São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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MILITARES

Ministro nega favorecimento aos EUA na concorrência para caças da FAB

Sem decisão, Aeronáutica prevê até "apagão" na defesa

IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA

Negando haver cartas marcadas na concorrência para a compra dos novos caças da FAB, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista, disse ontem estar "muito preocupado" com a possibilidade de novos atrasos no processo. Em tom dramático, previu o risco de um "apagão" no sistema de defesa aérea brasileira.
"Pode haver a desativação do GDA", disse, referindo-se ao Grupo de Defesa Aérea sediado na Base Aérea de Anápolis (GO). Desde 1972, os Mirage IIIEBR formam a linha de defesa do centro político e econômico do país, atuando numa área que inclui o Sudeste industrial e Brasília.
Baptista e o ministro da Defesa, Geraldo Quintão, concederam entrevista ontem em Brasília para falar sobre a compra dos 12 aviões que substituirão os Mirage, que estão caducando e serão aposentados até o fim de 2005.
O valor estimado é de US$ 700 milhões e disputam os russos Sukhoi Su-35 e MiG-29, o anglo-sueco Gripen, o norte-americano F-16 e o francês Mirage-2000BR. O processo começou há pouco mais de um ano, e deveria ter acabado em maio, mas diversas revisões de propostas o atrasaram.
Na entrevista, eles negaram a informação da revista ""IstoÉ" de que os EUA teriam embutido na aprovação do acordo com o Fundo Monetário Internacional a escolha do Gripen. Uma vez que o F-16 estaria com chances reduzidas, o rival seria aceitável por ter partes vitais feitas por empresas norte-americanas. "É uma total inverdade. O Brasil é soberano, e vai ao FMI porque é sócio do fundo, não para atender a interesses de outros países", disse Quintão. Baptista quer processar a revista.
A preocupação da Aeronáutica é de ordem política. Parlamentares do PPS e do PT já aventaram a idéia de cancelar o processo de compra dos aviões, e sugeriram favorecer o Mirage, oferecido pela francesa Dassault em parceria com a brasileira Embraer.
O novo governo poderá suspender o processo de compra. Uma vez que o Conselho de Defesa Nacional se reúna para finalizar o assunto, o caça escolhido passará por um processo envolvendo os financiamentos que durará até dois anos até o pagamento em si.
Baptista negou também que tenha escolhido o caça sueco, conforme rumores do mercado. Não foi comentado o acordo que estaria sendo costurado, segundo alguns dos concorrentes da disputa, para eventualmente incluir o salvamento da Varig no negócio.
O relatório da FAB com a decisão final está pronto, disse o comandante, sem adiantar nada.
Teoricamente, o conselho pode exigir uma licitação pública para o processo, mas isso não deve ocorrer porque a lei a dispensa em casos de segurança nacional. E, na prática, o processo de seleção obedeceu regras de uma licitação -ainda que não seja transparente para o público.
Quintão buscou afastar a idéia de que a Embraer possa ser favorecida. "A Embraer é uma empresa privada. Como brasileiro, posso até torcer por ela, mas o fato é que ela é apenas mais uma concorrente", disse. Baptista completou: "Gostaria que a Embraer avançasse e pudesse, um dia, oferecer um avião desses [sozinha]".



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