São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula evita aparecer ao lado de João Paulo em comício

Presidente ignora pedidos de população em Osasco, base eleitoral de mensaleiro

Ex-presidente da Câmara sofreu processo de cassação por envolvimento no caso do mensalão e foi absolvido pelos votos dos seus pares

MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a coordenação de campanha do PT evitaram ontem que ele fosse filmado ou fotografado próximo ao ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, que teve seu nome envolvido no escândalo do mensalão. Lula fez um comício em Osasco, reduto eleitoral de João Paulo que reúne quase meio milhão de eleitores.
O deputado subiu no palanque minutos antes de Lula chegar e foi anunciado como "o orgulho de Osasco" pelo mestre-de-cerimônias. Porém, ficou escondido atrás do palanque enquanto seus correligionários, incluindo Lula, discursavam. Lula mencionou João Paulo uma única vez, mas evitou pedir votos para deputados.
A situação provocou constrangimento, já que os eleitores presentes no comício carregavam bandeiras e fotos de João Paulo. Uma mulher, no meio da multidão, gritou: "Chama o João Paulo, Lula!".
O deputado só foi citado quando Lula mencionou sua relação com Osasco: "Vim aqui quando eu perdi, quando o Emídio [de Souza, atual prefeito] perdeu, eu vim aqui quando o João Paulo perdeu".
Ao final do discurso, depois de pedir votos para o candidato ao governo do Estado, Aloízio Mercadante, e o senador Eduardo Suplicy, Lula disse: "A gente vai ganhar as eleições aqui em São Paulo, e também eleger os nossos deputados. Vocês sabem que eu não posso ficar fazendo propaganda de deputado porque tem muitos aqui atrás. Mas tem que votar nos nossos companheiros".
Em seguida, Lula foi interrompido pela multidão, que gritava "João Paulo, João Paulo". Ainda assim, o presidente evitou citar o nome do aliado. "Se tivesse tanta gente assim gritando o meu nome, já estava eleito", limitou-se a comentar.
Para evitar maior saia-justa Lula apelou para a mulher, Dona Marisa: "Olha gente, deixa eu terminar aqui porque a dona Marisa é brava e, se eu não chegar em casa para almoçar, vocês sabem que o pau quebra".
João Paulo misturou-se à multidão, mas também fugiu da imprensa. Como presidente da Câmara, o petista foi aliado importante de Lula na votação das reformas da Previdência e tributária. Foi ainda peça central na prévia em que Mercadante e Marta Suplicy disputavam a vaga de candidato ao governo paulista. Lula negociou diretamente o apoio de João Paulo a Mercadante.
O nome de João Paulo apareceu na lista de Marcos Valério como receptor de R$ 50 mil. O petista se defendeu dizendo que o dinheiro foi disponibilizado pelo PT e usado para pesquisas eleitorais. Ele foi absolvido pela Câmara no processo de cassação do seu mandato. O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, incluiu, no entanto, seu nome entre os 40 acusados no inquérito do mensalão.

Paiol
Mesmo citando indiretamente seus adversários do PSDB, Lula afirmou que não vai responder a desaforos. "Podem provocar, podem baixar o nível da campanha o quanto quiserem, podem colocar quantas denúncias quiserem na televisão. Eu não moverei uma palha contra eles porque vocês moverão o paiol inteiro contra eles."
Lula repetiu que é vítima de preconceito das elites e se apresentou como "presidente republicano". Mas deixou claro que prioriza as classes mais baixas.
"Um presidente da República não tem o direito de pensar em prejudicar ninguém. Quando olha para um empresário, olha para o mais rico e para o mais pobre. Tem que encarar todos eles como filhos brasileiros", disse. Só que na hora de repartir o pão, acrescentou, quem tem menos ganha mais.
O presidente insinuou ontem que a imprensa manipulada informações. "Eu muitas vezes estou meio chateado. Porque no comício eu vejo uma coisa. No outro dia, eu leio e não vejo na imprensa o que eu vi. Às vezes tenho a impressão de que nós estamos em comícios diferentes", disse.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.