São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ESTATAIS

Dinheiro seria desviado com "cobrança" sobre faturamento; banco diz desconhecer documento

Relatório denuncia desvio da Caixa para campanhas do PT

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um relatório de inteligência da Caixa Econômica Federal obtido pela Folha registra denúncia de que haveria arrecadação para campanhas do PT no banco e sugere que o caso seja investigado. O dinheiro público seria desviado por meio de fraudes na área de tecnologia, segundo o texto.
O relatório, feito pela Gerência Nacional de Segurança da Caixa e encaminhado ao então vice-presidente de Logística, Paulo Bretas, em 18 de dezembro de 2003, afirma que, segundo denúncia recebida, o dinheiro colhido seria repassado mensalmente a "Clarice de tal", "braço direito" do presidente da CEF, Jorge Mattoso.
Trata-se de Clarice Coppetti. Na época, assessora externa de Mattoso. Hoje, vice-presidente de Tecnologia do banco. Nomeada por Mattoso, Coppetti é casada com César Alvarez, assessor da Presidência da República.
Bretas, que teve sua imagem desgastada durante o caso Waldomiro Diniz, deixou a Caixa em maio deste ano.
Em nota encaminhada à Folha na terça-feira, a Caixa afirma desconhecer o documento, o qual não teria sido apresentado "em nenhuma reunião do seu Conselho Diretor. Tampouco se encontra arquivado na gerência de segurança, que o teria elaborado".
Ontem, porém, a assessoria de imprensa da Caixa informou que uma auditoria interna será instaurada para investigar o caso.
Segundo a Folha apurou, pelos procedimentos internos do banco, uma cópia do documento deveria ter sido mantida nos arquivos reservados da Genas. O original segue para instâncias superiores, pois sua função é gerar providências, o que não aconteceu.
O relatório é assinado por Valquíria Brito, então gerente Nacional de Segurança.
Procurada pela reportagem, Brito, que foi afastada do cargo e está em licença médica desde janeiro de 2004, confirmou ser a responsável pelo relatório. Disse tê-lo entregue ao então vice-presidente Paulo Bretas e, pedindo desculpas, encerrou a conversa, pois, conforme as normas da Caixa, não poderia se manifestar sobre o conteúdo do documento.
Quem encaminhou a denúncia à Caixa deu sinais de ter informações de bastidores sobre o órgão.
Por telefone, contou à segurança do banco, em dezembro de 2003, sobre a cisão da Vice-Presidência de Logística, processo que daria origem à Vice-Presidência de Tecnologia -o que efetivamente ocorreu em 2004.
Conforme currículo na página da Caixa na Internet, Coppetti é pós-graduada em Gestão Estratégica da Informação. Foi diretora da Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul e assessora Econômica da Prefeitura de São Paulo.
O relatório de inteligência #30 004/2003 detalha o que seria o suposto esquema de fraude denunciado: "segundo a fonte, para algumas empresas, os serviços efetuados seriam faturados a maior, sem conferência por parte da área de Tecnologia, sendo que a diferença seria repassada, posteriormente, em espécie, a uma pessoa indicada, e que, para contratos novos, haveria a cobrança de um percentual sobre o faturamento, como uma espécie de "pedágio" para prestar serviços à Caixa".
Ainda conforme a fonte, "o dinheiro repassado mensalmente à tal Clarice seria para o fundo de campanha do Partido dos Trabalhadores". Em seu "item 7", o relatório sugere a necessidade de maior aprofundamento em investigações".


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