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INTEGRAÇÃO OU FANTASMA?
Superintendência será recriada hoje por Lula; dinheiro desviado da autarquia não foi ressarcido
Sudam deixou prejuízo superior a R$ 3 bi
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A "nova" Sudam nasce hoje sem
que o cadáver da velha autarquia
tenha sido sepultado. Há investigações e auditorias em curso na
Receita Federal, no Ministério Público, na Polícia Federal e na Controladoria Geral da União. Entre a
malversação de incentivos fiscais
e a sonegação de tributos contabilizam-se, por ora, desvios superiores a R$ 3 bilhões. A cifra irá
crescer.
As autuações do Fisco somam,
por enquanto, R$ 560,8 milhões.
Referem-se apenas aos tributos
sonegados. A aplicação fraudulenta de incentivos roça os R$ 2,5
bilhões. Não há vestígio de um
único centavo restituído aos cofres públicos. Tampouco há notícia de fraudador preso.
Quando o escândalo da Sudam
estourou, em 2000, ainda sob Fernando Henrique Cardoso, havia
na autarquia cerca de 1.600 projetos ativos. As investigações alcançaram apenas 178 empresas.
Eram os casos mais críticos. Não
houve pessoal suficiente para ampliar as apurações.
Assim, ao anunciar hoje, em Belém, a recriação da Sudam, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
não pode assegurar que a carteira
de projetos ainda ativos esteja
completamente limpa. Auditores
da Receita estão convictos de que,
se dispusessem de estrutura para
ampliar as investigações, encontrariam novos desvios.
Decorridos três anos, a Receita
Federal concluiu apenas 88 das
178 auditorias que decidiu empreender. É nesse universo que
foram lavradas as multas de R$
560,8 milhões. Há outras 48 auditagens em curso e 42 por iniciar.
Os dados são do mês de julho.
Estima-se que, ao final do trabalho, os computadores do Fisco registrarão autuações superiores a
R$ 1 bilhão. O que alçará o escândalo à casa dos R$ 4 bilhões. É, seguramente, um dos maiores casos
de corrupção da história republicana.
Jader
O montante de desvios cresce se
forem consideradas as autuações
emitidas pela Receita em auditorias que, embora não tenham relação direta com projetos da Sudam, nasceram a partir do escândalo. Um exemplo: a pedido do
Ministério Público, o Fisco esquadrinhou as declarações de rendimentos do ex-senador e atual deputado federal Jader Barbalho
(PMDB-PA). Os autos de infração
somam R$ 30 bilhões.
Entre as "impropriedades" detectadas pelo Fisco está a "hipotética compra" de uma fazenda no
Pará. Chama-se Rio Branco. Jader
a teria comprado de José Osmar
Borges, campeão de fraudes na
Sudam, responsável pelo desvio
de mais de R$ 100 milhões.
Os auditores não encontraram
vestígio do trânsito dos R$ 600 mil
que Jader diz ter pago, em três
parcelas, pelas terras. O que tornaria a propriedade uma espécie
de presente de Osmar Borges para
Jader.
Dono de um império regional
de comunicações e de negócios
agrícolas, Jader foi alcançado na
pessoa física e em suas empresas.
Vasculharam-se dados relativos
ao período de 1997 a 2001. A apuração durou um ano e meio.
Foi apelidada pela Receita de
"Operação Sucuri". Uma referência à cobra que ingere mamíferos
triturando-lhe os ossos por compressão muscular. Jader se diz
perseguido. Questiona o trabalho
da Receita Federal. Seus advogados impetraram recurso contestando o débito.
De resto, o afunilamento das
apurações conduz os auditores da
Receita a uma fase mais delicada
do trabalho. Envolve grandes
conglomerados de São Paulo.
Mantida sob sigilo, a lista inclui
multinacionais e bancos de primeira linha.
São empresas que, tendo impostos a pagar, valeram-se da legislação para destinar os recursos
a projetos incentivados pela Sudam. Tornaram-se sócias das
fraudes. Receberam "dividendos"
de projetos que jamais registraram lucro. Estão sendo intimadas
a se explicar. Em pelo menos um
caso o Fisco considerou as justificativas "inconsistentes".
No Ministério Público e na própria Receita, a notícia da recriação
da Sudam é recebida com um pé
atrás. Considera-se que não há,
por ora, informações que justifiquem o otimismo oficial quanto à
propalada "blindagem" da nova
autarquia contra novas irregularidades.
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