São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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JANIO DE FREITAS

Dia de estréia

A estréia do programa eleitoral gratuito na TV, às 13h de ontem, delineou com bastante clareza as diferenças de concepção dos marqueteiros, tanto no que respeita aos recursos da sua atividade como à percepção que cada um tem do seu candidato.
Justifica-se começar a apreciação por Anthony Garotinho: foi a surpresa maior. Para o que se propôs, o programa do dia inaugural foi muito produtivo. Direto, claro, com apelo eleitoral bem formulado segundo a temática do candidato, o programa foi dirigido por Carlos Rayel, mas com Anthony Garotinho como marqueteiro de si mesmo.
Duda Mendonça e Einhart Jacome da Paz, marqueteiros de Lula da Silva e de Ciro Gomes, mostraram que sua linha são programas de teor político com sentido eleitoral. Duda ainda mais do que Einhart, pelo menos nas exibições iniciais.
Já Nizan Guanaes adotou para José Serra as técnicas da publicidade comercial: nos momentos sem a presença de Serra, cenário e movimentação bem à maneira da publicidade televisiva de bebidas, por exemplo, já muito conhecida de todo telespectador brasileiro. Na longa presença de Serra, outra vez a TV conhecida, a entrevista ao estilo do programa de Roberto Dávila.
Se consideradas a necessidade de comunicação de Serra com o eleitorado, é interessante que Nizan Guanaes tenha escolhido, como cenário para a parte temática do programa, um ambiente com evidências de alto luxo, aparentemente a casa do próprio candidato. E aí produzido uma situação ostensivamente artificial entre Serra e Valéria Monteiro, que nunca se mostrou pior no papel de entrevistadora.
Duda Mendonça conseguiu aproveitamento pleno do tempo, fazendo com que os minutos de Lula não mostrassem ser apenas a metade dos minutos disponíveis para Serra. O propósito de Einhart, aparentemente, foi exibir vastamente um candidato de sucesso em diferentes setores e camadas eleitorais -e nesse sentido fez bom uso do tempo de Ciro (também perto de metade do tempo de Serra).
Sem novidade temática, o programa de Lula voltou à construção de plataformas petrolíferas em Cingapura, e não no Brasil, com tratamento concomitantemente duplo. Político, de crítica à omissão presidencial na defesa da construção das plataformas aqui; e eleitoral, na bem exposta argumentação do que isso representaria em geração de empregos e consequências econômicas.
O programa de Ciro deixou a marca do candidato, embora sem a palavra do presidenciável. E, no de Serra, a montagem esqueceu que o corte pode resolver falhas verbais. Como a do candidato cumprir a sua onerosa tarefa governista dizendo que, nos últimos anos, "a economia melhorou" e que o seu primeiro ato presidencial seria determinar "a todos os ministérios, não só o do Trabalho", providências para combater o desemprego. Para quem deposita a sorte eleitoral nos programas, o pouco cuidado na estréia menos prometeu do que comprometeu.


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