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MILITARES
Ministro nega favorecimento aos EUA na concorrência para caças da FAB
Sem decisão, Aeronáutica prevê até "apagão" na defesa
IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
Negando haver cartas marcadas
na concorrência para a compra
dos novos caças da FAB, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista,
disse ontem estar "muito preocupado" com a possibilidade de novos atrasos no processo. Em tom
dramático, previu o risco de um
"apagão" no sistema de defesa aérea brasileira.
"Pode haver a desativação do
GDA", disse, referindo-se ao Grupo de Defesa Aérea sediado na
Base Aérea de Anápolis (GO).
Desde 1972, os Mirage IIIEBR formam a linha de defesa do centro
político e econômico do país,
atuando numa área que inclui o
Sudeste industrial e Brasília.
Baptista e o ministro da Defesa,
Geraldo Quintão, concederam
entrevista ontem em Brasília para
falar sobre a compra dos 12 aviões
que substituirão os Mirage, que
estão caducando e serão aposentados até o fim de 2005.
O valor estimado é de US$ 700
milhões e disputam os russos Sukhoi Su-35 e MiG-29, o anglo-sueco Gripen, o norte-americano F-16 e o francês Mirage-2000BR. O
processo começou há pouco mais
de um ano, e deveria ter acabado
em maio, mas diversas revisões de
propostas o atrasaram.
Na entrevista, eles negaram a informação da revista ""IstoÉ" de
que os EUA teriam embutido na
aprovação do acordo com o Fundo Monetário Internacional a escolha do Gripen. Uma vez que o
F-16 estaria com chances reduzidas, o rival seria aceitável por ter
partes vitais feitas por empresas
norte-americanas. "É uma total
inverdade. O Brasil é soberano, e
vai ao FMI porque é sócio do fundo, não para atender a interesses
de outros países", disse Quintão.
Baptista quer processar a revista.
A preocupação da Aeronáutica
é de ordem política. Parlamentares do PPS e do PT já aventaram a
idéia de cancelar o processo de
compra dos aviões, e sugeriram
favorecer o Mirage, oferecido pela
francesa Dassault em parceria
com a brasileira Embraer.
O novo governo poderá suspender o processo de compra. Uma
vez que o Conselho de Defesa Nacional se reúna para finalizar o assunto, o caça escolhido passará
por um processo envolvendo os
financiamentos que durará até
dois anos até o pagamento em si.
Baptista negou também que tenha escolhido o caça sueco, conforme rumores do mercado. Não
foi comentado o acordo que estaria sendo costurado, segundo alguns dos concorrentes da disputa,
para eventualmente incluir o salvamento da Varig no negócio.
O relatório da FAB com a decisão final está pronto, disse o comandante, sem adiantar nada.
Teoricamente, o conselho pode
exigir uma licitação pública para
o processo, mas isso não deve
ocorrer porque a lei a dispensa em
casos de segurança nacional. E, na
prática, o processo de seleção
obedeceu regras de uma licitação
-ainda que não seja transparente para o público.
Quintão buscou afastar a idéia
de que a Embraer possa ser favorecida. "A Embraer é uma empresa privada. Como brasileiro, posso até torcer por ela, mas o fato é
que ela é apenas mais uma concorrente", disse. Baptista completou: "Gostaria que a Embraer
avançasse e pudesse, um dia, oferecer um avião desses [sozinha]".
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