para que o Brasil venha a ocupar uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.
Lula foi o primeiro presidente do mundo que se opôs publicamente à guerra americana no Iraque a se encontrar Bush.
""Estamos mesmo pleiteando ser membro do Conselho de Segurança e temos o apoio de muita gente do mundo", disse Lula.
Segundo a Folha apurou, o presidente norte-americano respondeu ao pedido dizendo que não estava em condições, naquele momento, de tomar uma posição sobre o assunto.
Na entrevista coletiva que concedeu após a reunião, Lula falou rapidamente sobre os seus principais temas: Sobre o evento em si, disse que ""o importante foi quando nós decidimos a necessidade de que para garantir a paz no mundo é preciso que se pense no desenvolvimento das regiões mais empobrecidas. Eu expliquei ao presidente Bush que o Brasil pode e deve ter um papel importante na América do Sul, mas não conseguirá isso apenas com palavras. É preciso que recuperemos o tempo perdido e que comecemos a pensar em um modelo de desenvolvimento que leve em conta a integração política da região".

Relação Brasil-EUA
Sobre a relação Brasil-EUA, afirmou que ""sempre haverá temas que são motivos de discordância. Nós precisamos ter inteligência e competência para fazer com que a gente discuta as coisas que forem "concordantes". Para que as coisas funcionem bem é preciso que você acredite em seu interlocutor e que você seja também "acreditado" por ele. Nós estamos estabelecendo isso não apenas com os EUA. Temos de procurar com a ousadia de quem quer fazer negócio, de quem quer ter relações políticas e culturais."
Lula disse ainda que o Brasil ""tem a chance de fazer a mais perfeita relação entre Brasil e Estados Unidos. Acredito nas relações humanas e no fato de que se formos sinceros nas nossas relações, as coisas podem ser muito melhores. Nós concluímos em cinco meses com a América do Sul uma relação que há muitos anos o Brasil não tinha", disse.
Lula afirmou acreditar que o mundo vive hoje ""um outro momento". ""Tenho sentido esse novo momento com presidentes de vários países. Todos estão se dando conta de que é preciso repartir com mais equidade o bolo que a humanidade tem construído. Se quisermos paz e democracia, temos de distribuir melhor o bolo."

Lula e Bush
Lula afirmou ainda que as discordâncias de pensamento entre ele e Bush não devem impedir a relação entre os dois países.
""O fato de existir pessoas com pensamentos ideológicos diferentes não significa que nós não sejamos civilizados a ponto de nos entendemos em coisas que interessam a nossos países. Governamos o Brasil com o pensamento na melhora da qualidade de vida. Nós sabemos a importância que têm os EUA na sua relação cultural, comercial, econômica, de investidores, com o Brasil. Queremos trabalhar isso com muito carinho", disse Lula.

Acordos
Um dos documentos conjuntos tirados da reunião de ontem prevê a formação do ""Grupo de Trabalho para o Crescimento" entre o Ministério da Fazenda brasileiro e o Departamento do Tesouro americano, que já terá uma primeira reunião no terceiro trimestre deste ano.
O objetivo será buscar meios de aumentar o crédito a empresas brasileiras, desenvolver a infra-estrutura no Brasil e promover o comércio. Outros memorandos incluem acordos e planos para as áreas de energia, saúde e trabalho. O Departamento de Agricultura norte-americano também se comprometeu a ajudar na implementação do programa Fome Zero no Brasil.



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