São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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NO AR

O delírio e o túmulo

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

O que não faltou ontem foi opinião sobre a estréia da propaganda. O mais definitivo -do alto de sua experiência- foi Boris Casoy:
- Um monólogo chatérrimo, com apelo emocional. É o delírio dos marqueteiros e o túmulo da verdade.
E assim foram: monólogos apelativos, com "conflito" entre o candidato e seu Gugu ou sua Patrícia Pillar. Mas é preciso avaliar, então segue.
Duda Mendonça tomou dois caminhos. À tarde, concentrou fogo numa única mensagem, emprego. Levou Lula a Angra dos Reis para dizer que, se eleito, as plataformas serão feitas no país por brasileiros empregados, e não em Singapura, como quer a Petrobras.
À noite, ficou mostrando João Sayad, José Alencar e vendendo a solidez, o equilíbrio do novo Lula. De quebra, lançou mais um primoroso clipe/comercial, com o sorriso aberto do petista e a frase sedutora:
- Chegou a hora, Brasil.
Com tempo e tudo mais em excesso, Nizan Guanaes e seus muitos colegas marqueteiros de José Serra foram para todo lado. O candidato falou em emprego, segurança pública, educação, saúde, exportação, sem esquecer a origem humilde.
Mas a opulência reluzente nas imagens e mensagens, apesar do protagonista sofrível, traziam a marca de Guanaes.
Um clipe/comercial revelou o poder de quem já elegeu duas vezes o presidente. Num abuso de superprodução, desfilaram artistas em suas personagens "populares", da televisão, da Globo ao SBT. Gugu louvou a "coragem" de Serra, que até já "escapou da morte".
Causou impacto sobretudo à noite, quando do lado contrário surgiu não Patrícia Pillar, como ocorreu no horário da tarde, mas Ciro Gomes.
Um Ciro até falante, tratando os brasileiros por "meus irmãos e minhas irmãs", num eco de "minha gente", e cercado de imagens em verde-e-amarelo, como aquelas que elegeram um presidente em 89.
Mas ele tem pouco, pouco tempo, relativamente.
 
Guanaes e Serra sabem que o destino pode ser decidido esta semana. Na estréia, lembraram até palavrões de Ciro.
 
Enquanto falava a operários de estaleiro, no horário diurno, o confiável Lula se encontrava com banqueiros na Febraban, como mostrou, entre outros, o Jornal Nacional.
Foi elogiado, segundo a CBN, pelo "discurso extremamente construtivo".



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