São Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 2001

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SENADOR SOB PRESSÃO

Presidente do Congresso pretende paralisar atividades do Legislativo para preservar seu mandato

Jader aposta em impasse para se salvar

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estratégia do presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), para tentar salvar o mandato é levar o Congresso ao impasse, paralisando atividades e prolongando o clima de constrangimento no Legislativo federal.
Em conversas reservadas, Jader avalia que não há nova acusação ou fato político que possam desgastar mais a sua imagem. Por isso, pretende resistir.
Ou seja, esperar o final da licença de 60 dias da presidência do Senado -que vencem em 18 de setembro- para pedir outro afastamento e apelar a argumentos jurídicos para tentar uma saída honrosa: salvar o mandato.
"O constrangimento deixou de ser meu e passou a ser da República. Perdi a pressa", tem dito Jader a amigos.
Um exemplo de "constrangimento": os parlamentares não conseguem fazer sessões do Congresso porque Câmara e Senado lutam pela condução dos trabalhos. Sem Jader, não se sabe se a presidência das sessões cabe a um deputado ou a um senador.
Ontem, o deputado Almir Sá (PPB-RR) pediu o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal sobre a questão. O relator será o ministro Nelson Jobim.
Parte da cúpula nacional do PMDB apóia a estratégia de Jader. Dirigentes do partido têm dito que não permitirão a expulsão do senador da legenda nem entregarão facilmente a cabeça dele ao PFL e à oposição.
O governo e a cúpula peemedebista queriam que Jader se licenciasse e renunciasse ao mandato, mas concluíram que é dificílimo convencê-lo. Como temem que ele dê a assinatura que falta à CPI da corrupção no Senado, o que poderia reabrir investigações incômodas para o Palácio do Planalto, resolveram não incomodá-lo. Não o defenderão, mas evitarão prejudicá-lo.

Desconfiança
Jader resolveu endurecer depois que foi descumprido o acordo pelo qual ele se licenciaria da presidência do Senado e, em troca, seus processos seriam encaminhados ao Judiciário e não ao Conselho de Ética, onde o julgamento é político e sumário.
No entanto, a pressão da opinião pública, do PFL e da oposição fez com que as denúncias fossem investigadas também no Senado. Desconfiado, Jader supõe que novo acordo desse tipo é difícil de ser feito e cumprido.
Restou a Jader e seus advogados tentar tirar proveito de um parecer da senadora Heloísa Helena (PT-AL) a respeito do colega Luiz Otávio (sem partido-PR). Helena considerou que um suposto crime de Otávio foi cometido antes do exercício do mandato, o que impediria a sua cassação.
Jader quer que esse parecer sirva de jurisprudência para o caso Banpará, que contém a mais grave acusação contra ele. O suposto crime de desvio de recursos teria sido cometido nos anos 80 -antes de 95, quando começou seu mandato de senador.



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