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Lula pede a Bush, durante reunião na Casa Branca, que o país assuma vaga no Conselho de Segurança da ONU
Brasil aceita 2005 como data inicial da Alca
DE WASHINGTON
No encontro de cúpula entre
Brasil e EUA ontem em Washington, o governo brasileiro se comprometeu a ""cooperar para a conclusão exitosa" da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas)
dentro do prazo previsto pelos Estados Unidos, em janeiro de 2005.
Na mesma reunião, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da
Silva, pediu diretamente ao seu
colega George W. Bush que o Brasil assuma uma vaga no Conselho
de Segurança da ONU.
O compromisso com a finalização da Alca, onde os dois países
são co-presidentes, foi assumido
formalmente em um comunicado
conjunto que deu as linhas gerais
de uma série de parcerias que Brasil e EUA pretendem adotar.
Concretamente, o acordo mais
importante foi a criação do Comitê Consultivo Agrícola (CCA),
que deve se debruçar sobre comércio e a questão do acesso ao
mercado agrícola. Esse é o tema
que emperra, na prática, a Alca.
Em fevereiro, os EUA fizeram
uma proposta ao Brasil de acesso
ao mercado americano na área
agrícola considerada inaceitável.
Dificilmente o país concordará
em assinar a Alca se os EUA não
reavaliarem os termos oferecidos.
Após o encontro com Bush, Lula afirmou que EUA e Brasil ""poderão quebrar as barreiras se tiverem perseverança".
Depois, afirmou: ""Disse ao
Bush que o boxeador que nocauteia o seu adversário tem que ter a
humildade de abraçá-lo depois.
Na relação econômica e política é
preciso generosidade".
Lula já fez declarações duras sobre a Alca. Na campanha, ele chegou a dizer que o acordo era "anexação" da América Latina pelos
Estados Unidos.
Os EUA ainda podem antecipar
o acesso do Brasil ao mercado
americano e negociar barreiras
não-tarifárias que hoje limitam as
exportações brasileiras.
Lula afirmou que a ""nova relação entre os dois países" poderá
favorecer essas negociações e
aproveitou para demandar de
Bush espaço para que o Brasil venha a ocupar uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.
Lula foi o primeiro presidente
do mundo que se opôs publicamente à guerra americana no Iraque a se encontrar Bush.
""Estamos mesmo pleiteando
ser membro do Conselho de Segurança e temos o apoio de muita
gente do mundo", disse Lula.
Segundo a Folha apurou, o presidente norte-americano respondeu ao pedido dizendo que não
estava em condições, naquele
momento, de tomar uma posição
sobre o assunto.
Na entrevista coletiva que concedeu após a reunião, Lula falou
rapidamente sobre os seus principais temas: Sobre o evento em si,
disse que ""o importante foi quando nós decidimos a necessidade
de que para garantir a paz no
mundo é preciso que se pense no
desenvolvimento das regiões
mais empobrecidas. Eu expliquei
ao presidente Bush que o Brasil
pode e deve ter um papel importante na América do Sul, mas não
conseguirá isso apenas com palavras. É preciso que recuperemos o
tempo perdido e que comecemos
a pensar em um modelo de desenvolvimento que leve em conta a
integração política da região".
Relação Brasil-EUA
Sobre a relação Brasil-EUA, afirmou que ""sempre haverá temas
que são motivos de discordância.
Nós precisamos ter inteligência e
competência para fazer com que a
gente discuta as coisas que forem
"concordantes". Para que as coisas
funcionem bem é preciso que você acredite em seu interlocutor e
que você seja também "acreditado" por ele. Nós estamos estabelecendo isso não apenas com os
EUA. Temos de procurar com a
ousadia de quem quer fazer negócio, de quem quer ter relações políticas e culturais."
Lula disse ainda que o Brasil
""tem a chance de fazer a mais perfeita relação entre Brasil e Estados
Unidos. Acredito nas relações humanas e no fato de que se formos
sinceros nas nossas relações, as
coisas podem ser muito melhores. Nós concluímos em cinco
meses com a América do Sul uma
relação que há muitos anos o Brasil não tinha", disse.
Lula afirmou acreditar que o
mundo vive hoje ""um outro momento". ""Tenho sentido esse novo momento com presidentes de
vários países. Todos estão se dando conta de que é preciso repartir
com mais equidade o bolo que a
humanidade tem construído. Se
quisermos paz e democracia, temos de distribuir melhor o bolo."
Lula e Bush
Lula afirmou ainda que as discordâncias de pensamento entre
ele e Bush não devem impedir a
relação entre os dois países.
""O fato de existir pessoas com
pensamentos ideológicos diferentes não significa que nós não sejamos civilizados a ponto de nos entendemos em coisas que interessam a nossos países. Governamos
o Brasil com o pensamento na
melhora da qualidade de vida.
Nós sabemos a importância que
têm os EUA na sua relação cultural, comercial, econômica, de investidores, com o Brasil. Queremos trabalhar isso com muito carinho", disse Lula.
Acordos
Um dos documentos conjuntos
tirados da reunião de ontem prevê a formação do ""Grupo de Trabalho para o Crescimento" entre
o Ministério da Fazenda brasileiro e o Departamento do Tesouro
americano, que já terá uma primeira reunião no terceiro trimestre deste ano.
O objetivo será buscar meios de
aumentar o crédito a empresas
brasileiras, desenvolver a infra-estrutura no Brasil e promover o
comércio. Outros memorandos
incluem acordos e planos para as
áreas de energia, saúde e trabalho.
O Departamento de Agricultura
norte-americano também se
comprometeu a ajudar na implementação do programa Fome Zero no Brasil.
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