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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ESTATAIS
Dinheiro seria desviado com "cobrança" sobre faturamento; banco diz desconhecer documento
Relatório denuncia desvio da Caixa para campanhas do PT
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um relatório de inteligência da
Caixa Econômica Federal obtido
pela Folha registra denúncia de
que haveria arrecadação para
campanhas do PT no banco e sugere que o caso seja investigado. O
dinheiro público seria desviado
por meio de fraudes na área de
tecnologia, segundo o texto.
O relatório, feito pela Gerência
Nacional de Segurança da Caixa e
encaminhado ao então vice-presidente de Logística, Paulo Bretas,
em 18 de dezembro de 2003, afirma que, segundo denúncia recebida, o dinheiro colhido seria repassado mensalmente a "Clarice
de tal", "braço direito" do presidente da CEF, Jorge Mattoso.
Trata-se de Clarice Coppetti. Na
época, assessora externa de Mattoso. Hoje, vice-presidente de
Tecnologia do banco. Nomeada
por Mattoso, Coppetti é casada
com César Alvarez, assessor da
Presidência da República.
Bretas, que teve sua imagem
desgastada durante o caso Waldomiro Diniz, deixou a Caixa em
maio deste ano.
Em nota encaminhada à Folha
na terça-feira, a Caixa afirma desconhecer o documento, o qual
não teria sido apresentado "em
nenhuma reunião do seu Conselho Diretor. Tampouco se encontra arquivado na gerência de segurança, que o teria elaborado".
Ontem, porém, a assessoria de
imprensa da Caixa informou que
uma auditoria interna será instaurada para investigar o caso.
Segundo a Folha apurou, pelos
procedimentos internos do banco, uma cópia do documento deveria ter sido mantida nos arquivos reservados da Genas. O original segue para instâncias superiores, pois sua função é gerar providências, o que não aconteceu.
O relatório é assinado por Valquíria Brito, então gerente Nacional de Segurança.
Procurada pela reportagem,
Brito, que foi afastada do cargo e
está em licença médica desde janeiro de 2004, confirmou ser a
responsável pelo relatório. Disse
tê-lo entregue ao então vice-presidente Paulo Bretas e, pedindo
desculpas, encerrou a conversa,
pois, conforme as normas da Caixa, não poderia se manifestar sobre o conteúdo do documento.
Quem encaminhou a denúncia
à Caixa deu sinais de ter informações de bastidores sobre o órgão.
Por telefone, contou à segurança do banco, em dezembro de
2003, sobre a cisão da Vice-Presidência de Logística, processo que
daria origem à Vice-Presidência
de Tecnologia -o que efetivamente ocorreu em 2004.
Conforme currículo na página
da Caixa na Internet, Coppetti é
pós-graduada em Gestão Estratégica da Informação. Foi diretora
da Companhia de Processamento
de Dados do Estado do Rio Grande do Sul e assessora Econômica
da Prefeitura de São Paulo.
O relatório de inteligência #30
004/2003 detalha o que seria o suposto esquema de fraude denunciado: "segundo a fonte, para algumas empresas, os serviços efetuados seriam faturados a maior,
sem conferência por parte da área
de Tecnologia, sendo que a diferença seria repassada, posteriormente, em espécie, a uma pessoa
indicada, e que, para contratos
novos, haveria a cobrança de um
percentual sobre o faturamento,
como uma espécie de "pedágio"
para prestar serviços à Caixa".
Ainda conforme a fonte, "o dinheiro repassado mensalmente à
tal Clarice seria para o fundo de
campanha do Partido dos Trabalhadores". Em seu "item 7", o relatório sugere a necessidade de
maior aprofundamento em investigações".
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