|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOLCLORE POLÍTICO
O estilo Milton Campos
RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES
A vitória do Marechal Dutra nas eleições presidenciais
de 1945 arrancou do ex-presidente Artur Bernardes, uma frase antológica: "Nunca se viram tão
poucos votos em meio a tantos
brigadeiristas".
Após esta estrepitosa derrota do
Brigadeiro Eduardo Gomes feriram-se, em 1946, as primeiras
eleições diretas para os governos
estaduais depois do Estado Novo.
A perspectiva era de uma nova
vitória do PSD (Partido Social
Democrático), que se constituíra
com base na máquina administrativa do Estado Novo.
O PSD lançou o candidato Bias
Forte.
E a UDN (União Democrática
Nacional), depois de enorme hesitação, apresentou a candidatura
do então deputado federal Milton
Campos.
Milton Campos, como sempre,
relutou em aceitar a indicação.
Curvou-se convencido de que
não tinha a mínima chance de se
eleger.
Tratava-se de uma candidatura simbólica para permitir uma
campanha cívica e pedagógica
contra o Estado Novo para preparar o eleitor para o pleito presidencial de 1950.
Em plena campanha, surge
uma dissidência na base do PSD,
liderada pelo grupo do deputado
federal Carlos Luz, adiante engrossada pela turma do José Maria Alkimim.
E o jogo eleitoral mineiro se altera profundamente, abrindo a
perspectiva para a vitória do Milton Campos.
Milton Campos, que concordara em ser candidato para perder,
vê-se frente à possibilidade de ganhar.
Realista, mais que curvar-se à
hipótese, saboreia a sabedoria de
sua recusa e prepara-se para ganhar.
Acabou sendo eleito governador de Minas Gerais -a primeira
eleição importante que a oposição ao Estado Novo ganhava no
Brasil.
E que revelou ao país um político de escol, em torno do qual se
produziu uma curiosa expressão
para explicar a sua vitoriosa trajetória na vida pública - o dr.
Milton Campos administra sua
ambição política como um remador - de costas para o alvo, sem
nunca perder o seu objetivo.
Raphael de Almeida Magalhães, 71,
ex-governador da Guanabara e ministro
da Previdência Social do governo José
Sarney, escreve às quartas nesta seção
Texto Anterior: Sem grandes emoções Próximo Texto: No Ar - Nelson de Sá: O delírio e o túmulo Índice
|