São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO

O estilo Milton Campos

RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES

A vitória do Marechal Dutra nas eleições presidenciais de 1945 arrancou do ex-presidente Artur Bernardes, uma frase antológica: "Nunca se viram tão poucos votos em meio a tantos brigadeiristas".
Após esta estrepitosa derrota do Brigadeiro Eduardo Gomes feriram-se, em 1946, as primeiras eleições diretas para os governos estaduais depois do Estado Novo.
A perspectiva era de uma nova vitória do PSD (Partido Social Democrático), que se constituíra com base na máquina administrativa do Estado Novo.
O PSD lançou o candidato Bias Forte.
E a UDN (União Democrática Nacional), depois de enorme hesitação, apresentou a candidatura do então deputado federal Milton Campos.
Milton Campos, como sempre, relutou em aceitar a indicação.
Curvou-se convencido de que não tinha a mínima chance de se eleger.
Tratava-se de uma candidatura simbólica para permitir uma campanha cívica e pedagógica contra o Estado Novo para preparar o eleitor para o pleito presidencial de 1950.
Em plena campanha, surge uma dissidência na base do PSD, liderada pelo grupo do deputado federal Carlos Luz, adiante engrossada pela turma do José Maria Alkimim.
E o jogo eleitoral mineiro se altera profundamente, abrindo a perspectiva para a vitória do Milton Campos.
Milton Campos, que concordara em ser candidato para perder, vê-se frente à possibilidade de ganhar.
Realista, mais que curvar-se à hipótese, saboreia a sabedoria de sua recusa e prepara-se para ganhar.
Acabou sendo eleito governador de Minas Gerais -a primeira eleição importante que a oposição ao Estado Novo ganhava no Brasil.
E que revelou ao país um político de escol, em torno do qual se produziu uma curiosa expressão para explicar a sua vitoriosa trajetória na vida pública - o dr. Milton Campos administra sua ambição política como um remador - de costas para o alvo, sem nunca perder o seu objetivo.


Raphael de Almeida Magalhães, 71, ex-governador da Guanabara e ministro da Previdência Social do governo José Sarney, escreve às quartas nesta seção



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