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Nova alíquota
não deve elevar
receita com o IR
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
A pretensão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, de
criar uma alíquota de 35% para o
Imposto de Renda de Pessoa Física, não vai surtir o efeito desejado,
ou seja, elevar a arrecadação do
tributo. O histórico da receita obtida com o tributo mostra que,
quando a tributação é simplificada e o número de alíquotas diminui, a arrecadação sobe.
A tributarista Elisabeth Lewandowski Libertuci, do escritório Libertuci Advogados, lembra que,
em 1989 a arrecadação do Imposto de Renda de Pessoa Física aumentou cerca de 25% pelo simples fato de o número de alíquotas
ter sido reduzido de 11 para 3 (incluída a faixa de isenção). Na ocasião, a maior alíquota foi reduzida
de 45% para 25% (depois, em
1998, ela passou para 27,5%).
"Quanto menor o número de
alíquotas, menor a resistência à
sonegação. Quanto menor a alíquota máxima, maior é a propensão ao pagamento do tributo por
parte dos contribuintes. Criar
mais uma alíquota, e ainda por cima alta, de 35%, é um retrocesso",
diz a advogada.
Em outras palavras, segundo
ela, o contribuinte raciocina da
seguinte forma: se a alíquota é
baixa, não compensa sonegar. No
caso, compensa pagar e não ter
problemas com o Fisco. Os números de 1989 mostram isso.
Universo reduzido
Segundo a tributarista, hoje
apenas cerca de 140 mil contribuintes em todo o país estariam
sujeitos à nova alíquota por ganharem mais de R$ 10 mil mensais . Pelo fato de serem poucos, o
resultado financeiro seria praticamente irrisório a cada ano.
Ela toma por base os números
da Receita Federal sobre as declarações entregues em 2000 (esse foi
o último ano em que a Receita divulgou números completos sobre
o perfil dos contribuintes).
Naquele ano, os 103 mil contribuintes que ganhavam mais de R$
10 mil por mês pagaram R$ 4,1 bilhões dos R$ 16 bilhões arrecadados das pessoas físicas. Assim, 1%
dos contribuintes pagaram 26%
do total.
Projetando esses números para
hoje, a tributarista chega aos 140
mil contribuintes que estariam na
faixa de R$ 10 mil mensais ou
mais. A alíquota efetiva desses
contribuintes e aqueles que ganham R$ 100 mil por mês (aqui
considerado um salário máximo)
ficaria entre 26% e 33%.
Pelos cálculos de Libertuci, o
imposto hoje pago por esse universo de contribuintes aumentaria de R$ 5,7 bilhões para R$ 6,1
bilhões por ano (média de 7% de
aumento). Os R$ 400 milhões por
ano representariam R$ 33,3 milhões por mês.
A tributarista diz que, enquanto
não houver uma melhor redistribuição da renda no país, não faz
sentido manter a tributação sobre
as pessoas físicas.
"Hoje, poucas pessoas ganham
muito, e muitas ganham muito
pouco. É preciso redistribuir a
renda no país para mudar esse
quadro. Na atual situação, compensaria mais elevar a alíquota da
CPMF (o imposto do cheque) e
acabar com o Imposto de Renda
das pessoas físicas."
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