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REFORMA SOB PRESSÃO
Contrariando especialistas, ministro afirma que proposta marca início da redução da carga de tributos
"Projeto não é demagógico", reage Palocci
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) defendeu ontem a
proposta do governo de reforma
tributária dizendo que ela cria
condições para o crescimento
econômico e favorece os mais pobres sem ser "demagógica".
"Não é um projeto demagógico.
Tributa adequadamente quem
pode mais e menos quem pode
menos e é um projeto que se dirige diretamente à atividade econômica, procurando melhorá-la,
permitindo que o país cresça e se
desenvolva", afirmou.
A declaração foi dada após almoço com os líderes da base aliada ao governo na Câmara, quando o ministro ouviu queixas dos
parlamentares sobre o parecer do
relator da reforma, deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Como
não houve acordo, foi marcada
outra reunião para a noite. Nela,
ficou decidido que o relatório será
votado hoje na comissão especial.
Entre as medidas a favor dos
mais pobres, o ministro citou a
desoneração do consumo popular, o aumento da tributação sobre herança, a geração de empregos que seria propiciada pela redução de impostos incidentes sobre a folha de pagamento das empresas e a constitucionalização do
programa de renda mínima.
Pela proposta do governo, o número de alíquotas do ICMS cairá
de 44 para 5, a serem definidas pelo Senado. Ficarão entre os produtos menos tributados a cesta
básica e remédios. Já o imposto
sobre herança, que possui hoje
alíquota de 4%, passará a variar
conforme o valor herdado.
Segundo o ministro, um dos
efeitos da aprovação da reforma
seria frear o crescimento da carga
tributária. De acordo com ele, a
tributação no país teria crescido
1% do PIB por ano na última década, passando de 25,8% para
35,8% do PIB.
"Esse crescimento foi significativo e trouxe constrangimento para o desenvolvimento econômico.
O Brasil discute muito juros, mas
não discute muito tributação. [...]
Não podemos voltar dez anos em
dez dias, mas é preciso reordenar
o processo tributário e colocá-lo
em uma perspectiva de não aumentar mais tributos e, se possível, quando possível, reduzi-los.
Isso começamos a fazer com essa
reforma", afirmou Palocci.
A avaliação de especialistas, empresários e deputados da própria
base aliada é justamente o contrário. Segundo eles, com a unificação das alíquotas do ICMS haveria uma nivelação por cima na definição de quais produtos ficarão
em cada faixa.
Palocci refutou as críticas dos
governadores, que reivindicam
sobretudo a partilha da CMF, tributo que substituirá a CPMF
(Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira). "A
proposta enviada [ao Congresso]
não é do ministro da Fazenda ou
do presidente Lula. A proposta foi
assinada e apoiada por todos os
governadores."
O ministro disse que "a União
não pode deixar de garantir o
equilíbrio fiscal. É uma necessidade do país. O governo não pode
deixar de garantir que seu Orçamento, o controle de sua dívida e
a evolução do processo fiscal se
dêem de maneira adequada".
Aceno
O único aceno aos governadores foi a repartição da Cide, a contribuição sobre combustíveis.
"Há entendimento entre a União
e os governos estaduais de que a
Cide poderá, a partir do ano que
vem, destinar parcelas de seus recursos a obras viárias a cargo dos
governadores." Não está definido
se a partilha será feita por meio de
medida provisória. Para o ministro, isso pode ser feito por fora da
reforma tributária.
No final da reunião, realizada
no apartamento do líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo
(PC do B-SP), Palocci foi abordado, na portaria do prédio, pela representante de uma empresa produtora de café orgânico. Ele recebeu uma amostra do produto e foi
convidado a conhecer a empresa.
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