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Após perícia da PF, Senado adia decisão sobre Renan
Conselho de Ética se recusa a votar arquivamento de processo contra senador
Parlamentares querem que o presidente da Casa dê explicações pessoalmente sobre os documentos;
ele aceitou comparecer
FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em uma derrota do presidente do Senado, o Conselho de
Ética se recusou ontem a votar
o arquivamento do processo
contra Renan Calheiros
(PMDB-AL), alegando que há
dúvidas quanto à veracidade
dos documentos apresentados
pela defesa para comprovar
operações de venda de gado em
suas fazendas.
A recusa ocorreu um dia após
a Polícia Federal entregar aos
senadores uma perícia que
questiona a maior parte dos documentos apresentados por
Renan em sua defesa. Senadores exigiram o comparecimento de Renan ao conselho para
prestar esclarecimentos e, sem
escolha, ele aceitou.
"Quando for necessário eu
vou, mas apenas quando for necessário", disse Renan após a
reunião do conselho.
Seis integrantes do órgão se
reúnem hoje às 10h para definir
novo cronograma de trabalho e
determinar o foco da continuidade da perícia da PF nos papéis apresentados por Renan.
No fim da sessão, surgiu outro entrave: o relator substituto
do processo, Wellington Salgado (PMDB-MG), que já havia
anunciado seu voto pelo engavetamento do caso, renunciou
ao cargo. Argumentou que o
julgamento excedera os limites
da questão ética. "Começou um
grande jogo e não sei como isso
vai acabar", afirmou ele.
Salgado assumiu a relatoria
depois que o senador Epitácio
Cafeteira (PTB-MA) pediu licença alegando problemas de
saúde. Ainda não foi definido o
novo substituto.
Apelo
Renan empenhou-se até o último momento para que o caso
fosse encerrado ontem, ignorando apelos de todos os partidos, exceto do PMDB, para dar
mais tempo à PF concluir de
forma cabal perícia feita em notas fiscais apresentadas por ele.
O PMDB, orientado por Renan, tentou forçar a votação
por avaliar que a situação tornara-se insustentável. O presidente do Senado e a cúpula de
seu partido acham que não há
condições dele continuar "sangrando", expressão recorrente
durante a reunião do conselho.
A avaliação geral é que a crise
tende a se agravar.
A confiança de Renan ruiu
quando foi avisado de que o senador Valter Pereira (PMDB-MS), membro de sua tropa de
choque, mudaria de posição.
"Percebo hoje que o maior risco
não é o de cometer uma injustiça contra uma pessoa, mas o de
danificar a imagem da instituição", disse Pereira.
Renato Casagrande (PSB-ES), Augusto Botelho (PT-RR),
Eduardo Suplicy (PT-SP), Heráclito Fortes (DEM-PI), Adelmir Santana (DEM-DF) e Romeu Tuma (DEM-SP) ensaiaram uma abstenção se o arquivamento do processo fosse votado ontem. A decisão do PSDB
de votar contra o arquivamento, no entanto, acabou constrangendo esses senadores, que
ficariam expostos.
O líder do governo, senador
Romero Jucá (PMDB-RR),
também tentou forçar o encerramento do processo. "O mais
importante é que ele comprovou que tinha receita", afirmou
Jucá, para quem a PF ultrapassou o limite de suas atribuições.
O presidente do conselho, senador Sibá Machado (PT-AC),
tentou contemporizar. "Em nenhum momento queremos colocar a PF em embaraço de
competência", disse. Aliados de
Renan defendiam ontem que o
caso fosse transferido para o
Supremo Tribunal Federal.
A perícia da PF nos documentos apresentados por Renan apontaram "divergências"
entre os papéis que sustentariam a sua versão de que obteve
R 1,9 milhão com venda de gado
desde 2003. O laudo não é conclusivo e os peritos pediram
mais tempo para trabalhar.
A principal linha da defesa do
senador é afirmar que ele tinha
renda suficiente para pagar R$
12 mil mensais de pensão para a
jornalista Mônica Veloso, com
quem teve uma filha. Ele é acusado de ter as despesas pagas
por um lobista da empreiteira
Mendes Júnior.
"Precisamos ter prudência
para que as investigações se esgotem nelas mesmas", disse o
líder do PSDB, senador Arthur
Virgílio (AM). "Jucá afirmou
que os documentos seriam
comprobatórios. Essa perícia
demonstra inúmeros problemas", afirmou Eduardo Suplicy
(PT-SP). Ambos cobraram a ida
de Renan ao conselho.
Relator até o fim da sessão de
ontem, Salgado chegou a afirmar que suspeitas quanto aos
rendimentos agropecuários declarados por Renan não fazem
parte da investigação em curso
e que seria necessária a abertura de novo processo para apurar isso. "Eu não sou débil mental, fatos novos existem, mas eu
não quero nem saber."
O senador José Nery (PSOL-PA) questionou a imparcialidade de Salgado. Ele é acusado em
ação popular de simular, em
1996, contrato de comodato
com Renan, então presidente
da Companhia Nacional de Escolas da Comunidade, para
ocupar um terreno de 5.338 m2
em Goiás. Haveria, porém, um
documento de gaveta definindo a transação como contrato
de compra e venda.
Sibá afirmou que Salgado só
poderia ser afastado da função
no caso de ele próprio se sentir
comprometido para julgar
-mas naquele momento o senador preferiu ficar no posto.
A reunião do conselho, que
estava marcada para as 13h30,
teve que ser adiada para as 17h
porque os partidos não conseguiam definir que posição tomar diante da insistência do
PMDB de votarem o caso.
Durante a reunião, Jucá
(PMDB-RR) anunciou que Renan estava disposto a comparecer para apresentar sua defesa.
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