São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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VINAGRE

Ele guarda até hoje garrafa de Romanée-Conti

Vendedor de vinho a Duda se decepcionou

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A garrafa de vinho tinto francês Romanée-Conti safra 1997 que o publicitário Duda Mendonça deu ao então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, ainda existe. Vazia, naturalmente. Ela fica guardada no escritório que o italiano Luciano Pessina mantém em seu restaurante, o Osteria dell'Angolo, em Ipanema (zona sul do Rio de Janeiro).
Depois de comemorar seu desempenho no debate realizado pela TV Globo na noite de 4 de outubro, Lula saiu do restaurante às 4h15 do dia 5 deixando para trás a garrafa vazia. Cheia, ela tinha custado a Duda cerca de R$ 6.000- hoje, custa R$ 6.775 na única importadora brasileira do vinho.
"Guardei a garrafa como lembrança de uma noite especial", conta Pessina, dizendo-se "perplexo" com as revelações sobre o esquema PT-Marcos Valério. "Se eu fosse brasileiro, teria votado em Lula. Hoje, estou decepcionado. Estamos vendo no que deu a "realpolitik" de José Dirceu", afirma ele, 57 anos e há 23 no Brasil.
O Romanée-Conti foi o primeiro símbolo do que se convencionou chamar de deslumbramento do PT. Com o partido no poder, vieram os charutos Cohiba -os preferidos de Delúbio Soares-, as toalhas de linho egípcio e o Land Rover que o ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira, ganhou de presente da construtora GDK.
Duda e Lula foram muito criticados por causa do Romanée-Conti. O então candidato do PT tinha, poucas horas antes, falado na TV sobre problemas sociais que pretendia resolver, e ilustrado seu discurso com a história de uma mulher que lhe pedira esmola com uma criança na escola.
"Duda disse que o vinho era um presente para o [então coordenador da campanha, Antonio] Palocci, que estava fazendo aniversário. O Lula só deu um gole e depois ficou bebendo uísque. Mas os repórteres perguntaram o que tinha sido bebido na mesa, um garçom mostrou a garrafa, descobriu-se o preço, e a história correu", relembra Pessina.
Segundo ele, cerca de 20 pessoas participaram da comemoração, incluindo a então governadora do Rio, Benedita da Silva, e artistas que jantavam em outras mesas, como Gilberto Gil, que se tornaria ministro da Cultura. Ele não se lembra de quem escreveu, mas está assinalado no rótulo da garrafa: "Lula-Lá 05/10".
Pessina diz que não tem garrafas de Romanée-Conti em sua adega, pois não trabalha com vinhos de mais de R$ 1.000. "Não devem haver muitas no Rio", acredita.


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