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ELIO GASPARI
Sinhazinha antecedeu a cafetina
Pela primeira vez na história da República uma cafetina tornou-se personalidade federal. Jeany Mary Corner, com suas
garotas contratadas para animar
festas companheiras de Brasília,
indica que as cortinas das alcovas
oficiais começaram a ser abertas.
Não há razão para assombro.
Em matéria de "grandes horizontales", como diziam os franceses
do fim do século 19, Pindorama
tem uma personagem ímpar na
história mundial. É a linda morena que simboliza a República nas
notas de 2.000 réis de 1900, no
mandarinato de Joaquim Murtinho, ministro da Fazenda de
Campos Salles (1898-1902). Murtinho foi um tipo fantástico.
Era médico, solteiro, namorava
a sobrinha e vivia cercado de cães.
A rapacidade de sua gestão estabilizadora fez dele o patrono da privataria das ekipekonômicas que o
sucederam.
Segundo a denúncia de um deputado, a linda morena da nota
de 2.000 réis era uma "meretriz"
chamada Prates. (O caso está em
"A Formação das Almas" de José
Murilo de Carvalho. A ilustração
desta página foi feita com base na
nota). La Prates existiu, mas falta
saber mais dela.
Outra versão, surgida 40 anos
depois, conta que a morena chamava-se Sinhazinha. Fora uma
tiete de literatos paulistas. No Rio,
morava com a mãe, sem que se
saiba onde estava seu caixa dois.
Sinhazinha morou um tempo em
Paris, voltou doente e morreu esquecida. (O caso da moça está em
"Arquivo de Sombras", apaixonado estudo sobre Murtinho, de Fernando Antonio Faria.)
A libertinagem nacional tem
mulheres bonitas e muito dinheiro
da Viúva, mas faltam-lhe cronistas com talento e patronos com estilo. Gente como o escritor Emile
Zola (Naná) e o Duque de Morny,
meio-irmão de Napoleão 3º que
dormiu com tout Paris. Ninguém
haverá de esperar bons modos ou
boa literatura da gangue do mensalão.
Vale lembrar que a fama internacional dos endinheirados de
Pindorama tem viés de baixa. O
termo "rastaquouère" (rastaqüera, derivado do espanhol rastacuero) surgiu na "belle époque"
para designar a prodigalidade
vulgar de um potentado conhecido como "o brasileiro". O compositor Offenbach colocou-o na opereta "Vida Parisiense" dizendo
que vinha do Rio.
Idéia de jerico: jabá para Bicudo
Coisas de governo inepto, presidente de má mufa e chanceler de
muita esperteza:
O procurador Hélio Bicudo, ex-vice-prefeito de São Paulo, tem 83
anos de vida e 62 de serviços aos
três Poderes da República. Nos
anos 70, encarou o Esquadrão da
Morte do delegado Sérgio Fleury.
Teve o escritório varejado e uma
casa invadida. Em 1980, Bicudo
esteve entre os fundadores do PT
e dois anos depois foi candidato a
vice-governador na chapa em que
Lula disputou o governo de São
Paulo. Advogou junto à justiça
dos homens em defesa do cardeal
Paulo Evaristo Arns e junto ao
Papa em defesa de frei Leonardo
Boff.
No ano passado, Lula fez saber
que pretendia nomeá-lo para um
cargo no exterior. Durante uma
audiência, Bicudo expôs-lhe, por
escrito, seu desejo de chefiar uma
representação do Brasil em Genebra, cuidando de assuntos políticos da ONU, sobretudo aqueles
relacionados com os direitos humanos.
Meses depois, Bicudo recebeu
um telefonema do chefe-de-gabinete do chanceler Celso Amorim
oferecendo-lhe um lugar no Conselho da Unesco. O diplomata disse-lhe que a boquinha assegurava
três viagens a Paris por ano. Bicudo recusou, escreveu uma carta a
Amorim e mandou cópia a Lula.
Nenhum dos dois respondeu.
Lula não precisava tirar o corpo
fora. Podia dizer a Bicudo que,
tendo nomeado o deputado Paes
de Andrade embaixador em Lisboa, não pretendia indicar notáveis de fora da carreira para funções diplomáticas. Não precisava
oferecer um jabaculê intermediado na retórica da petecagem.
Pede um, leva dois
A percentagem de grão-petistas que não sabia das malfeitorias de Delúbio Soares e José Dirceu é a mesma dos
generais que, durante a ditadura, não sabiam que se torturavam e assassinavam
presos políticos em quartéis
do Exército. Cada um pode
conviver com a percentagem que quiser, mas tem
que levar as duas. Lula não
sabia da roubalheira. Tudo
bem, e o general Emílio Medici, presidente de 1969 a
1974, também não sabia que
havia tortura. Lula diz assim: "Um presidente não
pode saber de tudo o que
acontece nos bastidores do
governo". Em 1970, numa
audiência com d. Eugenio
Salles, o presidente Medici
disse assim: "Veja a minha
situação. Acontece uma coisa no Piauí, como é que vou
saber?"
Usiminas aborrecida
A siderúrgica Usiminas foi
apanhada depositando R$
102 mil na caixinha de Marcos Valério, em benefício da
campanha de 1998 do pefelê
Roberto Brant. Seria razoável que a companhia explicasse porque o dinheiro dos
acionistas foi usado numa
contravenção política e fiscal. Nada. Outro dia, o presidente da Usiminas, Rinaldo
Campos Soares disse o seguinte: "Estamos muito
aborrecidos com o que se está falando por aí. Nos reservamos o direito de não fazer
comentários". O doutor
Campos Soares não entendeu. Aborrecida está a patuléia, a menos que ele diga
que Brant mentiu ao atribuir o ervanário à sua dissimulada generosidade.
Lula 2006
Se Lula disputar a reeleição,
acrescentará um item ao seu
bordão: "Todo brasileiro
tem direito a três refeições
por dia e a um carro blindado igual ao do tesoureiro do
PT".
Comissário do caos
José Dirceu tem um componente destrutivo em sua biografia que não deve ser esquecido por seus companheiros. Sua participação na
montagem do congresso
clandestino da UNE em
Ibiúna, em 1968, é o exemplo mais remoto desse traço.
O episódio, transformado
em apoteótico sacrifício, foi
um ato deliberado de imolação do movimento estudantil. Ou alguém acha que se
pode organizar um encontro clandestino de 900 pessoas num lugar deserto?
Dirceu sabia que o governador de São Paulo, Abreu Sodré, poderia tolerar uma
reunião no Conjunto Residencial da USP. O governo
Lula ele já detonou (com a
ajuda do companheiro).
Falta detonar um eventual
futuro do PT.
Paganismo cultural
Quando o governador Aécio
Neves estiver em Belo Horizonte, talvez tenha tempo
para cuidar de um indicador
de decadência de seu governo. Quando a Secretaria de
Cultura era ocupada pelo
advogado Luiz Roberto
Nascimento Silva, um programa de defesa da memória mineira reduziu a zero os
furtos de obras sacras em
igrejas e recuperou 240 peças capturadas por colecionadores e delinqüentes.
Nascimento Silva deixou o
governo em fevereiro passado. Desde então, nenhuma
nova peça foi recuperada.
Até aí tudo bem. Agora entrou numa nova fase: a igreja
de Nossa Senhora do Nazaré, em Mariana, foi roubada.
Mensalizaram cinco imagens e diversos castiçais.
Don Delúbio do PT
O voto de silêncio de Delúbio Soares na CPI teve um
eco da velha omertá da máfia italiana. Assim como no
assassínio de Celso Daniel
ecoou a vendetta. Só falta
começar a briga de famílias
dos chefões.
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