São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Siga o dinheiro

Entrou às 18h22, após mais um dia de transmissão de depoimento tedioso nos canais de notícias, rádios e sites. Foi no Blog do Moreno:
- Nelson Jobim acaba de deferir o pedido de bloqueio das contas da mulher de Valério. Ela tentou sacar quase R$ 2 milhões de sua conta. O procurador-geral da República, Antônio Fernando, levou pessoalmente o pedido de bloqueio ao presidente do Supremo.
Demorou para o restante da cobertura, a começar da Globo Online, que hospeda o blog, acordar da letargia.
No que se conseguiu acompanhar, foi a Jovem Pan a primeira a repercutir. Daí para outros blogs, rádios e a escalada do "Jornal Nacional":
- Mulher de Marcos Valério tenta sacar dinheiro do banco e o Supremo bloqueia.

 

Na falta de notícia, a Globo carregou na retórica ao retratar o interminável -e acintoso- depoimento do ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Apelou para a juíza/deputada Denise Frossard, que julgou e condenou, no ar:
- O senhor tem consciência de que os crimes que eu lhe imputei aqui o senhor estará respondendo lá fora? Que é integrante de uma quadrilha que trafica influência, que praticava crimes de corrupção e que lavava dinheiro. O senhor conhece uma prisão?
 

Não adianta, o escândalo não está mais nas palavras, mas nas contas bancárias.
No enunciado dos canais de notícias, a partir da tarde, "adiado o depoimento de Valério", programado para hoje. Foi depois da submanchete do jornal "Valor", sobre saques nas contas do publicitário:
- CPI revela pagamento de Valério a políticos do PT, PP, PL e PSDB.
O "adiamento" sem nova data de Valério havia sido solicitado por dois parlamentares do PSDB.
E a relação dos que tiravam das contas só faz aumentar. Era a manchete do UOL, ontem no final da tarde, e abriu depois o "Jornal da Record":
- Lista dos que recebiam dinheiro de Marcos Valério já tem 46 nomes.
A novidade então eram o PFL e mais petistas. Não demorou e os 46 saltaram para mais de cem, no Blog do Moreno:
- Fechado o cerco. Supremo e Procuradoria Geral já têm os mais de cem nomes autorizados a fazer saques.

DA DEMOCRACIA

Na Globo, campanha para "tirar o título de eleitor, só até sábado"

Foi parar no "Jornal da Globo", longe do "JN", a porção mais chocante do novo Ibope. "Lula é o favorito", dizia o telejornal na madrugada, mostrando Geraldo Alckmin e FHC, com esforço, empatando com Garotinho.
E mostrando que, sem Lula, Garotinho leva.
 

Na reportagem da Reuters, intitulada "Economia e pesquisa ancoram Lula" e destacada no UOL, "o governo Lula completa dez semanas sob bombardeio, mas nem as pesquisas nem a oposição indicam articulação para julgar o presidente e derrubar o governo".
Não foi bem o que se viu, ouviu e leu, na cobertura. Do blog tucano E-Agora, de linha fernandista:
- Por mais que alguns setores da oposição ainda estejam tentando poupar Lula agora, quem está razoavelmente informado já sabe o que deve ser feito.
À Reuters, o pefelista Jorge Bornhausen afirmou que "está diminuindo dramaticamente o limite de presunção legal da inocência do presidente". ACM, à Globo Online, acrescentou que "defender Lula é impossível".
Tem mais. Em nota postada pelo Blog do Noblat ainda pela manhã, "Jorge Bornhausen embarcou para o Rio, onde almoça com o manda-chuva das Organizações Globo". Antes, o presidente do PFL "recebeu em seu apartamento o deputado Roberto Jefferson".
 

Agressiva como nunca desde que exibiu a entrevista de Lula que caiu do céu, a Globo mantém certo otimismo institucional. Por exemplo, ao avisar que termina nesta semana o prazo para tirar o título e votar no referendo sobre desarmamento. Tainá, 16, entre outros entrevistados, disse que "quer contribuir com o voto":
- A gente participa da sociedade, da democracia.

Escalpo
Para o espanhol "El País", "a economia brasileira não dá o menor sinal de perceber os golpes que estão levando a classe política à lona".
Para o britânico "Financial Times", na coluna Lex, "até aqui os mercados financeiros têm se mostrado audaciosos" com o Brasil, apesar do escândalo que "ainda pode tirar o escalpo do presidente Lula".

Fim de era
O "FT" até celebrou, ontem em reportagem:
- Marcando o fim de uma era para os mercados emergentes, o governo brasileiro está trocando seu famoso C-bond, que por anos foi o título mais líquido, por nova dívida.
Segundo o jornal, o título "não vai deixar saudades".

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

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