|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula evita aparecer ao lado de João Paulo em comício
Presidente ignora pedidos de população em Osasco, base eleitoral de mensaleiro
Ex-presidente da Câmara sofreu processo de cassação por envolvimento no caso do mensalão e foi absolvido pelos votos dos seus pares
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a coordenação de
campanha do PT evitaram ontem que ele fosse filmado ou fotografado próximo ao ex-presidente da Câmara João Paulo
Cunha, que teve seu nome envolvido no escândalo do mensalão. Lula fez um comício em
Osasco, reduto eleitoral de
João Paulo que reúne quase
meio milhão de eleitores.
O deputado subiu no palanque minutos antes de Lula chegar e foi anunciado como "o orgulho de Osasco" pelo mestre-de-cerimônias. Porém, ficou
escondido atrás do palanque
enquanto seus correligionários, incluindo Lula, discursavam. Lula mencionou João
Paulo uma única vez, mas evitou pedir votos para deputados.
A situação provocou constrangimento, já que os eleitores
presentes no comício carregavam bandeiras e fotos de João
Paulo. Uma mulher, no meio da
multidão, gritou: "Chama o
João Paulo, Lula!".
O deputado só foi citado
quando Lula mencionou sua
relação com Osasco: "Vim aqui
quando eu perdi, quando o
Emídio [de Souza, atual prefeito] perdeu, eu vim aqui quando
o João Paulo perdeu".
Ao final do discurso, depois
de pedir votos para o candidato
ao governo do Estado, Aloízio
Mercadante, e o senador
Eduardo Suplicy, Lula disse: "A
gente vai ganhar as eleições
aqui em São Paulo, e também
eleger os nossos deputados. Vocês sabem que eu não posso ficar fazendo propaganda de deputado porque tem muitos aqui
atrás. Mas tem que votar nos
nossos companheiros".
Em seguida, Lula foi interrompido pela multidão, que
gritava "João Paulo, João Paulo". Ainda assim, o presidente
evitou citar o nome do aliado.
"Se tivesse tanta gente assim
gritando o meu nome, já estava
eleito", limitou-se a comentar.
Para evitar maior saia-justa
Lula apelou para a mulher, Dona Marisa: "Olha gente, deixa
eu terminar aqui porque a dona
Marisa é brava e, se eu não chegar em casa para almoçar, vocês
sabem que o pau quebra".
João Paulo misturou-se à
multidão, mas também fugiu
da imprensa. Como presidente
da Câmara, o petista foi aliado
importante de Lula na votação
das reformas da Previdência e
tributária. Foi ainda peça central na prévia em que Mercadante e Marta Suplicy disputavam a vaga de candidato ao governo paulista. Lula negociou
diretamente o apoio de João
Paulo a Mercadante.
O nome de João Paulo apareceu na lista de Marcos Valério
como receptor de R$ 50 mil. O
petista se defendeu dizendo
que o dinheiro foi disponibilizado pelo PT e usado para pesquisas eleitorais. Ele foi absolvido pela Câmara no processo
de cassação do seu mandato. O
procurador-geral da República,
Antonio Fernando Souza, incluiu, no entanto, seu nome entre os 40 acusados no inquérito
do mensalão.
Paiol
Mesmo citando indiretamente seus adversários do
PSDB, Lula afirmou que não vai
responder a desaforos. "Podem
provocar, podem baixar o nível
da campanha o quanto quiserem, podem colocar quantas
denúncias quiserem na televisão. Eu não moverei uma palha
contra eles porque vocês moverão o paiol inteiro contra eles."
Lula repetiu que é vítima de
preconceito das elites e se apresentou como "presidente republicano". Mas deixou claro que
prioriza as classes mais baixas.
"Um presidente da República não tem o direito de pensar
em prejudicar ninguém. Quando olha para um empresário,
olha para o mais rico e para o
mais pobre. Tem que encarar
todos eles como filhos brasileiros", disse. Só que na hora de
repartir o pão, acrescentou,
quem tem menos ganha mais.
O presidente insinuou ontem que a imprensa manipulada informações. "Eu muitas vezes estou meio chateado. Porque no comício eu vejo uma
coisa. No outro dia, eu leio e
não vejo na imprensa o que eu
vi. Às vezes tenho a impressão
de que nós estamos em comícios diferentes", disse.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frases Índice
|