São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Em jantar com empresários, Lula diz que vai manter Palocci no cargo

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Visivelmente abatido e muito diferente de seu habitual estilo descontraído, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fez discurso e se reservou a conversas paralelas com alguns poucos empresários durante o jantar, na sexta-feira à noite, em homenagem ao novo presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas e filho do vice-presidente da República, José Alencar.
Lula ficou a maior parte do tempo na biblioteca do apartamento do empresário Ivoncy Ioschpe, nos Jardins (zona oeste de SP). O tema principal no jantar, como não poderia deixar de ser, foi a crise política e as denúncias contra o ministro Antonio Palocci.
Lula manifestou indignação em relação às denúncias contra Palocci e deixou claro que está disposto a manter o ministro no cargo. O presidente considerou as acusações sem nenhum fundamento e ficou indignado com a forma com a qual ela foi divulgada pelo Ministério Público.
Lula manteve conversas com alguns poucos empresários, como Jorde Gerdau (Gerdau), Roger Agnelli (Vale do Rio Doce), Benjamin Steinbruch (CSN) e David Feffer (Suzano), José Roberto Ermírio de Moraes (Votorantim), e Paulo Setubal (Itaú).
Também participou do encontro o vice José Alencar, que ficou pouco tempo, por ordens médicas. Esteve presente ainda o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que também não permaneceu por muito tempo.
Chamou a atenção, entre os empresários, o fato de Alckmin ter atraído uma roda maior de convidados do que o presidente Lula.
O jantar se deu em dois ambientes. Um, a biblioteca, onde estava Lula, e outro o salão onde estavam os empresários, entre eles Paulo Skaf (Fiesp), Eugênio Staub (Gradiente) e Paulo Cunha (grupo Ultra). Apesar de ser um jantar para casais, Lula não foi acompanhado da primeira-dama, Marisa, e muitos dos empresários também não levaram suas mulheres.
O Iedi sempre se caracterizou por ser uma entidade voltada para os estudos do desenvolvimento do país. De seus 45 conselheiros, cerca de 25 estiveram no jantar.
A presença de Lula no jantar não foi bem recebida por muitos empresários. No salão principal, o clima era de total decepção e frustração com o governo. Alguns dos conselheiros do Iedi estiveram entre os poucos empresários que apoiaram Lula na eleição de 2002. Alguns deles chegaram a falar que foram traídos pelo governo.
Lula, como já está se tornando um hábito, lembrou os vários números positivos da economia. Disse que o país continuará crescendo e que a taxa de juros começará a cair ainda neste ano. Deixou claro ainda que está disposto a governar até o final do mandato.
Na outra roda, os comentários sobre a crise eram os mais variados. Para uma parte, o que está acontecendo é um misto de inépcia e incompetência do governo. Outra vertente dizia que o plano do PT era, no fundo, arrecadar recursos suficientes para transformar o país numa república socialista, e o mentor de tal plano seria o deputado José Dirceu.
Só não houve queixas em relação ao cardápio, assinado pelo chef Charlô Whately: risoto, bacalhau e carne, tudo acompanhado por vinho argentino.


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